Em tempos de extremismos, atos de solidariedade são fundamentais para amenizar o sofrimento das pessoas, socorrer quem precisa de ajuda
Empatia. A palavra que tanta gente fala e disse ao longo desses mais de 365 dias da pandemia do novo coronavírus pode ser colocada em prática pelas mãos de quem está na linha de frente no combate à doença. Isso ocorreu com Vera Estefanói, de 54 anos, que precisou ser internada após testar positivo para a doença e ter 55% de seus pulmões comprometidos. No entanto, a história não terminou por aí. Vera, que mora sozinha em Bento Gonçalves, precisou ficar duas semanas internada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), em razão dos problemas respiratórios.
Dos males, não pode se dizer que foi o menor. Mas havia outra preocupação que a afligia: sua gata de estimação e companheira de 12 anos, que ficaria sozinha durante todo esse tempo, podendo até morrer de fome, sede e de solidão. “Para mim não adiantaria sair de lá bem e chegar em casa e não encontrar a minha filha. Na UPA fiquei com o oxigênio durante todo o tempo”, pontua. Foi então que a palavra empatia entrou em ação. Para amenizar o sofrimento de Vera, a enfermeira da UPA, Liziane Fermini, de 46 anos, não pensou duas vezes: se disponibilizou a ir, diariamente, até o apartamento da paciente para alimentar e dar carinho ao animal que sentia a falta da dona.
Segundo Liziane, Vera chegou à UPA com a capacidade pulmonar comprometida e, além disso, preocupada com seu animal de estimação. Vendo a situação da paciente, a enfermeira que atua há mais de 20 anos na área se prontificou em ajudar. “Ela internou na UPA e aí começou a chorar, porque ela precisava de alguém para cuidar da gatinha, para dar comida e água para ela. Eu fui e ela me deu a chave como se estivesse dando para a família. Eu então vinha todos os dias e se precisava vinha de noite também, mas todos os dias eu enviava vídeos da gata pra ela”, recorda. “Ela me deu a chave sem me conhecer, confiou muito em mim. Eu me coloquei no lugar dela por também viver sozinha, e por pensar que em algum dia também poderia passar por uma situação assim”, conta.
Após a alta hospitalar, as duas ainda se reencontraram. “Com essa experiência que eu tive, fica a lição de que existe pessoas boas, e podemos encontrar um anjo em qualquer lugar, não existe só pessoas ruins no mundo. É um anjo que caiu do céu sem asas. Se eu não achasse ninguém lá eu teria saído correndo de lá e iria piorar o meu quadro. É bonito ela ter salvado a minha vida e a vida da minha gata”, recorda Vera. “Eu, por exemplo, ajudei muita gente nessa pandemia. Precisamos ajudar mais os outros, sermos solidários. Acho bonito a humanidade ser assim”, salienta.
Foto: Rodrigo De Marco
Foto: Rodrigo De Marco