Em 2021, já foram registrados 108 atendimentos no Centro Revivi. Apenas no mês passado, 45 mulheres buscaram ajuda
Após o término dos 31 dias de março, considerado o mês da mulher, cabe refletir a respeito dos dados sobre a violência doméstica em Bento Gonçalves. Desde o início de 2021, 108 atendimentos já foram realizados pela Coordenadoria da Mulher e Centro Revivi, 45 apenas no mês passado.
Segundo a coordenadora do órgão público, Patricia da Rold, por conta da agressão, violência doméstica, psicológica, moral, patrimonial, a procura por ajuda das mulheres tem aumentado muito. “A maioria delas vão direto à delegacia da mulher fazer ocorrência, depois eles as encaminham para nós. Algumas já vêm direto para cá, por conta própria, porque conhecem o serviço ou tem indicação de algum amigo ou familiar”, explica.
A possibilidade, de acordo com Patricia, é de que o aumento seja em função da pandemia. “As circunstâncias tem feito com que o convívio com os companheiros seja mais duradouro, e então, os momentos de tensão em casal crescem também”, acredita.
Apesar disso, ainda existem mulheres com medo de denunciar a violência. “Muitas, inclusive, não acreditam na eficácia das medidas protetivas ou na rede de apoio. Às vezes, acontece de saberem que uma mulher foi vítima e tinha a proteção, mas é preciso reforçar sempre que as medidas protetivas ajudam as mulheres. A maioria das usuárias dos nossos serviços dizem que os agressores se afastaram em função da ordem de distanciamento”, salienta.
Denunciar pode salvar vidas
Vale ressaltar que todas as mulheres que possuem medidas protetivas contam com o apoio da patrulha Maria da Penha na Capital do Vinho, que faz rondas periódicas nas casas para averiguar a situação. “A gente orienta que quem deseja fazer uma denúncia pode ir diretamente à Delegacia da Mulher registrar ocorrência, como pode vir ao Centro Revivi, telefonar para nós, ou também ligar no 180, um número federal para atendimento a vítimas de violência doméstica”, incentiva.
A coordenadora do Centro Revivi afirma que as mulheres que perdem o medo procuram ajuda, porque ‘não aguentam mais’. “O convívio na pandemia está piorando a situação que elas já viviam, e as que já conhecem o serviço da rede de apoio sabem que vão poder contar com a delegacia da mulher, com o fórum, a patrulha e com os serviços psicossociais”, garante Patricia da Rold.
Além disso, o maior medo das vítimas é que, ao registrar a ocorrência, os homens fiquem com mais raiva e voltem a praticar agressões piores. “A gente tem que fazer com que elas compreendam que isso não é verdade, acontece em casos esporádicos. Na maioria das vezes, eles se intimidam e se afastam, porque quando são intimados ficam cientes que, no descumprimento das medidas, podem ser presos”, ressalta.
Ato de coragem
O aumento de casos registrados, para Patricia, não são um sinal ruim, pois quer dizer que há mais coragem para procurar ajuda. “Ficamos tristes por um lado, porque enxergamos os números da violência, mas temos que ver o lado positivo, que é as mulheres estarem se encorajando mais, percebendo o que não querem, tomando atitude. Não é fácil para uma mulher ir até a delegacia registrar ocorrência, depois serem encaminhadas para os nossos serviços. A gente percebe que é muito difícil, pois muitas amam seus companheiros”, conclui.
Ciclo da violência
Segundo Patrícia, o ciclo da violência se divide em três fases:
1ª – Tensão: O agressor começa a ficar nervoso, a xingar, discutir.
2ª – Agressão física: Um passo mais grave, onde normalmente as mulheres procuram ajuda.
3ª – Lua de mel: Quando o agressor pede desculpas, se mostra arrependido, diz que não tem a intenção e que o ato de violência nunca mais vai se repetir.
Números no RS
O número de denúncias de violência contra a mulher feitas por meio dos canais Disque 100, Ligue 180 e aplicativo Direitos Humanos Brasil chegou a 6.299 no Rio Grande do Sul no primeiro semestre de 2020, o quinto maior número do país, segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. O tipo de violência mais denunciada no Estado no período foi a psicológica (32%), seguida da física (29%).
O estudo “Igualdade de gênero: observações iniciais sobre os efeitos da pandemia” destaca o impacto do isolamento social na redução do registro de ocorrências, especialmente a partir do segundo trimestre do ano, em função da necessidade de denúncia presencial para a maior parte delas. Entre os tipos de agressão computados pela Secretaria de Segurança Pública (ameaça, lesão corporal, estupro, feminicídio tentado e feminicídio consumado), todos apresentaram redução com exceção de estupro, que aumentou 8,7% em 2020 na comparação com 2019, com um total de 1.863 registros.
Canais de denúncia
Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher: (54) 3454-2899
Centro Revivi: (54) 3055-7418/ (54) 3055-7420/ WhatsApp – (54) 99132-8148