A propaganda na Itália, falava no “paese de la cucagna” – O país da fartura. Num dos cartazes afixados no porto de Gênova, o desenho sugere que a comida caía do céu. Nos folhetos de propaganda, prometia-se transporte gratuito, hospedagem, assistência durante os primeiros tempos, instrumentos de trabalho, sementes, assistência médica, instrução para as crianças e crédito para comprar um lote de terra.
Aliciar imigrantes para a América tornara-se um bom negócio na Europa, desde 1830. Consequência direta da Revolução Industrial, em todos os países havia numerosa população excedente no campo e nas cidades. De outro lado havia um mercado para a mão-de-obra barata se abrindo na América devido às crescentes restrições ao tráfico de escravos africanos. E havia uma estrutura escravista com mais de um século de experiência no transporte de cargas humanas, que estava ficando ociosa.
Recém-unificada e em transição acelerada do feudalismo para o capitalismo, com quase 30 milhões de habitantes, a Itália era o melhor desses mercados de mão-de-obra barata e em grande número em 1870. Milhões de italianos tinham bons motivos para acreditar em qualquer proposta, até mesmo no paraíso terrestre. Eram camponeses despojados de suas terras, artesões superados pelas máquinas, pobres e suas proles numerosas que se amontoavam nas cidades. Ameaçados pela fome, parecia não havia lugar para eles naquele mundo em transformação. “Para fazer fogo, para cozinhar os alimentos, tinham que secar esterco de gado… e também para defender-se do frio, muitos dormiam juntos aos animais”. As novas leis sobre a terra, na Itália, favoreciam os grandes proprietários e oneravam os camponeses, que perdiam suas glebas, pelos altos impostos. Nas cidades, os pequenos artesãos não tinham amparo.
Em 1874, quando os primeiros camponeses chegaram ao Rio Grande do Sul, mais de 350 mil italianos já haviam saído para outros países.
“A brava gente, chegavam ao Brasil e ao Rio Grande do Sul, fugindo da pelagra, sonhavam com o país da fartura”…
Nos 25 anos seguintes, quase 4 milhões saíram da Itália, um milhão para o Brasil.
O Rio Grande do Sul recebia 84 mil imigrantes italianos até o final do século.