Preço do combustível subiu cerca de R$ 0,65 nas refinarias, apenas entre janeiro e fevereiro de 2021
Em menos de dois meses de 2021, o preço da gasolina já subiu quatro vezes. Se no fim do ano passado a média do litro na Petrobras era R$ 1,84, atualmente está custando R$ 2,49, significando um aumento de cerca de 35%. Em Bento Gonçalves, quem depende de veículos para se locomover costuma pagar cerca de R$ 5,35 no valor final do combustível.
O professor de economia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Mosár Leandro Ness, explica que a gasolina é um bem de primeira necessidade que, ao lado da energia elétrica e outros combustíveis, alimenta o processo produtivo. “Além disso, o preço da gasolina é administrado pela Petrobras, e sofre uma pesada carga fiscal do Governo Federal e estados. Pesa também no cálculo do preço do insumo a condição de que o custo de produção é calculado em dólares, já que tanto as plantas de extração e refino tem em sua estrutura navios e plataformas que são arrendados de companhias internacionais. As mesmas cotam os serviços em moeda estrangeira”, argumenta.
Nos últimos meses, a aceleração da relação entre o real e o dólar impactou no preço cobrado na bomba. “Embora o Brasil seja um país considerado autossuficiente na produção de petróleo, existe um conflito nesse mercado. Enquanto se exporta o petróleo cru daqui, o país adquire cada vez mais seus produtos refinados. São importados cerca de 500 mil barris de derivados de petróleo por dia, a maior parte produzida nos Estados Unidos. Essa é uma das razões que explica a grande variabilidade no preço da gasolina, já que uma parcela significativa é importada”, expõe.
Queda de ações
No início da semana, após o presidente Jair Bolsonaro ter indicado o general e ex-ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna, para presidir a Petrobras no lugar de Roberto Castello Branco, as ações da estatal caíram cerca de 20%. Além disso, o Ibovespa caiu 4,87%.
Sobre a mudança, Ness afirma que, apesar de legítima em termos legais, ela foi intempestiva, já que não era esperada pelo mercado. “Da forma que foi feita causou instabilidade entre os investidores, que passaram a temer uma intervenção forte do governo na política de reajustes do preço dos combustíveis. E isso fez com que muitos deles vendessem suas posições e o valor das ações caiu”, salienta o economista.
A população entende os aumentos?
O professor destaca que embora a companhia tivesse liberdade para executar uma política de reajustes de forma autônoma, sem interferência política, nunca ficou claro para a população como os preços são reajustados. “Já que em determinados momentos o preço, como no último mês, sofreu aumentos repetidos”, observa.
Quais impostos você paga?
No Rio Grande do Sul, 45,0% do preço da gasolina corresponde a impostos federais e estaduais. O estado tem o preço médio da gasolina comum em R$ 5,161 para um município da Serra Gaúcha. Deste valor, R$ 0,77 vai para o Governo Federal em impostos como Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), Programa de Integração Social e o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pis/Pasep) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).
Além disso, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), os revendedores ganham R$ 0,62, a Petrobras recebe R$ 1,50, o etanol consome R$ 0,72 e R$ 1,55 vai para o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Para Ness, o peso do estado sobre o cidadão é distribuído de forma regressiva, onde quem ganha menos, proporcionalmente, paga mais impostos do quem tem uma renda maior. “Some-se a isso o fato de que a maior parte dos bens de consumo são transportados por via terrestre, fato que acaba por se transferir indiretamente para os preços dos mesmos. Não há como negar que existe uma forte inversão de valores, em termos tributários sobre o preço dos combustíveis”, observa.
Preço varia entre R$ 5,37 a R$ 5,59 em Bento
O levantamento semanal realizado pelo Procon de Bento Gonçalves mostra que o preço do litro da gasolina comum pode ser encontrado na cidade entre valores que variam de R$ 5,37 a R$ 5,59. A informação foi divulgada nesta quinta-feira, 25, após pesquisa realizada em 31 postos de combustíveis da cidade.
Além do produto comum, o tipo aditivado também foi pesquisado: neste caso, o valor fica entre R$ 5,37 (mais barato) e pode alcançar R$ 5,79 em alguns estabelecimentos.
Se comparados a quarta semana de dezembro do ano passado, onde o litro do tipo comum era encontrado entre R$ 4,65 a R$ 4,79, o aumento foi de 15,48%. Entre janeiro e fevereiro, o aumento do combustível chega a 12,10 nas bombas bento-gonçalvenses. Já para a gasolina aditivada, o reajuste foi de 11,18% em dezembro de 2020 e 9,81% no mês passado.
O Procon também divulgou a variação de preços da gasolina em Garibaldi. O mínimo é R$ 5,39 e o preço máximo R$ 5,59. Para a aditivada, o preço varia entre R$ 5,53 a R$ 5,69.
Ainda vale a pena ter veículo próprio?
A gasolina é um parâmetro de custo para o transporte urbano, de acordo com Ness. Em caso de táxis, por terem um preço por bandeiras, ele não é reajustado em função do aumento no valor. “O que acontece nesse caso é redução da margem de ganho do taxista. Já os aplicativos apresentam um valor variável por demanda e que também considera o preço do combustível”, destaca.
Dessa forma, tanto na opção de deslocamento em veículo próprio ou utilizando outros meios como transporte coletivo, táxi ou aplicativo, o preço para se locomover é alto. “A diferença está no fato de não haver necessidade de imobilizar recursos na aquisição do veículo, nem o pagamento de impostos, seguros e manutenção com esse. Se observarmos por esse ângulo, é uma opção interessante de ser analisada”, acredita.