De um time de futebol, fundado em 1956 por um grupo de amigos, com o nome de Botafogo, nasceu também o nome do bairro. Na década de 60, o local estava prestes a ser batizado de Isabela, uma vez que a fábrica de massas, na época instalada lá, começava a ficar conhecida. Entretanto, o sócio fundador do clube, Aldino Troian, fez uma placa com o atual nome e a afixou, dando à localidade o mesmo nome do time.
De lá para cá, o local se desenvolveu, fruto do trabalho árduo dos habitantes. A família Maso é um exemplo de antigos e tradicionais moradores, já que estão lá há 70 anos. “A nossa história foi formada aqui. Acompanhamos o crescimento do bairro, crescemos juntos. O Botafogo faz parte dos nossos corações”, orgulha-se o aposentado Dalci Maso.
Os pais dele, Antônio Francisco Maso e Maria Tonin Maso (In Memorian) criaram os seis filhos na residência que construíram em 1961, mesma onde permanece morando com a esposa, Dilce Maria Scalon Maso, 68 anos, com a sogra Olga Ranzi Scalon, 98 anos e com o sobrinho afilhado, Diego Scalon, 36 anos.
Satisfeito com a infraestrutura que o local oferece, Maso ressalta que o bairro é completo, tendo serviços em quase todas as áreas. “Temos bancos, farmácias, supermercados, lancheria e restaurantes, fruteiras, lojas comerciais no ramo de materiais de construção elétricos, equipamentos e máquinas agrícolas. Temos também academias, creches, clinicas estéticas e odontológicas”, cita.
Outro destaque positivo valorizado pelo aposentado é quanto a limpeza das ruas. “Podemos contar com a boa participação de todos os moradores, acompanhada de um excelente sistema de coleta de lixo diário, tanto orgânico quanto seletivo”, elogia.
Contudo, Maso reivindica por mais segurança. De acordo com ele, há pouca presença de policiais circulando naquela região. “Há necessidade de policiamento mais intenso. De vez em quando passa a Brigada, mas antigamente tínhamos o policiamento comunitário, que sumiu”, afirma.
A esposa Dilce, também feliz com o bairro onde mora, diz que “o lugar é a gente quem faz, o mais importante é sentir-se bem onde mora”. Entretanto, ela tem a mesma opinião do marido quando o assunto é proteção. “Não tem policiamento, a gente não vê. Nos sentimos seguros, mas com portão sempre fechado”, aponta.
Natural do município de Carlos Barbosa, o aposentado Ari Fiorotto, 69 anos, também acredita que a segurança não é como deveria, mas generaliza. “É um problema. Não estamos seguros em lugar nenhum, não só aqui”, lamenta o morador.
O presidente do Clube Botafogo, Jairo Antônio Alberici, 63 anos, diz que enxerga a segurança pública como o primeiro fator de atenção para o bairro, pela centralização em que se encontra. “O Botafogo tem muitas entradas e saídas, dando evasão muito rápida”, analisa.
Assim como os demais moradores, Alberici diz que não enxerga policiamento no local. “Antigamente víamos as viaturas circulando mais seguido. Inclusive a gente já conhecia os brigadianos que davam sustentação para o bairro, mas nos últimos tempos não tenho visto”, queixa-se.
Clube Botafogo enfrenta dificuldades com queda na receita
A Sociedade Recreativa Botafogo foi fundada em 15 de julho de 1959. Começou com um time de futebol e, anos depois, consagrou-se como um clube referência, não apenas no bairro, mas no município de Bento Gonçalves.
Reeleito para o biênio 2021-2022, o presidente Alberici, ciente da importância da entidade, diz que a diretoria tem uma grande missão. “É mais um compromisso para esses próximos anos. Esperamos entregar o clube, em dezembro de 2022, em condições bem melhores do que hoje”, frisa.
Até lá os desafios são grandes, principalmente devido às dificuldades enfrentadas desde o ano passado. Alberici relata que o clube se divide em dois momentos, antes e depois da pandemia do coronavírus. É que, por conta das restrições de distanciamento social, a renda do clube caiu significativamente. “Estamos deixando de faturar, em média, R$60 mil por mês”, revela.
Boa parte dos recursos financeiros são oriundos das mensalidades e dos aluguéis de espaços para festas, por isso a entidade passou por momentos difíceis. “Como várias alas são terceirizadas, tínhamos o rendimento dos aluguéis. Por exemplo, os bailões da terceira idade nos domingos rendiam um ótimo faturamento”, exemplifica.
De acordo com o presidente, o clube também sofre com a queda do número de associados. “Perdemos bastante, cerca de 20% a 30% dos sócios contribuintes. Nossas dificuldades são em função da pandemia. Se não fosse isso, com certeza hoje estaríamos comemorando e muito”, salienta.
Projetos devem ganhar vida
Ainda assim, a expectativa de um futuro melhor, mantém acessa a esperança de colocar em prática as ideias que estão em pauta. Entre elas, a instalação de placas de energia solar fotovoltaica. “Queremos colocar em todas as dependências, para economizarmos no alto custo de energia elétrica que a gente está pagando”, comenta.
Entre as metas também está a reforma dos vestiários e do espaço onde o médico realiza os exames. “É um local muito antigo, desde a fundação, por isso queremos fazer um prédio todo estruturado, com a realidade de hoje, com toda comodidade, para as pessoas que usam, com banheiros novos”, assegura.
Outra intenção, chamada por Alberici de audaciosa, é a construção de uma nova piscina térmica, na Sede Campestre. “Queremos pelo menos dar andamento nessa construção, com cobertura e aquecedor, na Garibaldina, porque lá, às vezes tem vento frio quando o pessoal sai da água”, finaliza.
O primeiro comércio da rua Florianópolis
Figura conhecida no bairro e na cidade, Gelson Schenato, 76 anos, tem uma vasta relação com bikes. Em 1963, quando tinha apenas 17 anos, começou a pedalar e nunca mais parou. Unindo o útil ao agradável, fez do hobby um negócio rentável. “Tudo que tenho aqui, o pouco que tenho, veio por causa da bike. Sempre tive a maior das paixões por bicicleta”, declara.
Em meados de 1977, Schenato, que também era competidor, percebeu a necessidade de abrir uma oficina focada no conserto de bicicletas. A loja dele foi a primeira daquela área. “Era um bairro residencial, naquela época não podia ter comércio, o meu foi o primeiro da rua Florianópolis e talvez do bairro”, orgulha-se.
Além disso, o empresário acrescenta que a loja é a mais antiga do município a trabalhar com veículos de duas rodas. “Depois vieram as outras. É uma história de muito sacrifício, trabalho e dedicação”, declara.
Considerada uma empresa familiar, ao lado dele, trabalham a esposa, Luci Alberici Schenato e o casal de filhos, Melissa e Gelson Junior. “Fico ainda mais feliz com meus filhos aqui, me ajudando e dando continuidade nesse trabalho”, assegura. O ciclista até brinca que os filhos carregam o DNA da bicicleta no sangue.
Morador do bairro Botafogo há 45 anos, ele se diz feliz com o local em que reside. “Gosto de tudo, é um lugar muito bom, a vizinhança é legal, conheço a maioria”, afirma. Schenatto ainda declara que “para mim, aqui está muito legal. Problemas todos têm. Bom seria se não tivesse”, conclui.
UPA 24 horas é referência na região
Inaugurada em junho de 2015, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24 horas integra o Complexo Hospitalar de Saúde, do bairro. O espaço também conta com o Centro de Especialidades Odontológicas, Laboratório de Patologia e Análises Clínicas, Laboratório de Imagem Digital. Além dos leitos de isolamentos, construídos no início da pandemia, em parceria com empresários e comunidade.
Entre os principais serviços ofertados está o atendimento em urgência e emergência: clínicos, traumatológicos, gestantes, psiquiatria, pediatria, e referência em atendimento Covid-19.
Em média, o local recebe 300 pacientes por dia. Só ano passado, foram mais de 109 mil atendimentos realizados. Para dar conta dessa demanda, o quadro de profissionais é grande. São 82 médicos, 44 enfermeiros, 67 técnicos de enfermagem, um auxiliar de enfermagem, quatro fisioterapeutas, cinco farmacêuticos, 18 higienizadores e 13 auxiliares administrativos.
Veteranos do Botafogo, um time que resiste ao tempo
Se antigamente a realidade do futebol em Bento Gonçalves era de muitos times, com inúmeros jogadores e disputas acirradas, o cenário atual é diferente. Na maioria dos lugares, sobreviveu apenas o time dos Veteranos. No Botafogo, não é diferente.
De acordo com Maso, o que se tem hoje é um grupo de aproximadamente 70 pessoas que se reúnem todos os sábados na Sede Campestre para jogar futebol. “Jogamos juntos desde 1978, portanto, são 43 anos. É um grupo eclético, tem médico, engenheiro, empresário, ex atletas. O reencontro é sempre uma alegria”, frisa.
Atuando como arbitro do time há 15 anos, Maso afirma que considera a atividade um hobby. “É legal porque conheço as manias de todos, quando um começa a cansar as pernas, começa a funcionar a língua, então tem que dar uma segurada, mas o gostoso é isso, se sentir bem. Não tem dinheiro que pague. Nos sentimos privilegiados em relação a isso”, destaca.