Segundo estudos, 97% dos alimentos disponíveis no mercado para crianças não são saudáveis. Nutricionista recomenda a ingestão de comidas preparadas em casa
No cotidiano agitado que muitos vivem, a alimentação rápida, com comidas industrializadas, é um dos fatores que tem contribuído para deteriorar a saúde das famílias. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a maioria dos alimentos e bebidas que as crianças consomem concentra itens ricos em gorduras, açúcar ou sal, o que contribui para a obesidade infantil.
Além disso, uma pesquisa realizada pela Universidade Miguel Hernandéz, na Espanha, mostrou que dos alimentos disponíveis no mercado para crianças, 97% deles não são saudáveis. Ou seja, apenas 3% não farão mal à saúde dos pequenos.
A nutricionista materno infantil, Camila dos Santos Tartaro, afirma que uma alimentação adequada é essencial, independentemente da idade. “Sabe aquela comida de vó com que fomos criados? Essa mesmo! Livre de alimentos industrializados e ultraprocessados, que são repletos de corantes e conservantes. Arroz, feijão, carnes em geral, massas e pães caseiros, variedade de frutas e verduras, cereais integrais, oleaginosas, leite e seus derivados. São opções que não podem faltar na rotina alimentar”, explica.
Segundo a profissional, a Sociedade Brasileira de Pediatria e o Ministério da Saúde não recomendam a ingestão de doces em geral até os dois anos de vida da criança, justamente porque não há nenhum benefício nutricional. “Chocolate e refrigerante entram na lista. Além disso, são alimentos considerados ultraprocessados, ou seja, muito modificados pela indústria, o que foge do conceito de consumir comida de verdade. Esses, assim como os demais alimentos açucarados, não devem fazer parte do cardápio da criança”, recomenda.
E após os dois anos?
A partir do segundo ano de vida, é permitida a ingestão de açúcares, mas de forma moderada e sem ser, necessariamente, uma obrigação. Camila adverte que são recomendadas 25g ao dia, o equivalente a seis colheres de chá. “Pode parecer muito, mas é preciso considerar todo o tipo de açúcar da alimentação, como achocolatado, balas, sorvetes, sucos, pirulitos e demais guloseimas. Ou seja, ultrapassamos essa quantidade rapidinho. Se a criança consumir achocolatado ou uma lata de refrigerante ao dia, estará consumindo o equivalente a cerca de 35g, ultrapassando o limite, além de estar ingerindo alimentos industrializados e nada nutritivos”, observa.
Tais alertas têm como objetivo evitar o surgimento de doenças crônicas logo no início da vida, conforme realça a nutricionista. Os possíveis problemas de saúde são “obesidade, diabetes, colesterol e pressão alta. Doenças de ‘adulto’, mas que estão se tornando cada vez mais comuns na infância devido aos hábitos alimentares e, principalmente, consumo excessivo de doces, gorduras e alimentos industrializados”, salienta.
A criança que tem uma alimentação inadequada pode ser mais sedentária e perder a disposição para brincar e ir à escola, pois os alimentos consumidos têm poucos nutrientes. “Já uma que se alimenta bem, geralmente é mais disposta e adoece menos, pois está recebendo, através da comida, os nutrientes necessários para seu crescimento, desenvolvimento e fortalecimento da imunidade”, assegura.
Reeducação alimentar
Mesmo que a criança já tenha iniciado o processo de alimentação de forma equivocada, consumindo o que faz mal para a saúde, ainda há como mudar de rumo. “Nunca é tarde para recomeçar. Digo que ensinar a comer bem nessa fase é como começar a introdução alimentar dela do zero”, exemplifica Camila.
Entretanto, é necessário o apoio de toda a família, pois a criança está inserida em um ambiente familiar e os adultos são exemplos para ela. “Os hábitos inadequados geralmente começam assim: com exposição dentro do próprio lar. Diante disso, devemos buscar entender essa criança através da nutrição, mas sem deixar de ouvir sua família, suas vontades e emoções. E, a partir disso, ir trabalhando aos pouquinhos esse mundo colorido da alimentação saudável”, destaca.
Por fim, há de se compreender que a reeducação alimentar não acontece rapidamente. “É um trabalho de construção, lento, mas encantador. Quanto mais comida de verdade conseguirmos resgatar, melhor! Mais cor, variedade, alimentos preparados em casa, refeições em família, nutrientes e união. Isso faz toda a diferença na mudança de hábitos”, conclui.