Sem o Auxílio Emergencial e demais programas de incentivo à economia, cenário ainda não está consolidado em Bento Gonçalves

Após a turbulência econômica vivida em 2020, causada pelo coronavírus, aos poucos a população tenta se recuperar, buscando novas fontes de renda. O Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS) afirma que com o término do Auxílio Emergencial, haverá aumento no número desempregados porque muitas pessoas que estavam recebendo deixaram de procurar emprego e saíram das estatísticas oficiais. Mas, agora, voltarão a buscar uma ocupação profissional.

A coordenadora do curso de Ciências Econômicas da UCS, Jacqueline Corá, diz que em novembro do ano passado, último dado mensal disponível, a taxa de desocupação chegou a 14,2%. “A maior da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios na fase Covid-19, iniciada em maio de 2020. Isso corresponde a 14 milhões de pessoas sem trabalho no país. Em outubro, eram 13,8 milhões”, explica.

Com a flexibilização no isolamento social e tendo em vista a expectativa da vacina que vai imunizar a população, segundo Jacqueline, a previsção é de um acréscimo de pessoas empregadas, em torno de 4,9%. “Ao mesmo tempo haverá aumento na taxa de desocupação, que deve manter uma média anual de 15,6%”, pondera.

Em janeiro, o natural é que ocorram mais demissões que admissões, isso porque no final do ano existem muitas empresas que contratam trabalhadores temporários. “Porém, as economias ainda podem sofrer os efeitos de segunda onda da Covid-19, especialmente de novos lockdowns”, salienta.

De acordo com a economista, a recuperação do emprego dependerá da performance da economia como um todo. “À medida que as empresas retomarem suas atividades e que as fórmulas de desoneração da folha de pagamento sejam mantidas, haverá possibilidade de recomposição dos níveis de emprego. O isolamento social é perverso para o setor de serviços. Quanto mais rápido tivermos a vacina, mais rápido os empregos e a economia poderão se reequilibrar”, ressalta.

No Rio Grande do Sul, a professora explica que estudos da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul apontam para a criação de vagas de emprego, principalmente no setor de serviços. “Projetam 56,2 mil novos postos formais de trabalhos. Então, a geração de empregos será consequência das medidas de combate à Covid-19, especialmente ao sucesso da vacinação em nosso país. Sem a vacina, o quadro de incertezas aumenta”, conclui.

Setores da economia têm boas expectativas

O professor da UCS e integrante do Observatório de Economia (Oecon) do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG), Fabiano Larentis, afirma que no município tudo vai depender de como será o andamento da pandemia e da vacinação neste novo ano, pela dependência da economia do município no mercado interno. “Temos no turismo uma recuperação mais lenta na geração de empregos em relação a outros setores, principalmente em função da Covid-19. Se permanecer o ritmo de geração de empregos formais, ultrapassaremos o maior volume pré-pandemia em janeiro deste ano. Fora isso, ainda é uma incógnita, muito complicado de se prever”, frisa.

Contudo, já existem setores que ultrapassaram o período anterior à Covid-19, como a indústria. Larentis ressalta que a dúvida, porém, é saber se o crescimento vai se manter. “É importante frisar que existe previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)nacional em 3%, o que repercutirá no cenário municipal e na geração de empregos”, destaca.

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Bento Gonçalves (Sindilojas-BG), Daniel Amadio, enfatiza que a esperança é de reestabilização. “Não em sua plenitude, pois o impacto da pandemia foi grande, mas uma recuperação lenta. Temos que levar em consideração que os efeitos dela ainda não passaram, estamos dependentes de uma imunização que levará um tempo para acontecer e depende disso para que tenhamos um aquecimento econômico”, compreende.

Além disso, Amadio explica que não há notícias de que os programas de incentivo à economia serão retomados em 2021, como o Auxílio Emergencial, Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), suspensão de contratos de trabalho, redução de carga e salários e postergação de tributos. “Fica difícil projetar qualquer expectativa. Nossa aposta é que o quanto antes ultrapassemos a pandemia, permitindo maior liberdade econômica e geração de empregos”, constata.

Cenário otimista na indústria moveleira

O presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves, Vinicius Benini, aponta que o setor começa 2021 aquecido e com expectativa de continuidade nas contratações durante o primeiro trimestre do ano. Em termos de faturamento, projeta crescimento real de 4% para o polo moveleiro de Bento Gonçalves neste ano. E, sem descontar o aumento dos custos e inflação do período, está sendo projetado aumento de 9% no faturamento, que engloba também Monte Belo do Sul, Santa Tereza e Pinto Bandeira”, prevê.

O otimismo do Sindmóveis é sustentado por fatores econômicos favoráveis como a atividade econômica em trajetória de recuperação, assim como comércio e indústria, em geral, além da projeção de elevação do PIB de 3,5% em 2021 e 2,5% em 2022, o nivelamento da produção com a demanda de móveis e uma maior confiança do empresário, o que deve suscitar novas contratações.