Unida e engajada, assim é a comunidade do bairro Santa Helena, de Bento Gonçalves, quando o assunto envolve a fé. É por isso que o Padre Gilmar Paulo Marchesini, afirma que uma das marcas que considera importante é que desde o início o bairro se desenvolveu girando em torno da Igreja.

Formado, principalmente, por pessoas oriundas de outros municípios, que escolheram Bento para residir, o padre menciona que a migração delas agregou valor muito grande. “Esse povo que chegou tinha formação muito boa. Lá onde estavam, eram catequistas de jovens, ministros da eucaristia e vieram para cá trazendo uma riqueza fantástica como igreja, no sentido de liderança e que proporcionou um rápido envolvimento da comunidade”, analisa.

Muito atuantes, segundo o padre Gilmar, foram os próprios moradores que criaram os espaços que envolvem a Igreja. “Mais adiante, foram eles mesmos que puxaram e puxam até hoje o grande salão da associação de Santa Helena, que não é da Igreja, mas quem articulou foi o pessoal ligado a ela”, conta.

Em termos de população, o bairro é o segundo maior, depois da matriz. “Temos um grupo muito bom que trabalha, que participa e um conselho fantástico. Têm sim suas dificuldades como todas as comunidades, mas têm muitas pessoas, inclusive, um grande envolvimento nas atividades que nós propomos, nas missões, na animação do que é necessário para evangelizar”, destaca.

Outro destaque do padre é que há no bairro um grupo, que é fruto de pessoas que vieram de outros lugares e que “trouxeram uma bagagem muito grande para ajudar a comunidade”, diz.

Uma dessas pessoas, é o aposentado Leonir José Rohden, 70 anos. Vindo de Cruz Alta, escolheu a Capital Nacional do Vinho há 28 anos para criar raízes com a família. Como já era envolvido com a Igreja, quando chegou no município, imediatamente procurou fazer parte da comunidade do Santa Helena.

Leonir é membro da comunidade desde que chegou no bairro Santa Helena há 28 anos

Leonir começou como catequista, depois foi ministro da palavra, mas segundo ele, se envolveu em diversos outros trabalhos. “Também fui missionário. Atuei um pouco em cada área dentro da Igreja”, relembra.

Orgulhoso de ter dedicado tantos anos da vida em prol do serviço voluntário, esse ano, Leonir entrega a função de principal coordenador da equipe administrativa. Entretanto, continuará ajudando no que for necessário. “Continuo como líder, tudo que precisam dentro da Igreja, pedem para mim e faço. Não por querer ser mais que alguém, mas por conhecer tudo, fica mais fácil”, assegura.

Investimentos na infraestrutura da Igreja

Os últimos dois anos foram marcados por reformas e investimentos na infraestrutura. Entre os destaques, segundo Leonir, está a compra de roupeiros, que custaram R$17 mil, a troca das calhas, entre outros. “Colocamos churrasqueira rotativa. Reformamos os dois banheiros que estavam feios. Compramos mesa e cadeiras novas”, cita.

Igreja recebeu grandes investimentos nos últimos dois anos

Todas as melhorias aconteceram graças ao apoio da comunidade. “No bairro, se a gente disser, por exemplo, que temos que comprar um santo, ou um banco para a Igreja e que queremos fazer uma rifa, todo mundo ajuda. A comunidade participa bastante”, elogia.

Reivindicações

Embora considere um bairro com muito progresso, Leonir acredita que o mesmo está um pouco abandonado pelos órgãos públicos. “Acho que o Santa Helena tinha que ter um pouco mais de olhar dos grandes, que comandam”, alerta.

Dentre as reivindicações do líder comunitário, que fala em nome de muitos outros moradores, está o asfaltamento das principais vias. “Podíamos ter esse bairro todo asfaltado se tivesse alguém olhando um pouco mais para nós.  No mínimo onde passam os ônibus deveria ter asfalto. Isso já é uma reivindicação de muitos anos”, salienta.

Pedido é antigo: moradores pedem asfalto nas ruas onde o transporte público circula

Outra demanda dos moradores é referente as condições das calçadas. Existe preocupação quanto aos perigos impostos por quem anda a pé. “Estão muito ruins, de não conseguir andar. Quem tem deficiência visual nem pode caminhar aqui”, afirma.

A rua onde fica a Igreja, muito frequentada também por idosos, preocupa. “Tem lugares que tenho que sair do calçamento, porque a pé não dá para cruzar. Tem muitas pessoas de idade e doentes e a gente se preocupa com elas. Para vir na Igreja, por exemplo, tem que ter alguém junto ou vir de carro”, frisa.

Abrigos de ônibus em más condições

Os usuários de transportes públicos sabem o quão é importante ter um abrigo com boa infraestrutura nas paradas de ônibus. Além de proteger do sol ou chuva, também é importante para que os mais idosos possam esperar sentados.

Pontos de ônibus com melhor infraestrutura também é um dos pedidos

Entretanto, as condições das paradas do bairro Santa Helena é motivo de reclamação dos moradores. De acordo com a arquiteta e urbanista, Lesandra Dalla Costa, falta conscientização das pessoas que destroem. “Várias paradas que foram colocadas no governo do Pasin estão tudo pichadas, com adesivo. O poder público tenta fazer, mas a consciência do povo não está preparada para certas coisas”, analisa.

Carência de árvores

Outro pedido, dessa vez vindo do autônomo Dorvalino Sonaglio é sobre arborização. Segundo o morador, há poucas nas ruas do bairro. “A gente vê calçadas extensas sem um pé de árvore”, aponta.

A filha dele, Lesandra Dalla Costa, 43 anos, tem um olhar técnico sobre o assunto, por ser arquiteta e urbanista. Ela acredita que o município deveria ter um padrão de árvores. “As pessoas plantam qualquer tipo na calçada, sem entender que a raiz vai estragar a calçada, que vão cair muitas folhas e acessar a rede elétrica”, aponta.

Arquiteta Lesandra Dalla Costa afirma que município deveria disponibilizar pés de mudas padrões para os moradores

Ela acrescenta que “a prefeitura deveria dispor pés de mudas padrão e plantar esse modelo que não estoura a calçada, não acessa a rede elétrica, e que a copa fica acima de quem está passando, além de criar sobra para caminhar e estacionar”, sugere.

Nove anos a espera de uma praça

O líder comunitário, Leonir José Rohden, 70 anos, relata que no início do primeiro mandado do agora ex prefeito Guilherme Pasin, foi apresentado pelo poder público, uma praça que seria feita para contemplar os moradores. Entretanto, nove anos depois, os moradores questionam cadê a praça?

Leonir afirma que o projeto era muito bonito e contemplava equipamentos para fazer exercícios físicos, parquinho para as crianças, bancos e árvores. “Temos uma academia ao ar livre, mas só isso que aconteceu, colocaram os equipamentos e nada mais”, diz.

Moradores lamentam não ter um espaço ao ar livre para aproveitar

A moradora Lesandra Dalla Costa diz que uma praça é importante para a saúde física e mental de quem usa. Ela enfatiza que ter, no bairro, apenas uma quadra de futebol não basta. “É um espaço que atende só um público, que é quem joga. Quem quer sentar, tomar um chimarrão, além das crianças que precisam de uma brincadeira ao ar livre, não têm”, lamenta.

Falta de policiamento gera queixas

A comerciante Angélica Brino, 57 anos, têm uma loja de roupas há 20 anos no bairro em que mora. Ela lastima que já foi assaltada cinco vezes nesses anos. Além disso, diz que, quando precisou da polícia, não foi atendida como deveria. “Ligo para a Brigada Militar, dizem que estão vindo, mas não vem. Tanto que nas últimas duas vezes que fui assaltada, nem liguei, porque não adianta. Já desisti”, lamenta.