Primeiras investigações apontam para a possibilidade de disputa pelo controle de pontos de tráfico de drogas. Polícia não confirma, e diz que todas as alternativas possíveis estão sendo investigados
A polícia não sabe exatamente quantos foram os atiradores que executaram quatro pessoas no final da noite de ontem, 6, na rua Lajeadense, bairro Municipal, em Bento Gonçalves. Considerando que foram encontrados estojos de capsulas disparadas por duas armas de calibres diferentes, 9 milímetros e espingarda 12 – e pelas informações colhidas no local, tão logo aconteceu a execução, são mais de dois matadores, segundo o delegado Clóvis de Souza.
O titular interino da 2ª Delegacia de Polícia, delegado Clóvis Rodrigues de Souza, deu entrevista coletiva no começo da tarde desta quinta, 7, ao lado da titular da Delegacia da Mulher e plantonista ontem à noite da Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), Deise Salton Brancher Ruschel. O policial disse que a casa onde aconteceu o fato é de difícil acesso, no final de um beco, e que a cena encontrada no local era característica de um crime praticado com extrema violência.
De acordo com o delegado, “havia muito sangue, massa encefálica e pedaços de ossos espalhados. Nós contamos 39 estojos de projetis deflagrados, mas tenho a convicção que devem ser muitos mais que vão ser encontrados na medida em que a perícia nos enviar os relatórios e que o local passar por uma limpeza”, afirmou.
O policial não confirmou a hipótese de se tratar de uma execução feita por facções rivais em disputa pelo controle do tráfico de drogas naquela região da cidade ou em Bento e municípios vizinhos. “Tudo está sendo investigado. Não se descarta nenhuma hipótese embora as características do crime apontem neste sentido””, falou, para os jornalistas.
Mais gente na casa
Outra informação dos delegados é que na casa havia mais três pessoas, uma mulher, um adolescente, de 17 anos, e uma criança, com cerca de um ano. “Eles foram levados para outro compartimento e não sofreram violência. Enquanto isso as vítimas foram colocadas, ao que tudo indica, de bruços, no chão, e executadas com tiros na nuca e desferido de muito perto”, contou.
Sobre as pessoas poupadas pelos criminosos – que teriam chegado na casa a pé e usando toucas ninja – os policiais não deram detalhes como identificação, idade ou ligação com as vítimas. Apenas sobre o adolescente, o delegado Clóvis disse que é primo dos dois jovens e sobrinho dos dois homens assassinados. “Eles foram levados para um local seguro”, emendou.
Moradia era alugada
A casa em que se deu a chacina da noite passada era alugada por Jair de Quadros Batista, há pelo menos um ano conforme as informações da Polícia. Ele foi assassinado ao lado do seu irmão, Sérgio Batista, do sobrinho Everton da Silva Batista (filho de Sérgio) e Leandro Batista Alves, sobrinho de Jair e Sérgio, primo de Everton.
Segundo a Polícia Civil, Sérgio era morador de Porto Alegre, já residiu há algum tempo atrás em Bento e voltou à cidade há aproximadamente três meses, estando desde então na casa do irmão, Jair. Everton e Leandro moravam na Região Metropolitana e Vale dos Sinos, Viamão e São Leopoldo, respectivamente, e vieram para a Serra no mês passado, mas especificamente no final de dezembro para passar as festas de Natal e Ano Novo na Capital Nacional do Vinho.
O que o delegado Clóvis contou
“As pessoas que também estavam na residência já foram formalmente ouvidas. Não chegam a dar uma luz, não trazem novidades sobre o evento investigado. Depois de liberadas foram conduzidas para lugar seguro”
“Nós ainda estamos em uma fase preliminar das investigações. O andamento do trabalho é que vai permitir, quem sabe, uma melhor compreensão de todos estes fatos, até um histórico melhor sob o ponto de vista criminal, se é que têm de cada uma destas vítimas”
“Um detalhe interessante é que no local não encontramos armas de fogo ou drogas. Ou havia, e foram retirados do local antes da chegada dos policiais, ou alguma outra situação se deu. Mas, lá (local da execução), não encontramos nada disso”
“Sobre as armas utilizadas podemos afirmar, com segurança, que foram dois tipos. Uma arma de calibre 12, e armamento de 9 milímetros, uma pistola desse calibre”
“Como no local havia espalhado muitos pedaços de massa encefálica, ossos, muito sangue, isso as vezes pode ocultar material, e a gente pode acabar não vendo alguma coisa, como um projetil, um estojo. Mas sem fazer força recolhemos, com os peritos, e 39 estojos de projetis deflagrados de pistola e arma calibre 12”
“Não temos qualquer indício de autoria. O que sabes é que algumas pessoas, cujo número ainda está indefinido para nós, entram naquela casa e cometem o crime”
“Pela experiência que a gente já tem como policial, pelo que foi levantamento no trabalho pericial, as circunstâncias, tudo apontam que ali houve uma execução. Provavelmente motivada pela disputa entre facções. Provavelmente as quatro vítimas estivessem ligadas a uma facção do Vale dos Sinos”
Antecedentes das vítimas
Jair de Quadros Batista
Tinha 48 anos, morador de Bento, natural de Frederico Westphalen. Não tem antecedes criminais relacionados ao tráfico de drogas. Tem registros policiais por prática de crimes de lesão corporal, ameaça, receptação e furto em cidades como Canoas, Montenegro, Carlos Barbosa, Portão e Bento Gonçalves.
Sérgio Batista
Também de Frederico Westphalen, 50 anos. Considerado foragido do sistema prisional depois de romper a tornozeleira eletrônica. Último registro de domicílio é Porto Alegre, mas a Polícia apurou que ele já morou por algum tempo em Bento Gonçalves. Tem vários registros policiais por crimes (furtos e um de tráfico de drogas) praticados em Novo Hamburgo, São Sebastião do Caí e São Leopoldo.
Everton da Silva Batista
De 19 anos, natural de São Leopoldo, já teria morado em Porto Alegre. Filho de Sérgio, teria vindo de Viamão – onde estaria residindo atualmente – para Bento Gonçalves no final de dezembro. Possui em sua ficha criminal um indiciamento por tráfico de drogas na cidade de Novo Hamburgo, no Vale dos Sinos.
Leandro Batista Alves
Também de 19 anos, sobrinho de Jair e Sérgio, e primo de Leandro, teria vindo de São Leopoldo (Vale dos Sinos) também no final do ano passado. Até a tarde desta quinta a Polícia não havia apurado antecedentes criminais, o que não significa, de acordo com o delegado Clóvis, que não esteja indiciado em algum inquérito ainda em fase de investigação e feitura em alguma delegacia de outra cidade.
Fotos: Silvestre Silva Santos e reprodução-arquivo Polícia Civil