Um dos precursores do setor vinícola brasileiro, deixa um legado histórico e empreendedorismo na região e no país

“Vamos produzir qualidade, isso vai nos levar adiante”. Era nisso que acreditava, e conquistou, Darcy Miolo, que faleceu no domingo, 20, aos 79 anos, de causas naturais. Fundadores de um dos mais importantes empreendimentos do setor vinícola em Bento Gonçalves, Miolo deixa um legado que marca a história do plantio de viníferas no Brasil. Ele deixa a esposa Gladis Terezinha Bianchi Miolo e os filhos Adriano, Fábio, Alexandre, Marcos e Cássio. Atualmente, o empresário era presidente do Conselho de Administração do grupo.

Neto de Giuseppe Miolo, desenvolveu com os passos do avô a paixão pela uva e pelo vinho. A partir dos anos 1970, Darcy, ao lado dos irmãos Antônio e Paulo, ficou conhecido pela qualidade das uvas finas produzidas. Anos se passaram, e o gosto por fazer sempre mais e dar o melhor foi passado de geração em geração.

“De cantina rural à indústria vinícola”

Os irmãos Miolo eram produtores de uva e as vendiam para terceiros, e o vinho produzido servia apenas para o consumo. Uma crise forçou a família a produzir e comercializar o próprio vinho para outras vinícolas, em 1989. Assim surge a Vinícola Miolo.

No vídeo institucional de celebração aos 30 anos, divulgado em 2019, Darcy conta que para tornar o nome conhecido viajou por todo Brasil. “Em umas das feiras, em Brasília, fui de Saveiro, cheio de vinhos e com uma geladeira em cima”, mencionou no documento audiovisual.

Um de seus amigos, o viticultor e empresário José Alberici Filho, relata que a família Miolo testemunhou o início da atividade industrial do vinho. “Seu Darcy, o ‘timoneiro’ da família, iniciou a área de vinificação e começou a vender o vinho de garrafa em garrafa, com toda humildade que se pode imaginar. Batalhou em todos os eventos que era possível, participou com muito esforço”, destaca.

Miolo contou, na época, com o apoio de Raul Randon. Nas exposições de produtos da empresa no Brasil, Darcy participava dos eventos. “Foi ali que ele começou a atividade com uma projeção cada vez maior. De uma cantina rural para uma indústria vinícola. Ele teve um mérito de ter sido um grande batalhador pelo vinho e alcançou um sucesso inimaginável. Com apoio de seus irmãos, Antônio e Paulo, formou um trio de muito trabalho e dedicação, e depois com a chegada dos filhos na continuidade do trabalho.

Teve em sua presença, um grande líder que incentivou a todos para avançar. Por isso que conseguiu um resultado estupendo. Colocou os vinhos da Miolo nas melhores mesas do Brasil e em muitos países do exterior”, enaltece Alberici.

Da esquerda para a direita: os irmãos Paulo, Darcy e Antônio, e a mãe Íride.
No quadro, o avô Giuseppe Miolo. Foto: Arquivo pessoal

Fundação

A história da família Miolo no Brasil começa em 1897. Entre os imigrantes italianos que vieram ao país em busca de oportunidades, estava Giuseppe Miolo, um jovem que já tinha nas veias a paixão pela uva e pelo vinho.
Ao chegar ao Brasil, Giuseppe veio para Bento Gonçalves. Entregou suas economias em troca de um pedaço de terra no Vale dos Vinhedos, chamado Lote 43.

Na década de 70, a família foi pioneira no plantio de uvas finas. A primeira garrafa assinada pela família foi um Merlot safra 1990.

A Miolo Wine Group é a maior exportadora de vinhos do Brasil e a mais reconhecida no mercado internacional. O grupo conta com projetos em quatro regiões vitivinícolas: Vinícola Miolo (Vale dos Vinhedos), Seival (Campanha Meridional/RS), Vinícola Almadén (Campanha Central/RS) e Vinícola Terranova (Vale do São Francisco/BA). A produção dentre elas soma, em média, 10 milhões de litros por ano.

Uma crise forçou a família a produzir e comercializar o próprio vinho para outras vinícolas, em 1989. Foto: Divulgação

Um último adeus…

“As referências culturais e a sabedoria do vinho ficam empobrecidas com a partida do patriarca e baluarte Darci Miolo! El Senor se lo llevo’! Fica a riqueza dos ensinamentos e exemplos, como um marco imperecível. Adeus, amigo Darcy!”, Rinaldo Dal Pizzol, diretor do Instituto Dal Pizzol

“Ele simplesmente colocou a palavra qualidade em toda linha de produtos, que foi a sustentação do sucesso. O seu Darcy é uma perda muito sentida, até pelo tipo de pessoa que era: muito afável, humilde, de formação de amizades muito fácil e sempre confiante naquilo que dizia ‘vamos produzir qualidade que isso vai nos levar adiante’. Esse dogma que ele criou deu certo e hoje é digno do maior reconhecimento”, José Alberici Filho, empresário

“É uma imensa perda não apenas para Bento Gonçalves, mas para toda a região e país, pois ele foi um dos mais ativos instituidores de toda cadeia vinícola brasileira. Além de ser um empreendedor nato, construiu um legado imensurável de muito ensinamento para as gerações que o sucederam. Conheci de perto o seu Darcy, pois tenho relação familiar próxima. Posso dizer que perdemos um homem que, além de sua capacidade visionária como empreendedor, era uma pessoa muito afável e cordial, e que assim construiu seus relacionamentos, sempre mantendo a humildade e a simplicidade que o caracterizavam”, Rogério Capoani, presidente do CIC-BG

“Ele foi uma grande fonte inspiradora, um grande legado que deixa para o nosso setor, fazendo com que sejamos cada vez mais corajosos, empreendedores e determinados sobre um sonho, para alcançar um futuro melhor para a nossa família e nosso setor. Que neste momento, de um até logo, estejamos junto com a família Miolo para que possamos suportar e, de certa forma, suavizar as dores do impacto da saudade”, Eduardo Valduga, diretor da Famiglia Valduga

“Maior do que a despedida é o legado. Um empresário que acreditou no potencial turístico do roteiro e que ao lado de outros grandes nomes projetou o nosso Vale para o Brasil e o mundo. De fato, é uma pena sentir grandes nomes nos deixando. Uma sensação de vazio que só quem é daqui pode sentir. Um pouco da história do Vale dos Vinhedos se vai com o falecimento deste homem que levou para o enoturismo seus princípios e sua coragem. Ele deixou um legado enorme, cabe a nós e os familiares darmos continuidade”, Elaine Michelon, diretora do Complexo Turístico Villa Michelon

“Darcy era um amigo, uma referência. Um empreendedor, que em sua história levou para o Brasil e o mundo a vitivinicultura. Deixa como legado a sua coragem, pioneirismo e amor pelo vinho. Bento Gonçalves perde um grande homem. Os sentimentos aos familiares e amigos”, Guilherme Pasin, prefeito de Bento Gonçalves