Nesta sexta, 20, foi o Dia Nacional da Consciência Negra. A data relembra a morte de Zumbi dos Palmares, símbolo da luta pela liberdade e valorização do povo negro, em 20 de novembro de 1695, e é uma oportunidade de reflexão sobre o racismo para a comunidade.
Em Bento Gonçalves, o coordenador do Movimento Negro Raízes, Marcus Flávio Dutra Ribeiro, afirma que neste ano, por conta de tudo o que envolve a pandemia, foi decidido que não haveria eventos físicos e orgânicos, mas divulgações de conteúdos nas redes sociais. “Esse trabalho se deu junto à escola Alfredo Aveline, onde nós realizamos uma webconferência em outubro”, relata.
No último dia 13, uma das alunas presenteou Ribeiro com o retrato de uma branca de neve negra. “Esse é um dos símbolos sociais do Movimento, dado a um fato com minha filha em 2017, quando ela foi para a escola vestida de branca de neve e lá ela se envolveu em um episódio de preconceito com o seu colega de aula, porque entendeu que ela não poderia ser (a personagem) por ser uma menina negra. Isso foi uma das molas propulsoras para que se instituísse o Movimento Negro Raízes”, explica.
Combate ao racismo
Nos quase três anos de existência, a entidade representativa tem o perfil de embate e desde que surgiu, trata casos de racismo na Capital do Vinho. “É o que eu chamo de efetividade. Além de ser a representação, você conseguir acolher os seus e tratar esses assuntos, que lamentavelmente envolvem a dor”, destaca.
Ribeiro também afirma que o que envolve o sofrimento negro é chamada dor solitária. “Você se sente sozinho, faz o exercício de pescoço, olha para um lado e para o outro e se dá conta de que não há acolhimento. Pensando nisso, tomamos a iniciativa de sermos nós mesmos a representação no formato coletivo”, ressalta.
Conhecimento é elemento transformador
O coordenador do Movimento acredita que há falta de entendimento da população sobre o assunto. “Quando a gente trata dessas questões sociais e as coloca para a comunidade, isso gera algumas discussões e que, subjetivamente, refletem que ainda estão muito presentes o racismo, o preconceito e a própria intolerância. Muitas vezes experimentamos isso ao publicar materiais que as mídias locais acabam repercutindo e a gente observa em muitos comentários que há aquele cunho de não entendimento, que se revela em preconceito. Nós entendemos que a educação é uma ferramenta de transformação”, salienta.
Reconhecimento estadual
O Movimento Negro Raízes, ainda em 2018, teve um alcance estadual. “Recebemos o reconhecimento do Rio Grande do Sul e fomos laureados pelo prêmio Zumbi dos Palmares, maior referência negra do estado. Em 2019, fomos reconhecidos na categoria atuação social”, destaca.
20 de novembro é marco para comunidade negra
Com mais de 20 anos de atuação, a Sociedade Educativa e Cultural 20 de novembro trabalha em prol da cidadania e da difusão da cultura afro-brasileira em Bento Gonçalves. Uma conquista importante aconteceu em 2019: o Centro Cultural 20 de novembro. “O local foi conquistado junto ao Poder Público com uma emenda parlamentar de 250 mil reais, onde o município viabilizou o espaço, construiu e nos entregou”, conta o presidente da Sociedade, José Luis Deus Santiago.
Desde o último ano, a entidade atuante da cultura negra vem trabalhando durante todo o 11º mês como momento de reflexões e comemorações das conquistas do povo negro. “A gente trouxe a exposição da 2ª edição da Afroarte, espaço onde ficam obras de arte de artistas locais e de fora, em todo o decorrer de novembro”, afirma.
Bento no caminho
Na Serra Gaúcha, de acordo com Santiago, a população negra está em evidência. “Acredito que a gente vem, a longo prazo, marcando presença para com as questões do resgate da cultura afrodescendente. Tendo um, dois, ou três grupos voltados para essa temática, é a cidade que fica em evidência, é o município que ganha, são as pessoas que em uma, outra ou todas as entidades se sentem representadas”, pondera.
Entretanto, ainda há inúmeras conquistas a serem alcançadas. “Há muito o que galgar, pelo que lutar e a almejar, mas acredito que nos últimos anos, desde quando foi criado a Sociedade 20 de Novembro, a gente vem fazendo a nossa parte como cidadãos”, pensa.
Além disso, um dos objetivos é ter representatividade racial também na política. “A gente quer muito mais do que isso, queremos ver o negro ocupando espaços públicos, contribuindo para com o progresso de Bento”, destaca.
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