Visitação aos quatro maiores cemitérios da cidade não se concentrou apenas na segunda-feira, Dia de Finados, mas ao longo do feriadão prolongado que começou já na sexta-feira
Com a mudança do ponto facultativo alusivo ao Dia do Servidor Público para a sexta-feira, dia 30, e o feriado de finados em uma segunda-feira, 2 de novembro, a visitação aos túmulos de parentes, amigos, pessoas conhecidas, se diluiu ao longo de quatro dias e não provocou aglomerações nos quatro maiores cemitérios de Bento. O volume maior de pessoas foi mesmo na segunda, e o total de visitantes segundo a estimativa oficial da prefeitura é que mais de 15 mil pessoas tenham cruzado pelos portões dos cemitérios municipais São Roque, Central e Santo Antão, além, do Cemitério Parque Jardim do Vale.
Uma programação com a celebração de pelo menos 18 missas, ao longo da segunda-feira, foi cumprida nas paróquias e dentro dos campos santos, desde as primeiras horas da manhã até o começo da noite. Observando os protocolos sanitários, foi disponibilizado álcool em gel em todos os cemitérios. Em uma das mais movimentadas missas, no Municipal Central, no final da manhã, o padre Ricardo Fontana conclamou o público a homenagear e refletir sobre a importância dos profissionais que atuam na linha de frente de combate ao coronavírus, principalmente em memória “daqueles que perderam a vida nessa luta que estamos enfrentando contra a Covid-19”. Cabisbaixas, as pessoas ouviram o “Toque de Silêncio”.
No Cemitério São Roque a movimentação de visitantes foi maior nas primeiras horas de segunda-feira. Como fez a família Stringhini, dos irmãos Carmen, Claudete e Alex, acompanhados pela mãe, Élides, de 82 anos completados em abril passado, parte de Monte Belo do Sul e parte residente em Bento. Eles foram homenagear inúmeros familiares sepultados no local, como contou Claudete. Para Élides, a matriarca, os costumes do Dia de Finados mudaram muito. “A juventude quase não vai aos cemitérios”, constata ela. A filha Claudete complementa dizendo que flores são “uma homenagem simbólica. O que conta mesmo é o respeito e o amor que dedicamos aos nossos familiares em vida”.
Jovens pedem Justiça para o irmão executado
Em um dos cemitérios de Bento duas irmãs, na faixa dos 20 anos, olhavam com olhos cheios de lágrimas a foto de um jovem com menos de 30 anos e que cobria toda a frente de uma gaveta, como são chamados os espaços de sepultamento em grandes paredões, nos cemitérios. Elas não quiseram se identificar, e justificaram que o rapaz, irmão de ambas, havia sido vítima de uma execução a tiros ocorrida na região há alguns meses. “Essa é a melhor foto dele, que mostra bem como ele era”, disse uma delas. Sobre o crime, ainda sem solução, a outra irmã soluçou: “Queremos Justiça. Só isso!”
O Dia de Finados foi bastante tranquilo nos cemitérios de Bento, sem aglomerações conforme preconizam os protocolos sanitários que têm a finalidade de evitar o contágio do coronavírus. Na frente dos campos santos não havia qualquer tipo de comércio, especialmente de flores, como acontece em muitas outras cidades, e poucos foram os candidatos às eleições municipais do próximo dia 15 que foram às entradas pedir votos a quem foi visitar os túmulos de parentes ou amigos.
Os locais destinados à queima de velas, chamados de “Cruz da Almas” ou “Cruzeiro” foram os mais procurados por quem não teve como ir visitar o túmulo de seus entes queridos, em função da distância.
Uma homenagem ao pai, falecido há 12 anos
O gerente de loja William Felipe Amorim, de 22 anos, não foi a um dos cemitérios de Bento na segunda-feira de Finados. Optou por rezar o terço de forma isolada e reservada, ao lado da chamada Gruta do Borgo, na praça Padre Oscar Bertholdo. Ele faz isso há 12 anos, em homenagem ao pai, Valderi, que faleceu em uma clínica na cidade de Lajeado. “Ele estava internado por causa de crises de depressão, e uns outros problemas que ele tinha”, diz William.
Devoto de Nossa Senhora Aparecida, cuja imagem é a principal da gruta e para quem diz que sempre reza, o rapaz tem no braço esquerdo uma tatuagem do rosto do pai e, na carteira, a oração da santa da sua devoção. Sobre a tatuagem, diz que “é para ele (o pai) acompanhar a minha vida e ver as conquistas que tenho alcançado”.
Fotos: Silvestre Santos