Alguns profissionais precisam conciliar as atividades dos alunos que retornaram com aqueles que seguem estudando de casa
Nesta quinta-feira, 15, comemora-se o Dia do Professor mais atípico que já existiu. Com a pandemia do coronavírus, a dinâmica das aulas mudou totalmente. A Escola Municipal Alfredo Aveline, a única de propriedade do município que possui turmas de Ensino Médio, foi uma das primeiras a retornar, após a Educação Infantil. Para os professores, foi um desafio ainda maior conciliar os alunos que retornaram com aqueles que, com suas famílias, optaram por continuar estudando de casa.
O diretor Márcio Pilotti explica que apenas estudantes de 1º e 2º ano retornaram, sendo cerca de 25 alunos das quatro turmas. Ninguém do 3º ano optou por retornar. “Os pais preencheram um termo para autorizar que os filhos continuem a ter aulas remotas. Tem alunos que já estão trabalhando, e como o governo deixou bem livre, a critério das famílias, retornaram poucos. Temos cerca de dez alunos em cada turma”, relata.
A princípio, o plano da escola era revezar as turmas de uma semana para outra, evitando aglomeração. Entretanto, devido à pouca quantidade de estudantes, resolveu-se alternar entre uma semana de aulas presenciais e a outra, remota. Medidas de higienização estão sendo tomadas para barrar o coronavírus. “Todos de máscara, com distanciamento social, temos também o portal sanitizante, sempre fazemos a aferição da temperatura. Os professores também estão paramentados, com todos os Equipamentos de proteção individual (EPI’s) fornecidos pela prefeitura”, explica Pilotti.
Alguns docentes não puderam retornar, pois fazem parte do grupo de risco. Mas todos, sem exceção, continuam dando aulas, mesmo que de casa. “Os métodos que estamos utilizando são vídeo-aula, links, matéria explicada, exercício e também o aplicativo Educar Web. Buscamos seguir a linha que nos foi orientada para que os alunos tivessem o mínimo de perda possível. Apesar disso, uma aula virtual não é a mesma coisa que a presencial, porque a escola é feita de pessoas, o contato não pode ser substituído”, destaca.
Aprender a lidar com a nova realidade tem sido impactante para os profissionais da educação. “É uma prova de fogo. Quem não lida com a internet teve que aprender na marra. Nas aulas síncronas ninguém abre a câmera, principalmente os alunos mais velhos e isso foi desafiador, após 28 anos de carreira”, afirma o diretor.
Professores têm que inovar métodos de ensino
A supervisora pedagógica Jacinta Maria Tesser Cristofoli, que desempenha a função desde 2009, acredita que um dos desafios do momento é o planejamento. “Os professores não estavam habituados a fazer esse tipo de conteúdo, para aulas remotas, por isso tiveram que criar e aprender novos métodos de ensinar”, explica.
Ser professor nesse período tem que inovar, ser mais criativo”, conta. Segundo a educadora, os professores estão se empenhando e cumprindo o dever que lhes cabe. “A gente tem professores mais velhos, que possuem dificuldade com a tecnologia. Os mais novos conseguem utilizar melhor as ferramentas, com mais destreza. A equipe diretiva também teve que fazer reuniões online para ajustar o trabalho a ser realizado com as crianças. Todos estamos de parabéns pelo empenho”, comemora Jacinta.
A supervisora salienta, ainda, que é necessário se adaptar aos novos desafios e superá-los, pois, possivelmente os métodos de aulas remotas serão muito utilizados daqui para frente. “Para aqueles alunos que gostam da tecnologia, também está ótimo. Acredito que ano que vem vamos usar mais isso, provavelmente teremos um sistema de aulas híbridas”, acredita.
Muito além da educação remota
O diretor Márcio Pilotti afirma que a área das Ciências Humanas ainda é mais fácil, mas a das Exatas é mais complicada de ensinar dessa forma. “A gente não aprendeu isso na faculdade. Aquela questão de tirar dúvidas com o aluno ficou muito mais complexa a distância”, confessa.
A professora de matemática, Bruna Stail, concorda com a afirmação. “Por mais que eles continuaram com aula, os que voltaram estão com dificuldades. Temos que retomar muita coisa. Muitas dúvidas ficaram, a gente não conseguia sanar tudo com as aulas online”, argumenta.
Apesar disso, a tentativa de seguir com os mesmos conteúdos para quem estuda de casa ainda é o objetivo. “A ideia é manter no ritmo, mas o planejamento é diferente. Para os que continuam distantes, precisamos de mais tempo. Aqui, respondemos de forma direta“, assegura a docente.
Nesse período de distância do contato presencial com os alunos, Bruna conseguiu perceber duas coisas. “A primeira é que o professor não vive sem o aluno e sem a sala de aula. Tiramos forças da nossa paixão por ensinar, mas nada substitui o presencial. A segunda é que a gente consegue se reinventar. É possível usar ferramentas novas”, garante.
O papel do professor está indo muito além do que apenas ensinar as matérias. “O aluno ficou mais carente de contato físico, longe de socialização. Nós fomos um pouco ouvintes e um papel importante é poder estar ajudando, não só no conteúdo, mas também no sentido emocional. Saber como eles estavam, poder ouvi-los”, pondera a educadora.
A estudante do 1º ano do Ensino Médio, Natália de Oliveira Darui é a prova das dificuldades que os professores estão tendo para lecionar. “Pelas aulas online eu não conseguia entender direito as matérias de exatas. Agora, estou compreendendo melhor. Teve duas vezes que esqueci que tinha aula, por exemplo”, afirma.
Segundo a aluna, a família ficou receosa pelo retorno presencial, prezando pela saúde da adolescente. “Minha mãe não queria que eu viesse, no começo, mas a escola explicou como seria. Então, ela disse que se eu me sentisse segura, continuaria vindo”, lembra.
A estudante Mayara de Oliveiras Orso, também do 1º ano, explica que presencialmente é mais fácil de tirar dúvidas. Além disso, a aluna sente segurança nas medidas preventivas que a escola está tomando. “Estamos nos cuidando, todos estão se respeitando e mantendo a distância. O mais importante é se preservar, mas apesar de poucos estarem vindo, estou me sentindo protegida aqui”, aponta.
Valorização do papel do educador
Segundo o diretor da Alfredo Aveline, o coronavírus mudou a forma com que as famílias se relacionam com a escola. A dificuldade dos pais, além disso, está na inabilidade de ensinar, o que tem ocasionado mais dificuldades para as crianças. “A pandemia veio para a gente valorizar o professor e a escola. As famílias estão valorizando, isso porque ninguém substitui a presença de um educador, principalmente com os pequenos”, conclui Pilotti.
Ensino virtual revela novas possibilidades na educação
A professora Luciane Pereira dos Santos trabalha nas escolas Municipal Infantil Espaço dos Sonhos e Estadual de Ensino Fundamental Maria Goretti.
Por enquanto, trabalhando ainda via plataforma virtual, destaca alguns desafios que a profissão a qual exerce enfrenta. “Nós não tivemos descanso e muito menos estamos em “férias”, como muitos pensam e comentam. Pelo contrário, estamos trabalhando direto, até nos finais de semana, planejando as aulas, pesquisando, buscando diferentes formas e estratégias para que o conteúdo possa ser compreendido e assimilado pelos alunos dentro da modalidade remota que estamos utilizando nesse momento”, afirma.
A docente diz que sua profissão já é desafiadora por natureza, e em tempos de pandemia, foi necessário encarar uma realidade inesperada. “Tivemos que aprender em tempo recorde a lidar com ferramentas que muitos nem conheciam. Tenho certeza que sairemos dessa muito mais preparados para um futuro tecnológico e principalmente com a convicção de que com coragem, força e dedicação somos capazes de encarar e superar qualquer desafio que nos faça frente”, pensa a professora.
Foto: Thamires Bispo