O microempresário e apicultor nas horas vagas, Adriano Rossato, cultiva abelhas há quatro anos. É um hobby da família, como ele próprio define. Recentemente, ao chegar em Faria Lemos, local onde fica o apiário, encontrou seis das 24 colmeias mortas. Embora não tenha certeza, desconfia que a morte das delas pode ter sido causada por algum produto utilizado para matar formigas dos parreirais próximos. “Estive me informando e pode ser um inseticida cuja aplicação não deve ser feita encima da parreira e sim no solo. Ele mata formigas, mas o princípio ativo também mata abelhas”, diz.
Outro motivo que reforça a suspeita para a explicação das mortes é que, segundo Rossato, sempre acontecem no mesmo período. “Assim que começa o tratamento das parreiras. Ano passado foi nessa mesma época e tivemos a mortandade de várias colmeias. Morreram muitas abelhas e, esse ano, de novo”, lamenta.
Considerando que cada colmeia tem em torno de 60 a 80 mil abelhas, Rossato estima que, pelas contas, aproximadamente de 480 mil tenham morrido. Além delas, algumas ficaram fracas e estão passando por tratamento para se recuperarem dos danos. “Estamos dando antibiótico para descontaminar e voltarem a produzir. Trabalhamos todo final de semana nisso: limpando as caixas, tirando as que estavam mortas. Percebemos que a rainha da colmeia tem chances de se recuperar, mas vamos ter que fazer um bom trabalho”, analisa.
O cultivo das colmeias vai além de ser hobby. A família tem um mini bosque na propriedade, onde plantam árvores frutíferas que dependem da polinização feita pelas abelhas. “Temos cítricos, bananeira, pitaia, maracujá, manga, butiá, ameixa. São mais de 600 frutas e várias dependem da polinização. É muito triste chegar lá e ver isso. Tinha uma caixa com o mel todo percolado e as abelhas mortas na frente e dentro da caixa”, conta.
O trabalho, embora feito por gosto pessoal, demanda tempo e dedicação da família, além dos custos para manutenção. “Já gastamos cerca de R$7 mil. A média de um enxame entre caixas e cercas que perdemos e tivemos que trocar, é de R$ 300 por colmeia. Fora o trabalho, que é complexo”, afirma.
O que diz a Embrapa
Questionado sobre a possibilidade de as mortes estarem relacionadas ao contato com algum veneno, o pesquisador entomologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Marcos Botton, afirma que existem várias causas para explicar a morte de abelhas, inclusive os inseticidas. “Eles acabam sendo utilizados para o controle de algumas pragas e culturas e nas videiras não é diferente. E, indiretamente, muitas vezes, acabam atingindo as abelhas, mas isso é bem relativo”, afirma.
Botton afirma que esse debate é grande já que em algumas situações, alguém está fazendo o controle dentro da própria propriedade e as abelhas vizinhas acabam migrando para a área do vizinho. “É bem delicado esse assunto e teria que ter todo um trabalho de acompanhamento para saber o que realmente aconteceu”, aconselha.
O que pode ser prejudicial
O pesquisador esclarece que diversos inseticidas têm efeito sobre as abelhas. “De maneira geral, alguns com a pulverização de neonicotinoides, que é um grupo químico e o pirazol que é o fipronil, que teriam efeito mais letal sob abelhas. Por isso, há restrições na aplicação deles na pulverização folear. Praticamente só estão autorizados para aplicação via solo, que é justamente para evitar que ocorra esse dano nas abelhas”, esclarece.
De função crucial
Segundo a professora, doutora Engenharia de Alimentos, Luciana Pereira Bernd, o uso intenso do solo e o atual modo de produção agrícola tem sido uma ameaça séria para a sobrevivência das abelhas. “A atual mortandade sofrida por elas reforça a necessidade de conscientização da população sobre a importância de sua conservação para proteger o futuro do planeta”, alerta.
Ela considera que as abelhas sem ferrão são pouco conhecidas e muitas vezes passam despercebidas. Contudo, aponta que são de grande importância, “cumprindo o papel de polinizadoras, ao visitar flores de árvores e arbustos”, aponta.
Além disso, Luciana acrescenta que o trabalho que as abelhas realizam é essencial para a manutenção da diversidade vegetal e também da flora nativa. “E, indiretamente, da fauna que delas se alimentam, desempenhando tarefa importantíssima para a nidificação das metas e dos ecossistemas”, explica.
Abelhas do Bem
Visando o manejo e utilização prática de um meliponário, por meio de ações de conscientização ambiental da comunidade acadêmica e externa, aliado ao estímulo em torno da importância das abelhas nativas na produção de alimentos, desde 2018, o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Campus Bento Gonçalves, desenvolve o Projeto de Extensão Abelhas do Bem.
De acordo com a doutora Engenheira de Alimentos e coordenadora do projeto, Luciana Pereira Bernrd, o projeto também contribui com o equilíbrio ecossistêmico. “Tornou-se centro de realização de ações ambientais com servidores, alunos e comunidade externa, mudando a percepção dos envolvidos na necessidade de preservação das abelhas”, acrescenta.
O destino dado para o mel extraído das abelhas da instituição foi a enfermagem do campus, para elaboração de medicamentos fitoterápicos usados no tratamento de enfermidades de alunos e servidores que são atendidos no local.