Delegada Nadine Anflor, chefe da Polícia Civil do Estado, levanta a bandeira de um atendimento mais humanizado e escuta protegida das mulheres que sofrem violência doméstica
Para uma vítima de violência doméstica, registrar um boletim de ocorrência contra seu agressor que, geralmente, é familiar, é um momento dolorido. Soma-se a isso, o medo de represálias e as ameaças constantes. Para que a vítima seja melhor acolhida e o processo não seja tão doloroso, a Chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor, levantou a bandeira para que o atendimento dessas mulheres seja mais humanizado.
É o caso de uma vítima, que já havia registrado diversas vezes contra seu companheiro, mas o judiciário negava a Medida Protetiva. Então ele continuava a lhe ameaçar e agredir. Ao procurar a Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA) de Bento Gonçalves, ela foi questionada o porquê de estar fazendo mais uma ocorrência contra seu marido e foi desencorajada a registrar. Assim, ela se sentiu totalmente desamparada e constrangida. Ao passo que na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), a escuta e o apoio prestados fizeram toda diferença para ela ter coragem de seguir em frente e se sentir mais protegida, conforme relato da vítima.
Porém a Deam não funciona 24 horas. Como a maioria das agressões domésticas, conforme levantamento da Brigada Militar (BM), ocorrem finais de semana ou à noite, é preciso recorrer à DPPA. Para que essas delegacias também ofereçam uma sala de atendimento para a escuta sem danos e sem a presença do agressor, Nadine criou o projeto da Sala das Margaridas. Um ambiente separado para colher o depoimento da vítima e fazer o registro.
Nadine explica que a o projeto é da chefia de Polícia Civil. “Temos 44 DPPA’s que funcionam 24 horas. Não temos condições de ter todas as 22 Deam’s abertas 24 horas, nem mesmo criar outras delegacias. Sabemos que o pior momento de crise para essas mulheres é aos finais de semana e à noite, fora do horário de expediente. Então criamos o projeto da Sala das Margaridas, para que seja um atendimento humanizado, mais específico para mulheres vítimas de violência”, diz.
Assim, a delegada acredita que as mulheres poderão procurar atendimento em qualquer horário para denunciar seus agressores sem se sentirem constrangidas. “Estamos fazendo isso para estimular elas. 70% das vítimas de feminicídio no RS morreram sem sequer ter feito uma ocorrência policial. A Sala das Margaridas vem com o intuito de trazer essa oportunidade e fazer esse chamamento das mulheres para a denúncia”, salienta.
Ela conta que seu olhar especial, voltado à violência contra a mulher nasceu quando foi delegada da Deam de Porto Alegre, onde permaneceu por sete anos. Foi ali, em contato com as vítimas, que ela se descobriu feminista. “Também fui a primeira coordenadora de todas as 22 Deam’s do Estado. Então realmente identifiquei que há uma criminalidade voltada às mulheres, específica de agressores, que são companheiros e muito próximos, então isso sempre foi uma das minhas bandeiras”, salienta. Em Bento Gonçalves, ainda não há esse espaço específico na DPPA.
Foto: Elisa Kemmer