“Querida Verônica

Talvez não seja uma máxima para todo mundo. E no fundo, espero mesmo que não seja. Mas, sinto lhe dizer, Rubem Alves estava certo: ostra feliz não faz pérola.
Quando comecei a escrever pensando no best-seller, não imaginei que pudesse fazer alguma ligação com a mitologia de Quíron. O mito do centauro ferido discorre sobre o calo que aperta em todo mundo, a vulnerabilidade que nos torna humanos, a dor que não mata, mas também não cura. A pesquisadora norte-americana Renè Brown observou que existe muito poder em nossas fraquezas, e tantas outras coisas lindas de se apresentar, mas que não vem ao caso nesta narração. Assim como no livro sobre o pobre molusco que por um processo natural de defesa contra compostos externos, gera uma substância que, após sua cristalização, forma a tão venerável pérola. Segundo Alvez, “isso é verdade para a ostras, e é verdade para o ser humano”.

“Ontem eu estava especialmente mal. Minha paranoia estava a mil há alguns dias. Sabe, imaginando situações ruins. Meu antidepressivo não está sendo meu amigo. Não sei se é só o “período de teste” ou o que… – falando assim até me sinto uma cobaia. Marquei um horário com meu psicanalista, precisava dar um jeito nisso e eu sei, há muito tempo, que sozinha eu não consigo. E tá tudo bem.
Na terapia a gente sempre ouve o que no fundo não quer. O que já sabe. O que precisa ser feito.
Depois da terapia, é como se alguém tivesse lavado a lama que estava sobre o nosso corpo. Tirado a venda que estava sobre os nossos olhos, a trava que estava prendendo nossos pés. De onde vem essa lama, venda e travas, tão invisíveis e tão poderosas?

Sabe, algumas pessoas usam as palavras como escudos. Outras como armas. Outras usam elas ou a falta delas como confissão. É difícil para nós isso, não é? A gente acha que tem o controle total por gostar de escrever, mas você sabe que não é bem isso, não é Verônica? Volta pra Terra!
Entretanto, sim! Quem escreve é muito mais legal. Porque vive em um mundo paralelo, colorido e feliz, mas geralmente encoberto de confusões, traumas, pesadelos, e é uma luta diária com a escuridão. Somos um guerreiro que não teme a busca pela colorida vitória.
E as pessoas me perguntam: o que te impede? Abro um site qualquer e lá está escrito: o que te impede? Vou para a terapia e o psicanalista questiona: o que te impede? Está escrito em todos os lugares, recebendo holofotes, saindo do alto falante como se fosse uma moça repetindo impacientemente que tem promoção de desodorante no corredor 2.
É como se corpo e alma não fossem compatíveis às vezes. Como se eu fosse um brinquedo do menino Andy e ele nunca saísse da minha frente. É a minha zona de conf(ronto)orto.
Difícil de explicar, difícil de entender. Por isso eu escrevo.

“A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável. A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta. Mas ela não cria. Não produz pérolas. São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer’’ – Rubem Alves.

A vingança é um prato que se come com lágrimas 🙂

Com amor, Andressa.”