Os workaholics são trabalhadores compulsivos ou viciados em trabalho. O termo tem origem nos EUA e hoje é muito utilizado no Brasil. O problema, entretanto, não é o trabalho em si, mas as consequências que afetam esses trabalhadores e profissionais. Existem pessoas que não sentem mais prazer em estar com seus filhos, familiares, amigos, parceiros ou estão preocupadas a todo momento com assuntos relacionados ao trabalho, mesmo em momentos de descanso.

A psicóloga Janice Mezacasa Cavalini esclarece que os profissionais escolhem gastar o tempo com trabalho do que com vida pessoal. “Pode-se dizer que é uma pessoa que tem poucas relações de apoio social ao seu redor e acaba recorrendo ao trabalho cada vez mais frequente para fugir de seus problemas particulares”, destaca.

Os trabalhadores compulsivos são geralmente competitivos no mercado, ambiciosos e que muitas vezes precisam provar para si mesmos e para os outros que são capazes de realizar algo e terem sucesso. Essas pessoas têm a carreira profissional como prioridade máxima, e muitas vezes abdicam de construções de outros contextos, como uma família, filhos ou até mesmo a dedicação de tempo para outras atividades, como um hobby.

Conforme a psicóloga, as causas podem estar ligadas à ansiedade, depressão e baixa autoestima. Foto: Franciele Zanon

A busca por uma carreira e vida financeira estável é apenas um dos aspectos, mas em geral não é o que desencadeia o transtorno, pois inconscientemente a maioria dos workaholics precisa se sentir produtivo. Segundo a psicóloga, as causas podem estar ligadas à ansiedade, depressão, baixa autoestima, assim como também ao desejo de se destacar no trabalho e mostrar que é bom no que faz. “Para a maioria das pessoas, ser workaholic não é algo ruim e, sim, algo de que se orgulham. Isto faz com que a procura por ajuda psicológica e psiquiátrica seja mínima”, sublinha.

As consequências, conforme Janice, podem acarretar as cognitivas: ansiedade, irritabilidade, depressão, mal-estar, preocupação constante, entre outras; as fisiológicas: insônia, estresse, taquicardia e aumento da pressão arterial; e as comportamentais: controle excessivo, planejamento extremo, afastamento do ambiente social e da família.

Para a psicóloga é necessário colocar limite entre vida pessoal e profissional. “É importante não deixar que o trabalho seja o centro de atenção da vida da pessoa. Deve haver outras coisas que trazem felicidade ao dia a dia e encontrar sempre o equilíbrio entre emprego, vida social e pessoal”, conclui.

“Reconheço que sou”

Uma arquiteta, de 26 anos, que prefere não ser identificada, reconheceu o transtorno quando passava pela conclusão da graduação. “Desde que comecei o meu TCC, trabalhava muito tempo nele e acabei levando isso pra minha profissão depois de formada. Sinto muita necessidade em ver as tarefas concluídas, mesmo sem reparar que, às vezes, o prazo é maior do que o que eu consigo cumprir”, reconhece.

Ela conta que trabalha 13 horas por dia, sendo oito no emprego e mais umas cinco em casa, à noite. A culpa por não concluir tarefas é um dos sinais de um workaholic. “Quando consigo cumprir, sinto um enorme alivio e quando não, fico procurando onde foi que eu me distraí que não pude terminar a tempo, ou que eu poderia fazer pra finalizar mais rápido da próxima vez”, sublinha.

Ela confessa que não faz terapia para ajudar no processo, mas tem procurado melhorar. “Estou me policiando e tentado tirar meu tempo de descanso, pelo menos no final de semana, assistindo séries, lendo, dormindo e saindo um pouco de casa”, pontua.