O jovem Eduardo Torezan foi o primeiro bento-gonçalvense a percorrer o país de ponta a ponta de moto. No Brasil, ele foi o terceiro a realizar a façanha

Rodar o Brasil inteiro sobre uma moto, mas como meta principal, chegar na Rodovia Transamazônica, na BR-230, localizada entre os estados da Paraíba e Amazonas, era um sonho que o jovem, natural de Bento Gonçalves, Eduardo Torezan, 29 anos, carregava no coração há mais de uma década.

A paixão de Torezan por veículos de duas rodas começou muito cedo, quando ele ainda era criança, porque os familiares tinham motocicletas. Já o desejo de percorrer a Rodovia Transamazônica surgiu quando um tio viajou pela estrada, de caminhão e ficou atolado por sete dias. A partir de então, decidiu que um dia iria conhecer o local, porém, de moto.

Torezan chegou ao destino, a Transamazônica, no dia 18 de dezembro

Para realizar o desafio, Torezan foi com a fiel companheira, a Terezinha, que não é a namorada, nem a esposa, mas a motocicleta, cujo modelo, uma Yamaha Tenere 250, carinhosamente recebeu esse apelido. Torezan também foi com o ‘papito do céu’, como se referiu a Deus, na entrevista, quando questionado se viajou acompanhado.

No dia 10 de dezembro de 2020 ele girou a chave de ignição e, da Capital Nacional do Vinho, partiu rumo à realização do sonho. Depois disso o veículo levou o jovem para 24 estados brasileiros, percorrendo, ao todo, 17.228 quilômetros, em 32 dias de viagem.

No terceiro dia, Torezan conta que se perguntou: “meu Deus do céu, o que eu estou fazendo? ”. É que naquela noite, quando estava na rodovia Transpantaneira, MT-060, na divisa dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, se viu sem ter onde dormir. “Era noite e eu estava no meio de crocodilo, onça, hipopótamo”, diz.

Foi então que decidiu montar barraca na beira do rio, mas foi aconselhado pelo dono de um barco a não dar continuidade à ideia inicial. “O seu Antônio, que é dono e mora no barco, disse que se eu dormisse ali, não acordaria no dia seguinte, porque uma onça ia me atacar”, relata. A convite, Torezan passou a noite no barco daquele que virou seu amigo.

Uma aventura na Transamazônica

Considerada a terceira rodovia mais longa do Brasil, a Transamazônica tem cerca de 4.500 quilômetros e passa por sete estados, ligando Cabedelo, na Paraíba, a Lábrea, no estado do Amazonas. Inaugurada em agosto de 1972, a rodovia continua inacabada, com vários trechos sem asfaltos.

A partir de 18 de dezembro, quando chegou ao destino, foram mais cinco para cruzar a rodovia, quando aproveitou para conhecer outros pontos. “No meio da Transamazônica, peguei outro caminho e fui até a Venezuela, voltei até o marco BV-8. Depois, fui até o Oiapoque (Amapá) e voltei. Fiz Toda Transamazônica, mas não em um sentido só”, conta. O marco conhecido como BV-8 é considerado o portal de entrada para o Brasil, a partir da Venezuela.

Durante a viagem, o que mais marcou Torezan foi uma cena de desigualdade social que presenciou. Em um navio, indo de Manaus para Santarém, na véspera do Natal, viu uma mãe repartindo uma marmita de alimentos com quatro filhos pequenos. Ele conta que lembra da cena todos os dias, quando vai almoçar. “Eram aqueles pratinhos de plástico, de torta. Ela (a mãe) pegou a marmita, colocou os pratos em uma bancada e, com o garfo, derramou um pouco de comida em cada um. E ela não ia comer, só os filhos”, relata.

Sensibilizado, Torezan e outro rapaz, que também viu a cena, decidiram comprar comida para a família. “Natal é uma data que geralmente as pessoas têm mesa farta. A mãe não sabia nem como agradecer, depois”, afirma.

No ano que vem, a ideia de Torezan é contornar a América do Sul. A previsão é que a viagem dure 120 dias para percorrer cerca de 30 mil quilômetros.

Curiosidades

• Sobre dificuldades enfrentadas, Torezan diz que “não existem perrengues, mas obstáculos”.

• Em Rondonópolis, Mato Grosso, a moto quebrou os rolamentos traseiros. Já no Oiapoque, o suporte da placa quebrou. “Fui salvo por um índio”, conta.

• Torezan não foi parado nenhuma vez pela polícia, durante os 32 dias de viagem.

• A quilometragem máxima que percorreu, sem parar, foi de 980 quilômetros.

• Foram gastos 615 litros de gasolina.

• Toda viagem, a partir do momento em que saiu de casa e voltou, incluindo revisão da moto, os pneus que foram trocados em Manaus, troca de placa e rolamentos, hospedagem em pousadas, alimentação, custou R$ 7.200,00

Fotos: Arquivo pessoal – Divulgação