O banheiro público funciona como um pronto-socorro. Bastante requisitado, por sinal. Nele costuma aportar todo tipo vítima, desde a que se excedeu na cervejinha até a que comeu uma “coisinha” estragada.

Banheiro público não é só o da praça central ou o encontrado em estabelecimentos públicos.

Entra na lista de banheiros de uso comum, os banheiros de bar, restaurante, casas de lanches e congêneres. A maioria dos banheiros de shoppings e aeroportos até que são usáveis.

Banheiros de estação rodoviária não vale, porque, salvo um ou outro, não passam de meras cloacas. Normalmente são uma imundície total: escuros, sem espaço e sem higiene. Para urinar já são ruins e para defecar são terríveis

Deixe-me contar a você que um dia desses precisei socorrer-me a um banheiro de uma boa casa de lanches para fazer o número um. O conteúdo da minha bexiga poderia apagar o incêndio de um prédio inteiro.

Bem, o ambiente da casa de lanches era decente. As instalações cheirando a novo. As cadeiras ostentavam capas patrocinadas por vinícola, cuja marca dos vinhos que produz é bastante conhecida.

Logo na porta fui advertido:

– Ei, você!

Girei o pescoço. Meus olhos encontraram um senhor de meia idade ao lado da porta, sobre a qual estava pendurada uma tabuleta onde se lia “Cavalheiros”. Em tom educado, eu disse:

– Chamou-me?

– Não entre aí.

– Ora essa, porque não posso?

– Está interditado!

– Interditado?

– Pois é, soltaram um barro daqueles e a cabine está imunda.

– A coisa está tão feia assim?

– Parece que um “cavalheiro” deu o melhor de si lá dentro.

– Mas estou com o reservatório saindo pelo ladrão.

– Neste caso, é por sua conta e risco.

– Pode deixar.

– Boa sorte – desejou-me a alma boa.

Preparei-me para o pior, como um soldado indo para a guerra. Sabia que iria enfrentar chumbo grosso. Isto para não usar um termo mais enfático.

Entrei, empurrei a porta e procurei a fechadura. A fechadura havia sumido. Alguém levou o trinco embora. Tive que segurar a porta com o pé. O chão estava encharcado.

No centro do vaso, o olho do periscópio do submarino me vigiava.

Cumprido o processo de urinar, dei descarga (não tinha aquele sensor que aciona a descarga automaticamente). O vaso encheu e transbordou. Não o suficiente para solucionar o problema da seca do Nordeste, mas sobrou água para todo o lado. Esperei um bocado de tempo para a caixa encher novamente e dei novamente descarga. O trabalho do digno “cavalheiro” continuava lá, como uma marca registrada.

Lavei as mãos. Fechei a torneira. Percebi que vazava um fiozinho de água. Girei um pouquinho. Continuava pingando. Apertei mais um pouco. Ainda pingava. Procurei papel-toalha. Não tinha papel toalha. Procurei papel-higiênico, também não tinha.

Sem outra opção, sequei as mãos nas calças e saí, com uma bruta vontade de gritar:

– Viva o Brasil!