Baixa autoestima, insegurança e mudanças de comportamento são alguns dos sinais que podem indicar situações de agressão

Ameaças, humilhação e chantagem fazem parte do relato de inúmeras mulheres vítimas de agressão psicológica. Apesar de recorrente, esse tipo de violência passou a fazer parte do Código Penal Brasileiro como crime somente em julho do ano passado, por meio da Lei 14.188/2021.

Com a mudança na legislação, a mulher pode solicitar o afastamento do agressor. Até então, as medidas protetivas eram possíveis apenas se houvesse risco à integridade física. Além disso, para esse tipo de delito, pode ser aplicada uma pena de reclusão de seis meses a dois anos e multa.

Segundo a lei, configura violência psicológica: “causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação”.

De acordo com a coordenadora do Centro Revivi e Coordenadoria da Mulher, Patrícia Da Rold, o maior número de casos de atendimentos é reflexo desse tipo de violência. “A maioria das mulheres atendidas por nós, seja por encaminhamentos através da delegacia, rede de saúde ou assistência social, ou de forma espontânea, sofre violência psicológica. É muito difícil uma mulher falar que sofreu uma violência física sem ter passado também pela psicológica, porque ela é um dos primeiros sinais. A violência não começa com um soco ou um chute, mas com xingamentos e humilhações”, salienta.

Patrícia destaca ainda que as mulheres que buscam atendimento no órgão passam pelo processo de escuta e são acompanhadas por uma equipe multidisciplinar que realiza acompanhamento psicológico, social e os encaminhamentos necessários. “Nosso papel é acolher todas as vítimas, seja qual for o tipo de violência. Trabalhar na prevenção e acompanhar até que ela se sinta fortalecida e consiga recomeçar sua vida, saindo do ciclo de violência”, aponta.

Atenção aos sinais

A psicóloga Angélica Zuchi Lucca afirma que as mulheres são intensas em relação aos seus sentimentos. Na mesma intensidade, porém, elas conseguem escondê-los. “Às vezes a mulher passa anos em um relacionamento abusivo, sofrendo vários tipos de violência sem que ninguém perceba. Por isso se faz tão importante a atenção de pessoas próximas. Baixa autoestima, insegurança, mudanças de comportamento, humor deprimido, isolamento social, são alguns sinais que podem indicar situações de violência doméstica”, explica.

Quem quer ajudar precisa ter consciência de que mulheres que sofrem qualquer tipo de violência tendem a se sentir culpadas, com medo e até merecedoras do que sofrem, por conta da capacidade de manipulação do abusador. “A última coisa que ela precisa é de alguém julgador. Tenha empatia, seja solidário, valide sempre. Mostre que você percebe o que está acontecendo, que se preocupa com o que ela está sentindo e passando e que está aí simplesmente para ajudar da melhor maneira que puder, sem muitos questionamentos”, destaca.

Angélica menciona que ainda existe uma ideia equivocada de que apenas a agressão física configura violência. “Xingamentos seguidos de desculpas incessantes, sugerir mudanças de comportamento para se enquadrar no que ele gosta, querer controlar sua vida, desde o dinheiro até a forma como se veste e fala com a justificativa que ama e se preocupa com você podem ser alguns indícios de que a relação se encaminha para o abuso. Tenha sempre em mente que um relacionamento saudável não oprime, não desqualifica, não inferioriza e não tira sua autonomia. Se qualquer um desses direitos estiver sendo violado pelo seu parceiro, acenda o sinal de alerta”, aconselha.

Um relacionamento saudável não oprime, não desqualifica, não inferioriza e não tira sua autonomia. Se qualquer um desses direitos estiver sendo violado pelo seu parceiro, acenda o sinal de alerta”.

Angélica Zuchi, psicóloga.

Para a profissional, embora haja muito preconceito em relação ao assunto, a sociedade está cada vez mais apta e aberta a receber as vítimas. “Existe uma rede de apoio especializada em casos de violência, em que a vítima terá todo o apoio e suporte necessários. Meu conselho é: procure ajuda, de todo tipo e a qualquer momento, sentir medo é muito comum nesses casos, mas não se deixe paralisar por esse sentimento. Você é muito mais forte do que pensa e, com certeza, tem toda coragem de que precisa para enfrentar a seu parceiro”, conclui.

Como denunciar

As denúncias podem ser feitas de forma anônima diretamente ou por telefone nos seguintes locais:

Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM): (54) 3454-2899/ (54) 3454-2933.
Centro Revivi: (54) 3055-7418/ (54) 3055-7420 ou WhatsApp (54) 99132-8148.
Delegacia de Pronto Atendimento: (54) 3452-3200.

Em caso de urgência ou emergência (quando a mulher está sofrendo a violência no momento) o 190 deve ser acionado. Denúncias também podem ser feitas pelos canais de denúncia nacional: Disque 100 ou Ligue 180.

“Denunciem. As pessoas têm muito medo de serem identificadas, mas isso não acontece. Estamos fazendo uma campanha forte, que será intensificada agora no mês de março, sobre a importância da denúncia, pois ela pode salvar vidas”, finaliza Patrícia Da Rold.

Foto: Thamires Bispo