Sempre fui trabalhador, até os 12 anos vivi no Barracão, fazia de tudo, meio contra a vontade (coisa de criança) mas fazia. Espantava gafanhoto batendo latas, esmagava uva com os pés para meu avô fazer vinho, alimentava a trilhadeira, capinava pomares, limpava estrebaria, levava trigo e milho, a pé, lá no Moinho Bertarello em São Pedro, para fazer a farinha, sabem aquele ditado “criança sofre”, pois é, era comigo mesmo, mas tinha suas compensações, não sem também uma certa dose de sacrifício. De vez em quando minha vó gritava “Riquinho!!!!!,a galinha tá cantando vai procurar os ovos, ligeiro!”. E lá saia eu correndo, com o chapéu de feltro do meu avô, a procurar os ovos. Voltava todo sangrando, os espinhos me sangravam os braços, mas vinha com 12 ovos, no mínimo, dentro do chapéu. Porque eu fazia isso com determinação? Porque, duas horas depois, tinha bolo quente e biscoitos coloniais, uma delícia!

Um dia, perturbado com a pressa da minha avó, perguntei: tá bem vó já vou, mas porque tanta pressa? Um dia eu estava sentado na cozinha, esperando o bolo e ela me explicou: por duas razões; a primeira, se tu não vai logo que a galinha canta, tu não vai saber de que direção ela vem e, se tu não souber, como vai encontrar o ninho? A segunda, se tu não chegar antes das cobras e dos lagartos, não vai ter ovos e nem bolo. Tudo bem que a galinha fazia seu marketing após por os ovos, mas ir buscá-los antes das cobras e dos lagartos, era coisa para refletir. Mas, o bolo e os biscoitos sempre falaram mais alto, eu ia mas, a partir do papo da minha avó, ia correndo rezando: “Deus, afasta de mim esses cálices (cobras e lagartos)”. Vou parar por aqui embora tenha mais para contar.Com 12 anos vim, com meus pais, morar na cidade.

Aí minha vida virou pelo avesso, minha infecção nos ouvidos, que me fazia sofrer, desapareceu como por encanto. E eu virei auxiliar de alfaiate (meu pai) e estudava. Fazia de tudo um pouco, vendia rádio portátil importado, juntava paus na cancha de bolão do Corinthians, todas as noites e, como era muito rápido e sabia que quanto mais rápido mais ganhava, embolsava uma boa grana de gorjeta que, no bolso de um guri de 12 anos, fazia chover. Lá pelos meus 18 anos, de vez em quando, enchia o porta malas do carro do meu pai, que tinha loja além da alfaiataria, e ia na porta da Aços Luchese, no Barracão, para no intervalo para almoço, vender camisas, sapatos, gravatas, cuecas, para os operários mediante assinatura de vale que depois a empresa me reembolsava. Eu era então auxiliar de alfaiate, balconista e vendedor externo. Nesse intervalo, desde os 16 anos, eu cursava pilotagem no Aeroclube, “para poder fugir do serviço militar, na condição de reserva na aeronáutica”. Como piloto, dos 18 aos 21 anos, fiz de tudo: instrutor, levava pessoas a praia, uma viagem que eu fazia muito era levar o Empresário Armando Guerra para sua fazenda em Lagoa Vermelha. Tinha um campo precário e tinha que pousar no meio das vacas. Ele sabia o nome de todas elas (umas 100), abria a janelinha do avião e gritava “sai Filomena, sai Fiorenza”. As vaquinhas olhavam para o alto e diziam para o patrão: “não grita!”. E ali ficavam.

Eu gastava um tanque de combustível até abrir uma brecha para pousar. Ai tinha que ir até a cidade (20km) buscar combustível. Até que um dia, solidário ao seu Armando e para que ele pudesse falar com as vacas sem irritá-las, eu dei um rasante na lateral da pista e as vacas em razão do deslocamento do ar, sairam da pista, aí foi moleza. A partir daquele dia não foi mais preciso ir buscar combustível na cidade. Não precisa dizer, ou precisa?, que minha gratificação pelos serviços aumentou sensivelmente. Com meus 16-17-18-19 anos, sempre com dinheirinho no bolso, acima da média dos meninos de pais ricos com quem eu convivia, eu dava escapadas de manhã cedo e, no final da tarde, aos “points” do Centro: a Tabacaria do Olicio Pereira, Lancheria do Quito e Clube Aliança. Na Tabacaria do Olicio eu era familiar, muitas vezes, na ânsia das revistas e dos jornais, eu ajudava o Olicio a abrir os pacotes, tinha meus privilégios nas reservas e eu correspondia a cordialidade e aquele sorriso fluente dele em meio a poucas, mas básicas, palavras. Na próxima escapada, da Saldanha Marinho, pelas dez da manhã e pelas 17 horas da tarde, Lancheria do Quito. Torradas, baurus, milk-shakes, delícia, os melhores da cidade. Eu pagava para os amigos e, como fazia Da. Miguelina (mãe do Ronaldinho Gaúcho) nos bailões da Restinga, num raio de 50 metros, pagava para todo mundo. De vez em quando é claro, mas o certo era que eu tinha “conexão nos bolsos”, o dinheiro entrava pelo da direita e saia pelo outro bolso da esquerda.

Mas, o que eu queria dizer, depois desse preâmbulo, é que, ao prestigiar a posse de Vinicius Pereira Benini, no SINDMÓVEIS, eu gostaria muito de que meu amigo Olicio estivesse aí, o máximo que ele me diria, sempre sorrindo “pois é, que bom, tô feliz”. Pois a Jaqueline, filha do Olicio e da Cléa, que a guardava como uma joia, conheceu um Garibaldense de nome Volnei Benini. Casaram, tiveram 4 filhos (três gêmeos) e um deles, o Vinicius, sucedeu o pai Volnei na Presidência do Sindicato das Indústrias Moveleiras de Bento. Volnei é um dos grandes líderes de Bento, focado, discreto, cordial, inovador, transferiu aos filhos, ensinamentos, diretrizes, valores, que somados aos dos avós, forjou, falo do Vinicius, uma personalidade marcante. Jovem que, no seu discurso de posse, deixou evidenciar segurança, conhecimento, objetivos que deixaram a impressão de “estamos em boas mãos” aos moveleiros e lideranças. Os moveleiros de Bento tomaram conta da ABIMÓVEL, da MOVERGS, porque entenderam que era preciso para dar mais equilíbrio, foco, unidade ao setor, conduzindo-o com firmeza, de forma democrática porém austera, para superar os desafios de nossa economia, o que é fundamental para o município e sociedade. O comando do SINDMÓVEIS, da MOVERGS, da ABIMÓVEL, está em boas mãos, o que nos tranquiliza, pois ter uma economia sustentada apenas em móveis, vinhos, setor metal mecânico, preocupa, é preciso uma luta constante para o equilíbrio.