Uma luz penetra na frágil retina, os pulmões recebem um ar gélido sufocando-os e, num instinto, o expulsam, retomando o fôlego, sem jamais imaginar que aquilo seria o movimento natural enquanto houver vida. Sente-se um cheiro alucinante e a voz, então, uma melodia que antes parecia abafada, agora é música suave aos ouvidos, não se sabe o nome, mas é algo repetitivo de entender e logo se aprende a chamar de mãe. Sem garantia ou manual, a vida engatinha, caminha, pula em compassos e descompassos e, dependendo do caminho, mais longo ou sofrido, se apoia, quando não é empurrada, sobre rodas. Sim, a vida até pode ter uma lógica ou, pelo menos, tenta-se explicar a mesma a muitas penas, tintas e caracteres.
A morte não, caso contrário, poderia ser prevista, calculada, medida e administrada no seu tempo, o que seria uma tortura para a própria vida. Entretanto, embora saibamos da sua existência, diariamente a finitude avança de forma possessiva, rouba-nos até mesmo, imperceptivelmente e pouco a pouco, os movimentos que encheram e esvaziaram nosso peito “gastando” a vida. E a vida? Ah, esta casa-se conosco, sem perfeição, é verdade; sem saber dos seus dias, nos é inteiramente fiel, embora possamos tristemente negá-la e até mesmo não ser digno de sua fidelidade. Quanto à morte, de nada adianta dar-lhe as costas, seria um desatino a acelerar seus passos, pois esta nos acompanha à sombra, enamorando-se a cada dia pela vida, até o dia da traição final, quando irá suspirar pela sua conquista, embora acredite tal “vitória” seja efêmera. Tétrico até aqui, desculpem-me, não era a intenção, tranquilizem-se, respirem fundo, não há melhor leitura do que a da própria vida.
Portanto, aproveite o tempo, este é indiferente a sua passagem e…talvez caiba uma revisão, pois infelizmente há pessoas que ainda estão no rascunho.
Vamos em frente!