Neste sábado, 29, comemora-se o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Momento para reafirmar ações que mobilizam a comunidade para a conscientização a respeito do risco de consumo do tabaco. O conhecimento sobre os prejuízos do cigarro tem feito a porcentagem de fumantes cair cada vez mais. De acordo com o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), no Brasil, o número de pessoas com o vício caiu em 38% em 13 anos. No Sul, segundo estudo de 2019, a taxa total está em 16,1% da população.

Em Bento Gonçalves, entidades como a Liga de Combate ao Câncer têm se empenhado para que o consumo de tabaco reduza cada vez mais. De acordo com a presidente, Maria Lucia Gava Severa, foi necessária a criação de um programa de combate ao fumo, porque o tabaco é um fator de risco, presente em diversas patologias.Uma das ações promovidas foi a criação, em 2010, juntamente à Câmara de Vereadores, da Lei Antifumo para a Capital do Vinho, promovendo locais 100% livres do tabaco.

Os ambientes escolares também são fundamentais, principalmente para prevenir o primeiro contato com o possível vício. “As crianças levam isso para os pais. Tivemos alguns casos de pessoas que nos procuraram porque os filhos chegaram em casa pedindo para os pais pararem de fumar”, relata Maria Lucia.

Sobre a ação do cigarro no organismo humano, o médico pneumologista Adriano Muller explica que tem um efeito vasoconstritor, que tende a reduzir ou fechar a circulação do nosso organismo. “Isso provoca menos irrigação de sangue, de oxigênio e ocasiona vários efeitos no nosso corpo. Onde o tabaco tem ação de redução do sangue, ele diminui a produção das substâncias necessárias de cada órgão”, explica.

O médico também afirma que o fumo pode causar inúmeras doenças que afetam todo o corpo. “As principais são as cardiovasculares, como infarto, derrame e pressão alta. Além dessas, existem as doenças respiratórias, como bronquite crônica, enfisema. Também é importante lembrar sobre as infecções de repetição e os canceres, desde pulmão, esôfago, base da língua, orofaringe, que são as doenças mais comuns relacionadas ao cigarro”, observa o pneumologista.

O tratamento de combate a esse vício também está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Muller explica que o tratamento é periódico com acompanhamento médico, incluindo grupos de autoajuda, psicólogos, psiquiatras, entre outros profissionais. “É feito com ou sem medicamentos, que pode incluir tanto comprimidos com efeito antidepressivo, até adesivos e goma de mascar de nicotina”, afirma.

Efeitos do vício

Tais ações não eram feitas na época da infância de Elizete Terezinha da Costa, que começou a fumar aos nove anos. “Costumava acender o cigarro para a minha avó e aos poucos me viciei. Fumei durante 40 anos e parei apenas porque eu descobri que estava com câncer na laringe e tive que fazer cirurgia”, admite.Apesar de tentar parar com o vício, “Zete”, como é chamada, costumava fumar dois maços por dia, o que equivale a 40 cigarros.

Elizete fumou desde os nove até os 49 anos

Doenças provocam mudanças de hábitos

Em março de 2009, quando descobriu o câncer, a aposentada chegou a pesar 40 quilos. “Perdi o chão. Mas o médico falou que se eu parasse de fumar, a doença não iria evoluir, porque naquele período eram apenas células cancerígenas, manchas. Não parei, quando chegou outubro, tive que fazer a cirurgia”, conta Elizete.

Mesmo tendo certeza que faria o procedimento cirúrgico, inicialmente a ex-fumante não imaginava que iria ficar sem voz. “Quando consultei a primeira vez, o médico disse que o câncer estava só de um lado e que eu iria continuar falando normal. Ele não sabia que era tão grave e que iria precisar tirar as minhas cordas vocais. Só viu quando abriu a garganta para fazer a cirurgia. Por causa do cigarro, também tive que tirar metade do pulmão esquerdo. Depois, operei o pulmão direito, tirei um pedaço dele e agora o câncer voltou para o esquerdo, onde não podia, porque esse já tinha sido muito afetado”, esclarece.

O marido de Elizete, Domingos Davi da Silva, também fumou desde a adolescência, mas parou em 2004, após um grave infarto. “No exame que fiz deu que 65% da causa do meu ataque foi pelo tabaco, apenas o resto foi por gordura no sangue. Fiquei todo aquele tempo internado em Porto Alegre e pensei comigo: já que eu estou aqui, por que já não posso parar agora?”, lembra.

A filha do casal, Gissele Guamerin, fumou dos 15 aos 37 anos. Quando viu as dificuldades que a mãe enfrentou por conta do câncer, resolveu parar. “Senti toda a diferença, dá mais fôlego, ânimo, antes não sentia cheiro nem de perfume. Quando parei, cheguei a sonhar que estava fumando, dava para sentir a fumaça no sonho. Mas agora eu não tenho mais vontade nenhuma, parei há oito anos”, conclui.

A convivência com doenças levou a família ter uma vida mais saudável

Fotos: Thamires Bispo