Aquele moço tinha os olhos esbugalhados e era assim todo o tempo. Coisa normal para aqueles que o conheciam. De minha parte era de preocupar pois mais um pouco os olhos iriam saltar para fora do rosto. Quis saber o que tinha acontecido e ouvi:

– “Dizem que ele viu o diabo”.

Minha curiosidade foi além e direto como sempre fui perguntar:

– “Desculpe-me a curiosidade mas fiquei preocupado com tua aparência e perguntei se era uma questão de saúde……”

Fui interrompido e tive a pronta resposta:

– “Cara! Eu vi o diabo.”

Lembrei de minha infância quando contavam que o Aristides e o Chico, já nas altas horas da noite e depois de umas rodadas de canastra na “baletera”, regressavam para seus lares. Tinham que fazer o caminho a pé, parte dele curvando-se debaixo de um parreiral encravado ladeira abaixo lá no Bairro São Francisco. O Chico viu uma vaca acantonada debaixo do parreiral e largou:

– “Ristide: vara el diaulo!” (Aristides: olha o diabo).

Pois deu num desastre: o Aristide, gordo e sem pescoço, largou seus duzentos quilos ladeira abaixo e levou no peito todos os fios e postes da videira. Se foram os botões do terno, da camisa e quase perdeu o nariz. A vaca se assustou e ajudou na destruição da área.

O assunto foi proibido e não se podia comentar pois o pau pegava.

Quis contar o caso para aquele moço dos olhos esbugalhados para fazê-lo rir um pouco mas ele não tinha cara de muitos amigos e o melhor foi acreditar que de fato tinha visto o diabo.

– “Tá bom! Então você viu o diabo e o que aconteceu depois?

– “Cara! Agora eu acredito em Deus” e sem se despedir o moço foi embora. Fiquei de boca aberta e acreditei na sinceridade.

Na vida e assim: quando tem desgraça é que a gente acredita na felicidade. Nem percebemos que a felicidade está sempre presente e que são poucos os momentos em que ela nos abandona.

Precisou a visão do diabo para o moço acreditar em Deus.