A música dos anos sessenta desliza que nem açúcar derretido. A meleca entra pelos ouvidos e sai pela boca, misturada à caipirinha, que cumpre sua missão: relaxar os músculos e destravar a língua. Mas a memória…
-Esse aí é o… o… o… Puta merda! Esqueci!
De imediato vem o socorro:
-O Dutra… O nome é… Altair… Altenor… Alcimar…
Um terceiro, que chega atrasado, quer “sentar na janela”:
-Olívio, cara!
-Meu! Não confunda “c… com b…” – conclui o filósofo da turma.
A participação feminina é enérgica. Além dos princípios ideológicos, estão em jogo os valores cristãos:
-Ei, ei! Olha o nível! Pode ter criança por aí…
E tem mesmo! Meninos e meninas dos anos dourados prestes a dobrar o “Cabo das Tormentas”.
-“Sentimental eu sou…, eu sou assim!” GENTE! Lembrei! É o Altemar Dutra! Por falar nisso, ele morreu?
-O baixinho não morreu, mas está mal de vida. Parece até que anda de cadeira de rodas…
-Então não anda! – conclui o filósofo.
-Vocês estão falando do… do… do… do… do nanico…
-Da “Ilha da Fantasia”? – pergunta uma voz feminina, encharcada de “cuba livre”.
A resposta é de alguém de Marte, em barítono:
-Ho, Ho, Ho! –
-Do Papai-Noel? – ela, de novo.
-He, he…
-Do “face”? – ainda ela.
Aí, alguém em condição de ouvinte, não se aguenta:
-É o Nélson…
Mas é atropelado antes de dizer o sobrenome:
-Mandela?
A resposta sensata também é da ala de Vênus:
-Nélson Ned, gente! Vocês estão meio desmemoriados… De repente vão dizer que “Cuando calienta el sol” é do Agnaldo Timóteo!
-Ora, ora! Quem já não ronronou no cangote de uma gata “sientindo el cuerpo vibrar cerca de mi…” ? É o Agnaldo Silva!
Homens virando noveleiros ou sinapses neurais em crise? Talvez ambas as coisas… Causa e conseqüência…
-Pessoal, o almoço está servido! Vamos deixar essa “salada de frutas” pra sobremesa… se ainda lembrarmos…
-Tudo bem, mas eu entro com embargos infringentes…
Isso promete. Da música para a política, é apenas um pulo… e um risco. Assim inflamados, logo estarão ressuscitando Ulisses dos oceanos brasileiros e instalando-o na mitologia grega, ou vice-versa. Se bem que, pelo andar da carroça… e das garrafas, só Dionísio sobreviverá…
“El vin zê bon, lé un bel bicher, le méio la serva che un cavalet..”