Publiquei este texto há muitos anos e eis que ele continua atualíssimo. E sempre será, a não ser que o sistema político, a partir de agora, passe a ser diferente, com mudanças estruturais de fato e de direito.

É uma historieta que, inclusive, passeia pelas redes sociais. Mas eu a vesti com um modelito de minha “grife”, com algumas novas miçangas e paetês. A essência permanece… Vamos a ela:

Um político envolvido no “Lava o Pato”, depois de uma vida bastante dura (não é fácil viajar de jatinhos e ganhar jetons) tomou o elevador para o andar de cima. São Pedro, bonachão como sempre, fazendo vista grossa, apresentou-lhe o Céu. Mostrou-lhe os jardins paradisíacos com seus perfumes suaves, os aposentos celestiais com suas cores brandas, fez com que sentisse a textura da paz, experimentasse o sabor da tranquilidade absoluta e assim por diante. Mas o político, acostumado às orgias palacianas, achou o ambiente pacato demais, insípido e inodoro como a água (e ele era apreciador do uísque importado). Além disso, não reconheceu ninguém do seu círculo de amizades. Então propôs ao Santo recepcionista:

– Vossa Excelência não poderia me conceder um air-bus presidencial por conta do Além, para eu conhecer as bandas do Inferno?

É claro que São Pedro concedia. E lá se foi o deputado para as bundas quentes do subterrâneo. “Po….!”, exclamou o político. Aquilo, sim, era f…! Sauna, piscina térmica, uísque estrangeiro e a sua turma toda, belas mulheres, amigos, afiliados, protegidos… O diabo lhe fez as honras da casa com a reverência e simpatia que lhe eram peculiares. Depois dos habituais tapinhas nas costas, registrados pelos flashes dos papparzzi, o político optou por residir naquele lugar, não sem antes voltar para cima e dar uma satisfação ao Santo Porteiro. Velha raposa que era, estava ciente de que sua imunidade parlamentar talvez não funcionasse naquele mundo.

Já desobrigado do compromisso, o político apertou o botão térreo do elevador – agora já conhecia o sistema. Chegando lá embaixo, encontrou o diabo, de cara amarrada e com o tridente em punho aguardando-o. Ao redor, todos suavam a camisa cortando lenha e alimentando a fornalha.

– Mas… mas… não foi isso que me prometeram ontem… – gaguejou o pobre homem.

– Ontem já era! – respondeu o demo – Hoje é dia de trabalho. Já conseguimos o teu voto.