Pontualidade britânica. O rapaz bate na porta, que se abre abruptamente. Ele leva um susto. Não esperava ser recebido pela… pelo “Maguila”.
-Que que tu qué?
Olhando para cima, o cara responde timidamente:
-Tenho hora marcada com… a senhora, eu acho.
-Quem que tu é? – insiste a dona, com o corpo atravessado na entrada e uma das mãos segurando o teto.
-Sou o “Fulano de Tal” – identifica-se o sujeito, sentindo-se cada vez menor.
-Entra – ordena ela.
O rapaz obedece e para no meio da sala. Ela então “orienta”:
-Tu não vê que a maca é lá no fundo?
Ele segue, já que é tarde para escapulir. Ela comanda o espetáculo:
-Tira a roupa. Menos a cueca que não quero ver essa merda.
E continua:
-Deita com a bunda pra cima.
Como ele fica um pouco reticente, ela acrescenta:
-Não te preocupa, que não vou te enfiar nada.
Ele suspira resignado. Agora está nas mãos dela. E que mãos! Parecem duas tampas de caçarola.
Ela vai até o armário e apanha um creme cujo odor lembra a bodega de sua infância. É uma mistura de cigarro Classic mentolado com pomada Minancora e perfume Tabu. Enquanto besunta as costas dele, ela inquire:
-Que que tu faz?
-Sou professor.
-Ma tu vai tê dinheiro pra me pagar?
Como ele não respondesse, ela segue com o interrogatório:
-Quem que te indicou?
-Sua filha…
Ela aperta com mais força os “nós” dos ombros do rapaz, arrancando-lhe um “ai”.
-Quê? Como é que tu conhece ela?
-É minha colega – diz ele, omitindo os detalhes. Não é louco de provocar a “lutadora de MMA”.
Ela silencia. Está agora concentrada na manobra de “amassar pão”.
-Isso aqui parece pasta empelotada. Tem que sovar muito pra desmanchar.
Quarenta minutos depois, termina a surra. O cara sai cambaleante, mal conseguindo chegar até o veículo. Já em casa, deita-se vestido e só acorda quinze horas depois, com o soar do telefone. É sua “colega”.
-Desculpa, mas não posso ir hoje. Amanhã? Não dá! Final de semana? Vou estar ocupado… até o ano que vem, e no outro.
E desliga aliviado.