Todas as manhãs, quando Roberto acorda, ele pensa na melhor forma de contar para os pais que é homossexual. Que não gosta de meninas, mas sim, de meninos. Antes de dormir, ele lamenta por não ter conseguido conversar com a mãe e, ao mesmo tempo, pede coragem, em pensamento, para enfrentar o pai conservador. A sua rotina é um duelo diário: o preconceito e o medo travam uma queda de braço com a liberdade e com o amor.
Roberto é um personagem inventado. No entanto, essa situação se repete em centenas de lares. O cenário não é apenas o Brasil ou as grandes capitais. A realidade está aqui, em Bento Gonçalves, perto e presente. Roberto pode ser um familiar, um amigo próximo ou um colega de trabalho. Basta um olhar mais apurado e atencioso para perceber que o preconceito também está aqui. A região, com costumes e valores muito tradicionais, se assusta quando vê a diversidade.
Para combater o preconceito que está enraizado nas pessoas e trabalhar com a conscientização, Bento Gonçalves recebe a notícia da criação da primeira ONG para dar suporte a lésbicas, homossexuais, bissexuais ou qualquer outra denominação.
A batalha que está sendo iniciada tem como foco a igualdade. Como seres humanos, temos o direito de gostar de pessoas, e não de gêneros. Mais do que uma mudança de pensamento, a ONG passa a batalhar por uma mudança de cultura e convivência social harmoniosa. A ideia da organização, que demorou três anos para ser colocada em prática, tem pela frente desafios que não podemos mensurar.
Educar para a diversidade deve ser a principal meta, para que a bandeira colorida do movimento gay seja erguida sem medo e sem pudores. Sem medo de ameaças, violência, gritos de recriminação ou incentivo para “cura gay”. A cura, atualmente, deve ser contra a discriminação, contra a homofobia. Nesse caso, conscientização e respeito devem andar de mãos dadas. Não concordar com a orientação sexual de alguém não significa desrespeitar, ofender.
O segredo está em saber conviver com as diferenças, com a pluralidade das pessoas, das formas, pensamentos e sentimentos. Acreditar que toda forma de amor é válida pode ser o caminho para uma convivência livre de amarras do preconceito. Só assim todos conhecerão o real significado de liberdade e felicidade.