Reconhecida pelo enoturismo e pelo turismo de eventos, valendo-se do romantismo de suas paisagens e cultura, Bento Gonçalves começa a figurar também em listas de “destination weddings”, termo em inglês que designa as cidades que costumam servir de cenário para cerimônias de casais vindos de outras cidades, estados e até mesmo países

Vales, videiras, patrimônio arquitetônico, uma rica gastronomia e renomados rótulos de vinhos e espumantes. Os encantos que atraem mais de 1 milhão de visitantes anualmente, fazendo de Bento Gonçalves um destino reconhecido pelo enoturismo e pelo turismo de eventos, também estão levando o município a despontar em listas de “destination weddings”, expressão em inglês que designa locais buscados por noivos que pretendem subir ao altar longe de suas cidades de origem.

Uma mostra dessa realidade pode ser vislumbrada, por exemplo, nas listas de casamentos organizados por Aline Scalon e Andréia Pilon, duas das mais reconhecidas cerimonialistas da cidade. Entre os sete casamentos previamente agendados por elas para o segundo semestre de 2020, seis são de casais vindos de outros municípios, sendo que, desses, três são de fora do Estado. 

O que faz de Bento um destino para casar

Os catarinenses Sabrina Eggert e Cristian Joaquim foram um dos casais que escolheram Bento Gonçalves como destination wedding (Foto: Carol Ritzmann)

Diante da popularização dessa nova tendência de casamento e da atratividade turística local, Aline destaca que, cada vez mais, tem se focado no mercado de “destination wedding”.  Trabalhando exclusivamente na área há oito anos, conta que cerca de 90% das cerimônias que realizou nos últimos três anos, em Bento Gonçalves, são de noivos de fora do município.

 Segundo ela, o romantismo naturalmente presente nas paisagens e na cultura da “Capital do Vinho” são os fatores que têm atraído a atenção dos noivos para a cidade. “O principal é a beleza do Vale dos Vinhedos, mas a qualidade de nossa culinária e a hospitalidade local também acabam atraindo”, destaca. Ainda de acordo com a cerimonialista, a ideia de se casar ao ar livre, em meio às videiras, se tornou um conceito para quem vem de longe. “Praticamente 100% dos noivos que vêm de fora querem se casar em vinícolas. Tem esse charme de se casar ao ar livre e as fotos também ficam mais bonitas. Então, escolhemos a vinícola ideal pelo tamanho da lista de convidados”, diz. Para aproveitar a estadia, uma vez que estão em uma cidade nova e turística, para além da cerimônia, os noivos e convidados podem contar também com roteiros personalizados organizados por Aline.

Casamento de Sabrina Eggert e Cristian Joaquim (Foto: Carol Ritzmann)

Já os fatores para a popularização dessa modalidade de casamento no país podem ir além da possibilidade de aliar a festa ao prazer de viajar para um cenário inesquecível. Para Aline, o termo começou a ganhar força nos últimos anos, em paralelo à recessão econômica brasileira. Embora, em um primeiro momento, a situação possa soar estranha ou mesmo dissonante, segundo a cerimonialista, cerimônias neste modelo tendem a ser mais baratas que casamentos tradicionais, uma vez que o número de convidados costuma ser limitado. “Não existem mais casamentos de 300 pessoas. Os noivos passaram a notar que além de poderem ter uma experiência única, conhecendo um novo local, ao optarem em se casar em outra cidade, poderiam diminuir custos”, destaca.

“O turismo chegou até no casamento. Bento virou tendência nisso” , Aline Scalon

Segundo ela, os casamentos que faz costumam ter de 80 a 160 pessoas. Quanto à origem dos noivos, acrescenta que são de todas as partes do Brasil e mesmo de fora. “Tem bastante gente de São Paulo, Brasília, Santa Catarina, Roraima e Bahia, mas é bem mesclado mesmo. O mais distante foi um casal originalmente daqui, mas que vivia na Austrália. Organizei tudo por videoconferência. Um casamento de 150 pessoas”, destaca. 

Uma agradável surpresa

É dessa forma que o secretário municipal de Turismo, Rodrigo Ferri Parisotto, define o fato de a cidade estar se destacando enquanto um popular destination wedding no Brasil. Segundo ele, a Secretaria de Turismo sempre trabalhou para promover a cidade como destino de casamento, mas não tinha como comprovar a eficácia desse trabalho, uma vez que o número de casamentos não é um dado que passa pela pasta. “Sempre levamos folders que destacam o romantismo de Bento em eventos que visitamos, mostrando nossos restaurantes, vinícolas e paisagens. Então, é muito gratificante saber que esse esforço está trazendo resultados”, exclama.

Segundo Parisotto, Bento deve atrair ainda mais noivos com o passar do tempo, uma vez que o forte da cidade “nunca foi o turismo de massa, mas o intimismo”. O que pode explicar o sucesso, opina, são justamente as paisagens românticas e a preservação histórica que fazem do município um destino exclusivo. “Temos um cenário natural lindo próprio da região e casas centenárias preservadas. As pessoas podem ter a experiência de casar ao lado de um parreiral, e por mais que isso seja possível em outros locais, como Gramado, seria algo construído e não natural do local como é aqui. Isso é importante”, expressa.

Destino para registrar

Profissional brasileiro com mais prêmios pela Weddison Awards, prêmio internacional para fotógrafos de casamento, o bento-gonçalvense Yuri Nunes, 36 anos, que já registrou cerimônias em países famosos por seus cenários românticos como França, Alemanha e Bélgica, destaca as relações imagéticas comuns entre a Capital do Vinho e as cidades europeias que costumam ser o sonho de destino para muitos noivos. “Acredito que Bento Gonçalves, assim como parte da Europa, preserva a cultura de suas origens, fazendo com que nossa cidade seja um cenário leve, tranquilo e muito romântico”, sublinha.

Paris foi um dos destinos românticos já fotografados pelo bento-gonçalvense Yuri Nunes

Entre os inúmeros casamentos fotografados em Bento Gonçalves, destaca ser frequente o registro de cerimônias de pessoas vindas de fora do Estado e mesmo de outros países. “O casal mais distante veio da China, o noivo é piloto de avião em uma empresa chinesa e a noiva é médica”, conta. Apesar de já ter documentado mais de 60 casamentos, Nunes não esquece a responsabilidade e a emoção de estar por trás das câmeras em um dia tão importante para as pessoas. “Quando optam pelo meu trabalho para registar esta ocasião, sinto-me honrado e com uma grande responsabilidade de eternizar suas histórias, pois sei que a fotografia tem este poder”, diz.

Na mesma linha, o fotógrafo Jeferson Soldi, que também já fotografou cerca de 60 casais, também destaca a sensação de ser escolhido para registrar um momento tão especial, sobretudo quando se tratam de pessoas de outras cidades, com as quais nunca havia falado antes. “É muito bacana e gratificante. As pessoas nunca me viram, chegam por meio do trabalho nas redes sociais e confiam em mim para algo tão importante. Estar presente num momento assim, um dos mais felizes da família e poder captar isso, é sempre uma emoção”, sublinha.

Ensaio de casal no Vale dos Vinhedos (Foto: Jeferson Soldi)

Cada casamento é único, cada história de amor também. E elas merecem ser contadas e registradas como únicas. Dessa forma, para Soldi, uma vez que os cenários da cidade começam a se popularizar em ensaios de casamento, a maior dificuldade é encontrar novas formas de documentar os ensaios em lugares que tantas vezes já fotografou. “Essa é minha briga interna constante. Eu não quero copiar minhas próprias fotos. Já fui um milhão de vezes no Vale dos Vinhedos e não quero ir lá e fazer a mesma foto com outro casal. Minha esposa costuma comentar que as pessoas me contrataram porque viram aquela foto e se imaginaram lá, mas mesmo assim sempre tenho esse nó na cabeça, de pensar em um novo enquadramento, luz, ou posição”, explana.

Vestido e terno na mala

Do Acre para Bento

Antes mesmo de conhecer Bento Gonçalves, a acreana Maria Eduarda Bardi, 28 anos, já sabia que iria se casar na cidade. A decisão, inclusive, já estava tomada antes mesmo de ela conhecer o noivo, Fabricio Silva, 34 anos.

Segundo conta, foi ao acaso que, há cerca de três anos, viu algumas fotos de casamentos na cidade, na internet. Como que por paixão à primeira vista, decidiu na hora que um dia também se casaria ali. Conta que após firmar laços com Fabrício, o casal, por descargo de consciência, até chegou a fazer orçamentos em outras cidades, mas o magnetismo por Bento Gonçalves era maior. “Até chegamos a cotar, mas só para fazer mesmo. Eu tinha certeza que casaria no Vale dos Vinhedos. Sempre me imaginei casando no campo e quando vi as fotos nas videiras, eu sabia que ia fazer isso também”, lembra.

Após contatar o fotógrafo Jeferson Soldi, o casal veio para Bento Gonçalves pela primeira vez em dezembro de 2019, para fazer um ensaio no local. Alguns meses depois, junto com os pais, voltaram à cidade para conhecer o local onde, no dia 5 de dezembro deste ano, devem se casar. Sem nunca antes ter pisado na cidade pela qual era apaixonada, as viagens acabaram por intensificar o encantamento pelos cenários que só conhecia pela tela do computador. “Fui em dezembro para já ter uma ideia de como será o clima no casamento, e foi ótimo. Fiquei muito emocionada de ver a cidade pela primeira vez. Foi a realização de um sonho e a certeza de que o lugar que tínhamos escolhido era mesmo perfeito. É uma paisagem encantadora e todos os convidados, tanto os que conhecem como os que querem conhecer, estão muito animados”, exclama.

De Mato Grosso do Sul e São Paulo para Bento

Ao contrário do casal do Acre, Luisa Franciscatto, 30 anos, e o mato-grossense Daniel Rocha, 27 anos, já estiveram em Bento Gonçalves inúmeras vezes. Ex-colega de uma parente de Daniel, Aline conheceu o futuro noivo em uma viagem que fez ao Rio de Janeiro com a amiga. Na época, a gaúcha, que hoje reside em São Paulo, estudava em Porto Alegre, enquanto o namorado, também estudante, morava em Pelotas. Ao se encontrarem, nas férias, feriados e fins de semana, um dos destinos preferidos pelo casal era a Capital do Vinho.

Luisa e Daniel em visita na Capital do Vinho em 2016 (Foto: Arquivo Pessoal)

Uma vez graduado, Rocha foi ao Mato Grosso do Sul para estudar para um concurso, com a promessa de que, caso passasse, pediria Luisa em casamento e passariam a morar juntos finalmente. Resultado alcançado, promessa cumprida. O local para o casamento, como não poderia ser diferente, foi Bento Gonçalves.

Com 150 convidados vindos de diferentes regiões do Brasil, sobretudo, do Rio Grande do Sul, onde o casal passou a juventude, Luisa conta que o fator emocional e o deslocamento foram os fatores que mais pesaram na hora de escolher o destino para a cerimônia marcada para 12 de dezembro.  “Era uma cidade que adorávamos visitar, nossa favorita no estado pela paisagem e pela gastronomia. No fim, também ficou um roteiro mais fácil para a maioria dos amigos que são gaúchos, e um destino bem diferente para a família do Daniel e de amigos de outros estados”, sublinha.

Marcada para 12 de dezembro, a cerimônia foi pensada nos detalhes para transpassar todo o romantismo da data. “Vamos começar pelas 18h, com o sol, para que o pessoal observe a vista do entardecer e a entrada da noite em meio ao vale”, adianta. “Bento combina bastante com nossa história e muito com o que simboliza a data”, complementa.

De Minas Gerais para Bento

Celebração máxima do amor, o dia do casamento deve representar a história e a identidade do casal. Dessa forma, apesar dos desafios logísticos para os noivos e os convidados de uma cerimônia há mais de 1.600 km da cidade de origem, a mineira Haydée Navarro Oliveira, 33 anos, não esconde que a escolha de Bento Gonçalves foi “fácil” e se deu pensando exclusivamente nos gostos dela e de seu noivo, o carioca residente em Belo Horizonte, Tiago de Souza Guedes, 35 anos.

Juntos há três anos, o casal esteve mais de uma vez no Rio Grande do Sul e já conhecia o Vale dos Vinhedos. Com gosto em comum por viagens e destinos, ao escolher cidades e países para suas aventuras sempre se guiaram por temáticas como a preservação arquitetônica e, quando possível, o vinho. Não é de se estranhar, portanto, o gosto por Bento Gonçalves. “Amamos lugares antigos, por isso, quando viajamos sempre pensamos em locais como Escócia, Londres, Irlanda, os quais têm muito de arquitetura preservada. Outro ponto é que também adoramos vinícolas. O Vale dos Vinhedos reúne isso, é um pedaço da Europa no Brasil”, exclama Haydée. Outro fator que destaca é a hospitalidade vivenciada nas vezes em que estiveram no Rio Grande do Sul, a qual assinala “ser diferente de qualquer outro lugar do Brasil”.

O casamento inicialmente agendado para abril e remarcado para 10 de outubro devido à pandemia será celebrado em uma vinícola em uma cerimônia para 120 convidados, vindos de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Estados Unidos e República Dominicana.