O impasse envolvendo o local da feira ecológica em Bento Gonçalves deixa à mostra uma certa inabilidade dos governantes em lidar com o tema. Transferida da rua Marechal Floriano para a praça Centenário no final de março, sob protesto dos feirantes, desde lá a situação se arrasta com prejuízo para todos. Passados quase cinco meses da transferência, os agricultores ecológicos, que há 15 anos comercializam seus alimentos cultivados sem a aplicação de pesticidas, herbicidas ou fungicidas químicos, convivem com a insatisfação pelos resultados da mudança e com a insensibilidade do Poder Público. Os produtores reclamam de queda de movimento e de faturamento em torno de 60%. Desde lá, seis reuniões foram realizadas com a administração municipal para tentar reverter a situação, até agora sem sucesso.

Transferida sob o pretexto de desobstruir o trânsito na área central da cidade, minimizar os impactos na mobilidade urbana e por uma alegada necessidade de ampliar a feira, nada disso se confirmou. Para os produtores, o ideal seria voltar ao antigo ponto, mas a prefeitura já disse que essa hipótese não é considerada. Para buscar uma solução, os agricultores acenam agora com a possibilidade de montar a feira na rua Cândido Costa, mas a alternativa também parece não agradar a atual administração.

Uma das propostas levantadas é a venda dos itens ecológicos na Feira Livre, realizada aos sábados na rua Barão do Rio Branco, mas esta solução não teria encontrado unanimidade. O ponto positivo é que a rua já tem o trânsito bloqueado, e não causaria transtornos ao fluxo do tráfego. Mas a mistura entre os produtos comuns e orgânicos, que têm diferenciação de preço e qualidade, não agrada.

O certo é que o impasse vem se arrastando há muito tempo, e é preciso encontrar uma solução urgente. A feira ecológica é um patrimônio da cidade, e representa uma alternativa de renda importante para a agricultura familiar. É preciso incentivar que mais produtores participem, mas o que se vê é exatamente o contrário, com muitos produtores avaliando até mesmo desistir de participar. O fortalecimento da agricultura familiar, em geral, e da produção ecológica, em particular, é uma alternativa para aumentar o valor dos produtos agrícolas e oferecer à população alimentos mais sadios, que garantam qualidade de vida, e assim deve ser tratado.

É inadmissível obrigar as 50 famílias participantes a montar suas barracas em um local impróprio, com declive acentuado e sem a estrutura necessária para recebê-las, prejudicando produtores e consumidores. Após quase cinco meses em que o fluxo diminuiu e a feira se apequenou, é o descaso da administração municipal que precisa terminar. Achar uma solução que contemple tanto as questões relativas à mobilidade urbana – uma questão bastante problemática, principalmente no centro da cidade – quanto as necessidades dos produtores é fundamental. E já passou da hora. Nada justifica que, depois de seis encontros, que uma solução permanente não tenha sido encontrada.