Que a precária situação das estradas da Serra Gaúcha não é novidade para ninguém e o tema é assunto recorrente neste espaço, todos estão cansados de saber. Mas seria uma leviandade deixar de tratar do assunto neste momento, em que as chuvas intermináveis do fim do inverno e que insistem em continuar caindo neste início de primavera deterioram ainda mais rodovias esburacadas, mal sinalizadas e com paupérrima manutenção, e depois de um feriadão que registrou mais de duas dezenas de mortes nas estradas do estado, pelo menos duas delas na região.

Não se trata aqui de, com o perdão do trocadilho, chover no molhado. O que é preciso é denunciar uma postura temerária do Estado em permitir que cidadãos a quem devia proteger trafeguem em rodovias ceifadas por buracos e protelar sine die soluções definitivas. Até hoje, a Serra aguarda a recuperação da Rota do Sol, da ERS-122 e da RSC-470, por exemplo, e espera o início da recuperação dos trechos sob a responsabilidade do Crema Serra, que promete transformar a atual situação de quase 200 quilômetros de estradas serranas, mas que não passa de uma boa intenção.

A ordem de início do programa foi assinada em 2 de julho, portanto, há mais de dois meses. Porém, até agora, só foram efetuadas fases preliminares, como a desobstrução de redes de esgoto e capina das regiões periféricas às rodovias. Mas os problemas não encerram apenas com a retomada de obras. Recentemente, uma pesquisa feita em cerca de 7,9 mil quilômetros de estradas no Rio Grande do Sul mostra que 28% foram consideradas regulares, 7% ruins e outros 3% péssimas. As estradas agonizam.

Buracos, falta de sinalização, promessas de duplicação e municípios sem acesso asfaltado compõem um cenário de degradação da malha rodoviária gaúcha. Não bastasse isso, um levantamento realizado há um ano pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) aponta que apenas 7,2% das estradas do Rio Grande do Sul – entre estaduais, federais e vicinais – são pavimentadas, colocando o estado como líder na falta de asfalto no país.

A carência se deve a uma série de fatores que, somados, se traduzem em precariedade. Um deles é a baixa capacidade de investimento do Estado, o que, nas últimas três décadas, fez com que as grandes obras não saíssem do papel. Somado a isso, a burocracia faz com que o Rio Grande do Sul padeça. O aumento da frota e o excesso de peso transportado pelos caminhões agravam o quadro. Como resultado da situação que se aproxima do caos, o que se vê são reclamações constantes e um dramático aumento das estatísticas fatais.

Até 2014, o governo do Estado promete investir R$ 2,6 bilhões nas estradas gaúchas. Os recursos, do Banco Mundial (Bird) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deverão ser usados na construção de acessos, na duplicação de rodovias e obras de ligação regional. O governo afirma que, depois de muitos anos, hoje há um cenário diferente. Não é o que se vê.

Esta semana, o Daer anunciou que não sabe quando serão retomadas as obras da ponte na ERS-431, porque o projeto da construção, iniciada há cinco anos, sofre deterioração e teria que ser refeito. Apenas mais um exemplo do descaso de um Estado que, ao fim das contas, não consegue manter estrada alguma em condições mínimas de trafegabilidade para garantir a segurança de seus cidadãos.