A luta dos trabalhadores do campo e as morosas conquistas por condições iguais ou parecidas com aquelas há muitos anos já usufruídas pelos homens do meio urbano, não só em termos de tecnologias e infraestruturas melhores, mas referindo-se apenas ao básico: energia elétrica e internet melhoraram muito, mas ainda estão longe do ideal. Para promover uma reflexão sobre a batalha desses trabalhadores, o dia 17 de abril marca o Dia Internacional da Luta dos Trabalhadores do Campo.

Para se deparar com o cenário descrito não é preciso ir muito longe. No interior de Bento é possível ver de perto essas situações de falta de energia e estradas ruins. De modo geral, os trabalhadores do campo tornam-se reféns principalmente da Prefeitura e da Rio Grande Energia (RGE). Essa realidade foi descrita pelo Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, Cedenir Postal.

Cedenir faz uma comparação de Bento com o interior de outras cidades. “Os outros municípios de abrangência do Sindicato avançaram muito na questão do asfalto. Bento parou no tempo. As estradas estão abandonadas, faz anos que não tem nenhum investimento em asfaltamento do interior. Falta manutenção para as estradas de chão, demoram para arrumar e a desculpa é que as maquinas são velhas, que estragam”, pontua.

Estradas do interior continuam sem asfaltamento

Outro problema relatado pelo Cedenir diz respeito à energia elétrica. De acordo com ele, os agricultores evoluíram tecnologicamente e a RGE não acompanha o ritmo. Além disso, quando acontecem os temporais, quem mora no interior fica vários dias sem luz, tendo grandes prejuízos. “Tem casos de locais mais distantes que a luz é muito fraca, se os trabalhadores quiserem aumentar a produção, comprar mais maquinários, dificulta. As redes do interior ficaram um bom tempo sem ter investimento nenhum, as árvores tomam conta das redes, tem postes podres”, descreve.

As dificuldades na Linha Eulália

Paulo Gabardo, 64 anos, trabalhador agrícola, relembra com orgulho uma história que começou em outras gerações. “Meu avô veio da Itália em 1877, comprou essa colônia de terra e se instalou aqui na Linha Eulália. O vô distribuiu a terra entre três filhos. Então, nessa região tem pessoas de toda família. Meu avô plantou parreira, meu pai plantou parreira, eu planto parreira”, conta.

Paulo Gabardo, 64 anos, trabalhador agrícola

Com a ajuda da esposa Noemia Maria Gabardo, o casal buscou na agroindústria familiar uma fonte de renda extra. Sobre o que ainda falta avançar para o agricultor ter condições melhores de trabalho e moradia, Gabardo cita os mesmos problemas relatados pelo Postal. “Em Bento não se vê um km de asfalto. A Prefeitura está deixando o agricultor muito de lado. O serviço da RGE também é muito ruim aqui, a luz é monofásica, precisamos de uma trifásica”, afirma.

Questionado sobre o que pode-se comemorar nessa data, Gabardo rebate com outra pergunta: “comemorar o que?”. E afirma: “Não tem muita coisa para comemorar, na verdade temos que continuar trabalhando e ir para frente”, finaliza.