Religiosos e fortes. É assim que a coordenadora das catequistas, Tânia de Paula Tomasi, define a comunidade que mora em Tuiuty, distrito de Bento Gonçalves. Ela conta que os moradores da localidade têm o costume de passar em frente à Igreja Addolorata, construída em 1915, e fazer o sinal da cruz, como gesto de respeito.

Por lá, o cultivo pela religião é passado de geração para geração. De acordo com Tânia, é muito comum os avós levarem os netos até a paróquia para fazer a inscrição da catequese. “Muitas vezes é o vô ou a avó que trazem a criança. Isso mostra o cunho, o berço de que eles insistem em fazer a catequese”, afirma.

Coordenadora geral das catequistas, Tânia Paula Tomasi, afirma que as crianças da comunidade têm grande respeito pela religião

Devido a pandemia do coronavírus, as missas e os encontros das catequeses da comunidade deixaram de ser realizados de forma presencial por alguns meses. Portanto, virtualmente foi a forma de manter e dar continuidade ao trabalho já iniciado neste ano.

Como consequência, todas as paróquias da região ficaram totalmente conectadas. Alguns idosos que não tinham celular, compraram o aparelho e instalaram o WhatsApp para manter a comunicação. “Acredito que foi uma maneira carinhosa das pessoas estarem juntas nesse momento” avalia a coordenadora.

Catequese online

Para não interromper os encontros das catequeses, o Padre Daniel D’Agnoluzzo Zatti, sugeriu que fossem realizados de forma online. Foi a primeira vez trabalhando de forma remota. Com muito esforço de todos os envolvidos, deu tudo certo e os 28 encontros programados foram concretizados. “Apesar de algumas dificuldades foi excelente”, afirma Tânia.

As famílias das crianças recebiam arquivos com os conteúdos que foram digitalizados especialmente para os encontros. “Os padres Daniel e Miguel Mosena, gravavam vídeos explicando a passagem bíblica e isso foi um sucesso que ajudou muito na catequese”, assegura.

Os catequisandos também recebiam trabalhos, que deveriam ser realizados e enviados em prazo pré-determinado. “Os encontros eram online, mas organizados. As crianças tinham que mandar uma tarefa toda semana, se não conseguiam, podiam enviar na outra, mas tinham o compromisso de fazer. A catequista acompanhava de casa, com a chamada dela”, afirma a coordenadora.

De acordo com Tânia, esse foi o ano com o maior número de catequisandos. Ao todo, eram 24, entretanto, alguns optaram por não participar da modalidade remota. “Eles ainda gostam do presencial, do olho no olho, da voz. Perdemos oito, então, ficamos com 16 crianças”, conta.

Educação: 144 alunos aguardam retorno das aulas

A Escola Estadual de Ensino Fundamental Ângelo Salton, que atende 144 alunos, dos nove aos 15 anos, já tem data prevista para retornar às atividades de forma presencial: dia 12 de novembro para os anos finais e 16 de novembro para os anos iniciais, segundo a diretora Simone Balssanello.

Embora afirme ter sido um desafio trabalhar de forma remota nos últimos meses, Simone conta que os estudantes de Tuiuty são muito dedicados e educados. “Aceitam e participam de todas as atividades propostas”.

Além disso, ela afirma que os pais ajudam muito e são participativos. “A grande maioria acompanha a vida escolar dos filhos. Família e escola é uma parceria que dá certo”, conclui.

Distrito em linha crescente

A centenária casa amarela da família Cainelli é um local histórico em Tuiuty. Sob aquele teto, diversas gerações viram o distrito dar os primeiros passos rumo ao que, com trabalho árduo deles e de toda comunidade, se tornou hoje.

O proprietário da Vinícola Cainelli, Roberto Cainelli, 67 anos, é uma dessas memórias vivas. Ao relembrar a infância, embora se refira exatamente ao mesmo local em que mora hoje, as recordações são de um lugar completamente diferente.

Cainelli afirma que turismo só tende a crescer na região

A estrada em frente à casa, que ainda nem era asfaltada, era onde a criançada jogava futebol. Ir para os bailes da comunidade com os amigos também era comum. “Lembro que naquela época, era esse o nosso divertimento dos finais de semana”, conta.

Com o passar desses anos, Cainelli afirma que o distrito cresceu e se desenvolveu, principalmente com a ajuda do turismo, que valoriza a região. “Hoje temos várias indústrias por aqui, temos gastronomia e a beleza do Vale do Rio das Antas. Tudo isso nos ajuda. O turismo só tende a crescer, porque o pessoal está descobrindo a nossa região”, destaca.

Quem também nasceu e cresceu em Tuiuty, é o proprietário da Sucos de Uva Menoncin, Marcelo Menoncin, 30 anos. Com amor e admiração pela localidade, ele afirma que não trocaria o distrito por nenhum outro local. “É um lugar ótimo para viver. É a nossa raiz. Estamos em um local calmo, tranquilo e prospero”, afirma.

Ao visualizar Tuiuty no futuro, Menoncin aposta no turismo como fator principal para o desenvolvimento do interior, principalmente devido a grande diversidade do local. “Aqui as pessoas encontram cerveja, suco, cachaça, vinho, aventura. Tem tudo em um só lugar. Claro, é um roteiro jovem se comparado aos outros, mas aos poucos está se desenvolvendo e se destacando lá fora”, analisa.

Conhecimento para manter os jovens no campo

Sempre muito ligado a terra e demonstrando muito amor e respeito pela história dos antepassados, o gerente executivo da Vinícola Cainelli e Coordenador Geral do Comitê da 17° Fenavinho, Roberto Cainelli Junior, 31 anos, tem muito orgulho das origens. “Acho bem importante dentro de uma associação familiar, ter muito claro toda história que as pessoas tiveram para chegar a ter o que tem hoje”, afirma.

Por incentivo da família, começou a trabalhar ainda muito novo, aos 12 anos. Naquela época, trabalhava nos vinhedos da família e dos vizinhos. “Gostava de ter essa independência financeira, de ter meu dinheiro para comprar o que eu quisesse”, relembra.

Roberto Cainelli Junior começou a trabalhar no campo aos 12 anos

Após formar-se como técnico em enologia e tecnólogo em viticultura e enologia, começou a atuar profissionalmente. Inicialmente, em empresas da área, mas também no segmento de turismo. Entretanto, desde 2012, atua na vinícola da família, onde assumiu a parte administrativa.

Cainelli é um exemplo de jovem que valoriza o interior e aposta no potencial de Tuiuty. Ele acredita que para a juventude se manter no campo é preciso levar conhecimento. “É isso que precisa, levar conhecimento até as pessoas, até as famílias que estão no interior. Isso é muito importante”, assegura.

Além disso, Cainelli acrescenta que quando se trata de uma associação familiar, é necessário ter claro qual a função de cada pessoa dentro da empresa, para que isso também facilite a permanência dos jovens no campo. “Quando se fala em família é mais difícil de gerir, então é importante ter claro e bem dividido quem faz o que”, analisa.

Futuro positivo para a região

Aos olhos de Cainelli, quando o assunto é turismo e cultura, deve-se levar em consideração o interior, “porque a cultura que promove o turismo está nas pessoas do interior e elas tem que ser valorizadas”, afirma.

Cainelli define Tuiuty como uma joia ainda não lapidada. Ele acredita que a região ainda tem muito espaço para ser explorado. “Desde a questão do enoturismo, do turismo aquático, de natureza, pois temos uma das paisagens mais incríveis do Rio Grande do Sul, quiçá do Brasil, além da própria ferroaria, algo que pode ser explorado e a gente pensa em explorar futuramente “, aponta.

Sobre a expansão da região, ele afirma que os números são positivos para o turismo. “Vejo um futuro brilhante para a comunidade, juntando a cultura, a paisagem, o turismo de natureza, de contemplação, de aventura e ao mesmo tempo casando com toda questão vitivinícola local” finaliza.

Pais querem creche no distrito

Uma necessidade dos pais e um pedido antigo dos moradores de Tuiuty é por uma creche. Menoncin é pai da Rafaela, de cinco anos, que precisa se deslocar até São Valentin para estudar. “Temos essa carência. Os pais acabam tendo que pagar alguém para cuidar das crianças, pela falta de uma creche”, afirma.

Marcelo Menoncin e a filha Rafaela de 5 anos

Recentemente abriu uma na localidade, entretanto, Menoncin diz que é particular e reforça que uma pública faz falta. “Supriu um pouco da demanda das mães, mas se o poder público pudesse investir nisso, seria o ideal, porque é algo que a gente vem lutando a muitos anos”, salienta.