Embora o Brasil sofra com uma crise de legitimidade na política, o número de pessoas filiadas a partidos cresceu 24% nos últimos sete anos em Bento Gonçalves. Em 2010, cerca de 8,3 mil eleitores possuíam filiação partidária, enquanto em maio de 2017 mais de 10 mil formavam o quadro de filiados das agremiações políticas. Os dados foram levantados pelo Semanário com base em informações disponibilizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE.

Também foi constatado que o número de partidos com membros no município cresceu de 20 para 30, mesmo que a maioria tenha menos do que 20 filiados. O PMDB, o PP e o PDT, com respectivamente 1.885, 1.718 e 1.700 integrantes, são as legendas com maior número de membros. Já o PC do B, PHS e PT foram os partidos que mais perderam integrantes ao longo dos anos analisados.

Para o cientista político João Ignacio Pires Lucas, da Universidade de Caxias do Sul (UCS), o aumento no número de filiados não significa necessariamente participação na política. Ele entende que as pessoas podem permanecer no partido mesmo sem comparecer às assembleias ou ter atuação no âmbito político. “Alguns nem lembram que são filiados e a desfiliação não é um processo tão simples, então é difícil ter uma noção precisa de quantos participam”, aponta.

Pires Lucas ainda observa que nos períodos eleitorais, o número de integrantes cresce, sendo comum que as agremiações com cargos no Executivo ou Legislativo tenham maior número de membros. “O partido do prefeito, por exemplo, tende a ter mais filiados”, avalia.

No caso de Bento Gonçalves, as filiações cresceram quase 10% entre 2015 e 2016, puxadas, sobretudo, pelo PRB, PPS e PTB, que fizeram parte da coligação “Eu Digo Sim Para Bento”, do prefeito Guilherme Pasin. O PRP, PDT e PT foram os partidos que mais perderam filiados neste período.

Novas siglas

Na observação do cientista político, os partidos com nomes associados aos escândalos de corrupção tendem a perder filiações, o que explica a redução dos filiados no PT. Ele considera que o PP também deve perder integrantes em longo prazo, uma vez que é a sigla mais citada na operação da Polícia Federal. “Tende a aumentar o número de filiados no período do mandato do prefeito, mas depois pode baixar novamente”, prevê.

Conforme ele, os partidos estão buscando mudar a roupagem para se distanciar dos escândalos políticos, utilizando nomes mais emblemáticos. Ele cita o exemplo do PTN, que mudou o nome para Podemos. “Na Espanha tem um partido com o mesmo nome, então se percebe que eles trocam na busca por militantes que vislumbrem alguma oportunidade de participar da política”, afirma. Pires Lucas também coloca que o Brasil tem uma visão crítica dos partidos desde sempre, também em virtude das restrições à liberdade partidária no período ditatorial.