A história da moda diz que foi o cinema quem lançou a tendência do vestido sem alças, com a personagem do filme Gilda, Rita Hayworth, em 1946.
Estou aqui para desmentir o registro. Na verdade, o primeiro modelito surgiu em Bento Gonçalves, antes dos anos quarenta, com a estilista por vocação e intuição, “vó Delfina”. Ela criou e costurou para sua filha um vestido roxo furta-cor que deixava o colo e os ombros totalmente livres, numa época em que a parte feminina mais cobiçada ainda era o tornozelo.
Leonor estreou-o num baile do Clube Aliança, provocando um verdadeiro frenesi no meio social da cidade. O tititi chegou aos ouvidos do padre, que inquiriu a “despudorada” no confessionário, dias depois do evento. E olha que, naquele tempo, nem havia face-book…
Retornando ao Aristocrático… Ao deslizar pelo tapete vermelho que cobria os degraus rumo ao salão, Leonor roubou todos os olhares. De queixo caído, os homens babavam, e as mulheres condenavam a ousadia da moça, possivelmente numa inveja disfarçada. Afinal era preciso ser muito mulher para encarar a sociedade de frente… e de costas também, é claro.
Em meio ao puritanismo da época, surgiu um belo doutor de Garibaldi, que ficou encantado com tamanha leveza. O jovem tratou de se infiltrar na família, pediu licença e enlaçou a moça numa inesquecível valsa, e outra, mais outra, até o fim da noite. Foi amor à primeira dança, que não acabou com o casamento… nem com a despedida inexorável do companheiro, há alguns anos atrás. Coisa rara.

PS: A jovem Leonor, do texto acima, completou no dia 12/02, oitenta e sete anos. Parabéns!

Por Falar de Amor…

Minhas primeiras lágrimas de amor foram para o espanhol Antonio Prieto, no longa “La Novia”, de 1961. Na época, a principal característica do cinema era fazer chorar… ou fazer rir. Não tinha o meio termo, ao menos não que eu me lembre.

Muitos filmes depois, ainda carrego viva na memória o enredo do memorável “La Novia”: a mocinha, que era disputada pelo jovem cantor e por um médico, teve de escolher o segundo, embora amasse o primeiro, por causa de seu grave estado de saúde. Ela precisava de cuidados ininterruptos, o que só um mago do coração como marido poderia lhe oferecer.

As músicas mais marcantes foram “El Reloj” e “La Novia”, obviamente. Aliás elas, e não o personagem de Prieto, é que me prenderam, com a linguagem universal do amor.

Música é assim: quando nos toca, estamos fadados à entrega… “Detén el tempo em tus manos/ Haz esta noche perpetua/ Para que nunca se vaya de mi/ Para que nunca amanezca…”