…de dormir?  De viajar? De ver o contracheque?  Não, não e não.

O conselho foi de eu tomar um Rivotril antes de ler, não porque me envolva tanto na história que seja incapaz de digeri-la. Sei jiboiar uma boa trama e um bom drama sem necessidade de calmante. A questão é que me bate uma puta ansiedade, uma sensação de urgência que me leva a espiar o final do romance.

Nem sempre fui assim. Nos anos sessenta, quando o tempo andava de carroça, eu lia com a maior calma do mundo. Na época, se houvesse uma turbulência interior, ela era aplacada com leitura. Hoje, parece que o tempo se esvai que nem água na mão, então preciso aproveitá-lo ao máximo. E a turbulência interior é tão intensa que me faz pular para a última página sem ter lido o meio. Será isso a tal Síndrome da Pressa?

“É preciso desacelerar”, recomendam os especialistas do assunto. E pra desacelerar, passei a semana passada inteirinha longe da rotina – geográfica, e psicologicamente. E aproveitei pra por em dia leituras começadas e adiadas há décadas. Retomei “O Retrato de Dorian Gray”, afinal deixar Oscar Wilde passar batido no currículo é uma temeridade para quem se propõe a escrever. Mas, após ler três quintos do livro (estou dando aula de frações), não aguentei e pulei pro final. Quase fui condenada ao fogo eterno. Depois passei para outro deus da literatura, Tolstói, com “A Morte de Ivan Ilitch”. Amei! É curtinho, letra enorme (no tablete que ganhei especialmente para ler), mas lá pelas tantas fiquei pensando “se o cara está morto no princípio, o que pode acontecer no final?”  E lá fui eu. Na mais nova tentativa, encarei o “Último Dia de um Condenado”, de Víctor Hugo, não o de Caxias do Sul – este é atual, aquele é do século XIX. Então estava eu bem bela e fagueira lendo a saga do cara, quando o maior leitor da família me disse “li até as duas da madruga pra terminar e fiquei tão indignado com o final que tive insônia”. Putz! Mexeu com os meus brios. E os diabinhos começaram a cochichar no meu ouvido.  Gastei minha cota de ansiedade do dia pulando para o desfecho.

Se também fiquei indignada? Só depois de compreender o final, através da explicação de quem não pulou… Mas para isso tive que jurar que não cometeria novo atentado à literatura. De dedos cruzados…