A mistura de dor e revolta são comuns quando crimes da natureza do ocorrido neste domingo, 16, acontecem em Bento Gonçalves. Infelizmente, a constatação é de que todos os envolvidos na questão são culpados desta tragédia. Como o “se” não existe, esta é a realidade que atormenta a vida das famílias de todos os envolvidos nesta situação. No desempenho de sua função social, a polícia tem sido alvo constante de atenção e de críticas. Na maior parte delas, as análises são contaminadas por uma polarização primária em que são apontados com uma nitidez ilusória os mocinhos e os bandidos, o bem e o mal.

Não vão faltar aqueles que, nas redes sociais, vão querer condenar a atitude de um ou de outro. Nós, que olhamos a situação de fora, julgamos, muitas vezes, sem analisarmos os fatos de forma isenta. Afinal, é mais fácil dizer que os policiais são bandidos, ou que os rapazes são vagabundos. Sobraram comentários deste tipo ao longo destes três dias.
Neste crime horrível, que provoca dor e revolta ao mesmo tempo em familiares das vítimas e moradores dos bairros Santa Helena e Fátima, não há mocinhos e nem bandidos. Existem apenas culpados. Sim, ninguém pode se eximir de culpa numa ocorrência destas e isto é fato.

Os jovens que morreram no baú da Fiorino sabiam que era errado pegar carona naquele compartimento, mas, mesmo assim, vieram nele. O motorista da Fiorino, que tinha carteira provisória, sabia que não poderia dirigir alcoolizado, andar em alta velocidade e levar pessoas de carona naquele veículo, mas, mesmo assim, o fez. Os policiais militares tinham o conhecimento que atirar daquela forma em um veículo não é o procedimento mais correto, mas, mesmo assim, acabaram fazendo.
Ficam agora os questionamentos. Porque o motorista não parou após as insistentes ordens dos policiais? Por qual motivo os policiais não deram nenhum tiro nos pneus da Fiorino? O revólver era dos rapazes ou foi realmente plantado pela Brigada Militar? Todas estas perguntas e outras mais terão que ser respondidas pelo delegado Álvaro Becker, responsável pelo inquérito policial.

A Brigada Militar de Bento Gonçalves é destacada no município pelos seus relevantes e prestativos serviços. O policiamento comunitário aproximou os policiais aos cidadãos e a confiança na segurança pública aumentou sensivelmente. Porém, o mês de março tem sido atípico em termos de violência. Foram seis mortes em duas semanas, sem falar nas dezenas de roubos, furtos e arrombamentos que vinham acontecendo.

Tanto a imprensa, quanto a comunidade em geral cobravam uma resposta dos órgãos de segurança. E, talvez, na ânsia de dar uma resposta positiva em mais uma ação, estes policiais tenham se excedido. São eles agora bandidos, criminosos? Inocentes morreram numa ação onde todos os envolvidos erraram de alguma forma. O sentimento de culpa vai permanecer por muito tempo, com certeza. Mas é importante também não virar as costas para uma instituição que tanto faz por nosso município como a Brigada Militar.