Segunda década do segundo milênio. Projetado para ser um grande navio, o Titanic é lançado nas águas brasileiras, gerando lendas de que é inafundável.

A embarcação inicia sua viagem inaugural com grande parte dos passageiros felizes, diante da expectativa de uma viagem profícua que se descortina no horizonte…

Então, fatalmente, cai uma tempestade. Assim do nada, sem que o deslocamento de nuvens cumulonimbus seja captado por imagens de satélite e radar.

A natureza endoidece. O vento uiva. Os raios brilham e os trovões rugem. As águas se avolumam, assaltam, engolem e matam. Os elementos em fúria revelam a fragilidade humana. Todos nós somos feitos da mesma matéria e estamos no mesmo barco…

O comandante tenta segurar o leme, mas o transatlântico colide com um iceberg que se desprendera do Mar Amarelo, até se quebrar em milhares de estilhaços de gelo que se espalharam pelos sete mares. O maior desastre marítimo em tempos de paz, cuja tendência é evoluir para um estado de guerra.

Avariado, o navio sacode feito uma gangorra. Move-se para cima e para baixo. Ora a proa esquerda quase entorna, ora é a direita que quase afunda. Um desequilíbrio total. Não há entendimento, não há tolerância, não há compromisso com a verdade, não há empenho para a busca de soluções, qualquer palavra que se diga é repetida mil vezes e interpretada à revelia, qualquer gesto é maximizado ao extremo, tudo em nome de uma pseudoimparcialidade.

Âncoras são jogadas. A viagem é interrompida. O que era para ser um grande evento transforma-se numa luta inglória. E nesse panorama sinistro, algumas forças obscuras aproveitam a tormenta e saem do anonimato forçado para exibir seu novo passaporte, carimbado por suposta ética, que lhes dá o direito de julgar e penalizar. “Para o bem dos passageiros”, garante a hipocrisia.

Ah, os passageiros! Metralhados por conteúdos distorcidos e equívocos jornalísticos de todos os lados, entram na briga com suas “próprias” convicções.

Mas a confusão é grande. Ninguém mais se entende. Está uma verdadeira Torre de Babel. Cada qual com sua língua, suas crenças, seus motivos, seus interesses, seu ego, seus demônios, suas dores, seus assombros, suas vulnerabilidades e idiossincrasias. E todos afundando no mesmo barco… Quase todos. Sempre há botes salva-vidas à disposição de oportunistas.