Diz a lenda que Fernando Martinho de Bulhões, ordenado padre com o nome de Antônio, lá pelos idos do século XII, pregava em Pádua, na Itália, quando teve uma visão do seu pai próximo a ser executado. O jovem cobriu os olhos com as mãos e imediatamente se transportou para Portugal, conseguindo assim salvar seu genitor. Segundo os fiéis, a ausência foi de um ou dois segundos, embora ele tivesse viajado cerca de dois mil quilômetros para tirar o pai da forca.

Nosso querido santo casamenteiro teria assim gerado essa máxima popular que, com o passar dos anos, ganhou reforço científico: a Síndrome da Pressa, fenômeno este vivenciado cada vez mais no mundo contemporâneo.

 Analisando minha vida adulta, percebo que foi uma corrida contra o tempo para caber tudo nas vinte e quatro horas, inclusive dormir. Agora, desfrutando das benesses da inatividade remunerada (vamos dourar a pílula), desacelerei, o que me faz crer que a pressa da época era condição de sobrevivência.

Esta síndrome também tem uma história. Conta-se que, lá pelos anos 59 e 60 do século passado, o cardiologista Meyer Friedman observou que a poltrona do seu consultório estava desgastada em apenas uma metade do assento, o que indicava que seus pacientes apoiavam a “buzanfa” sobre um glúteo só, na pressa de se levantar e sair. Após um estudo mais aprofundado, a patologia foi batizada como “Hurry Sickness”, por aqui, Síndrome da Pressa.

Nada que a idade não atenue, por bem ou por mal. Falando sério, hoje já consigo ler um livro sem espiar como termina. Mas volta e meia, dá uma coceira no córtex e… Enfim…

Estava eu passando pelo mercado quando resolvi entrar e escolher um melão. Na fila da pesagem, uma jovem dona de casa ia depositando, na balança, enormes sacos plásticos com um ou dois exemplares de todas as frutas expostas. Com um cotovelo plantado no balcão e cuidando para as mãos não serem atingidas por eventuais variantes gregas da Covid19, fiquei aguardando pacientemente…  Suspirei quando a moça acabou de “tirar coelhos da cartola”, mas aí ela passou a questionar sobre os frios, mostrando dúvidas na escolha. Não aguentei. Com a irritação oculta – bendita máscara –, larguei o melãozinho amarelinho e me mandei pra casa, como se tivesse que “tirar o pai da forca.” Nem é preciso dizer que passei o resto do dia com a pressa jogada no sofá, sonhando com o melão…