Thompson Didoné fala sobre o trabalho em meio à catástrofe. Ele destaca a dificuldade em obter os números oficiais, que serão divulgados em breve, e explica quais medidas são necessárias para que os agricultores atingidos possam se reerguer

Thompson Didone, Chefe do Escritório da Emater de Bento Gonçalves, destaca a importância de políticas públicas para o enfrentamento dos problemas nas áreas atingidas 

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) atua em todos os municípios do Brasil, tendo como principal função auxiliar os agricultores e lidar com todas as questões relacionadas à agricultura. Em Bento Gonçalves, a atuação da EMATER foi e continua sendo fundamental em relação às chuvas que atingiram todo o estado, já que os locais mais afetados foram, em sua maioria, áreas rurais. Devido a isso, a empresa realizou diversas atividades para auxiliar os atingidos e está planejando novas ações para o futuro com o apoio de políticas públicas.

O que é o Emater

Thompson Didoné explica a função e a importância social da Emater. “A Emater é a empresa de assistência técnica e extensão rural oficial do Governo do Estado. A única empresa que presta assistência técnica para o Estado do Rio Grande do Sul é a Emater. É um serviço contratado e licitado. Hoje, a Emater está em fase de reestruturação, visto que foi realizado um concurso no ano passado e estão sendo chamados novos colegas. Temos, por exemplo, o colega Fabiano, que vai atender Santa Tereza e está atualmente em treinamento. Assim, o quadro de funcionários está sendo ampliado para fortalecer ainda mais a empresa”, relata.

Durante a reestruturação para aumentar o quadro de trabalhadores, a maior dificuldade que o instituto enfrenta hoje é justamente o número insuficiente de funcionários. “O grande desafio da Emater hoje é ter pessoal suficiente para atender todos os agricultores. Temos inúmeros agricultores, e a equipe, na maioria dos municípios, não é grande. Por isso, procuramos atender sempre grupos, alcançando o maior público possível. Trabalho bastante com mídia, jornais e programas de rádio. Muitas pessoas acompanham programas de rádio, jornais e reportagens para TV”, explica.

Didoné também destaca que o instituto possui duas frentes de atuação, com serviços diferenciados em cada uma delas. “A Emater, na verdade, é composta por duas empresas. Temos a parte de certificação, que não acontece em Bento Gonçalves, mas inclui a certificação de produtos de origem vegetal, como o arroz e o feijão que você consome. Isso é feito pela Emater em alguns postos de fiscalização, como em Vacaria e Torres, entre outros,” explica. Ele acrescenta: “O outro departamento da empresa é a assistência técnica e extensão rural, na qual atuamos. Esse departamento também se divide em duas áreas: a técnica, focada na organização das famílias, e a social. Ambas têm o mesmo peso. Na parte social, por exemplo, temos uma colega que hoje está na FSG, junto ao Instituto Federal, Embrapa e sindicatos, promovendo ações para pessoas que foram resgatadas, cuidando de toda a parte de bem-estar social e de plantas medicinais,” ressalta.

Números de propriedades atingidas 

Apesar de já terem se passado algumas semanas desde os acontecimentos envolvendo chuvas e deslizamentos no município, a Emater ainda não pode fornecer números oficiais sobre os danos causados, pois muitos locais ainda são inacessíveis. “Existe uma estimativa preliminar, mas ainda não divulgamos os números, porque esse levantamento foi baseado em depoimentos dos agricultores resgatados e em imagens de drones fornecidas pela defesa civil. Atualmente, ainda não temos acesso à maioria das localidades, pois os bombeiros e a defesa civil não permitem, devido ao risco de novos deslizamentos e barreiras, além de riscos físicos e o fato de as estradas estarem bloqueadas. Por isso, não conseguimos obter um laudo preciso. Pedimos paciência a todos, pois em alguns dias teremos um levantamento mais detalhado”, explica.

Didoné relata como é feito para obter os números mais precisos possíveis sobre os danos, reunindo outras entidades. “O levantamento visa avaliar todas as perdas ocorridas no meio rural, principalmente em relação aos cultivos de uva, ameixa, pêssego, laranja, bergamota, pomares e hortas domésticas, além de casas, galpões e acessos. Coletamos esses dados junto aos produtores e eles são referendados pelo Conselho Municipal da Agricultura, que conta com representantes de todos os distritos, agricultores, prefeitos, bancos, Embrapa, o Instituto e a Emater. Cada um opina sobre esses números, tentando chegar o mais próximo possível da realidade dos prejuízos no meio rural”, relata.

Em alguns casos mais severos, o deslizamento foi tão intenso que deixou apenas rochas, tornando impossível o cultivo nessas áreas. “Houve muitos deslizamentos de terra tanto na mata virgem quanto nos vinhedos e pomares. Em alguns lugares, só restou o leito do rio. Nessas áreas, não será possível mais realizar agricultura. Em outros locais, o mato cobriu os vinhedos e os pomares, então será necessário um trabalho árduo de remoção de árvores e entulhos para poder reutilizar o terreno,” destaca.

Recuperação das perdas

Segundo o chefe da entidade no município, além dos casos graves onde não restou área para cultivo, é possível recuperar outras áreas, mas isso requer apoio público. “Em vários casos sim, é possível recuperar, mas é fundamental o apoio público. Atualmente, o principal aspecto que destacamos em nosso relatório para a empresa é que essas pessoas precisam de segurança para retornar às suas propriedades. A prefeitura está realizando laudos geológicos com geólogos da Vale, geólogos do Rio de Janeiro e locais. Cada família está recebendo um laudo de sua propriedade para determinar a viabilidade de retorno. Portanto, a prioridade é garantir a tranquilidade para que os produtores possam voltar e trabalhar em suas propriedades. Em segundo lugar, a questão da infraestrutura básica,” enumera.

Outro aspecto que precisa ser priorizado é a acessibilidade, uma vez que muitas localidades ainda estão sem acesso. “A questão das estradas é crítica; muitas barreiras caíram. Estive conversando agora com moradores da Linha Ferri e eles ainda não conseguiram retornar para casa. São Luís e Tuiuty também enfrentam a mesma situação. As máquinas estão trabalhando, e a Prefeitura, o poder público, está fazendo sua parte, mas isso leva tempo,” ressalta.

Além disso, o rastro de destruição é ainda mais extenso quando se considera que grande parte da infraestrutura foi danificada. “Toda a rede de água, por exemplo, das linhas Ferri, De Mari e São Luís foi destruída. As pessoas precisam de água e luz para retornar às suas propriedades. Primeiro, é crucial garantir a segurança sem riscos. Em seguida, as prioridades são as estradas, água e luz, seguidas pela reconstrução das infraestruturas das propriedades, como casas e galpões. Por último, mas não menos importante, estão os vinhedos. Atualmente, o foco principal é o bem-estar social. Depois disso, daremos atenção à recuperação dos vinhedos. A Embrapa está organizando um grupo técnico para planejar a reconstrução dessas áreas, e é importante que todos estejam cientes desse trabalho em andamento,” alega.

Outro problema decorrente da falta de acessibilidade é que os produtores que já colheram sua produção agora estão enfrentando dificuldades para escoá-la. “Estamos enfrentando perdas significativas na produção de laranja e bergamota porque as pessoas não conseguem transportar os produtos para a cidade. Existem vendas, mas os produtos não conseguem sair das propriedades devido à falta de estradas. Isso está afetando vários produtores. Por exemplo, há um produtor com 20 hectares de laranja e bergamota que não consegue escoar sua produção, outro com 10 hectares na mesma situação, e um terceiro com 50 toneladas enfrentando o mesmo problema. Embora a produção não chegue toda de uma vez, ela é escalonada, mas parte dela está sendo perdida,” explica.

A expectativa é que os três poderes trabalhem em conjunto para ajudar aqueles que tiveram perdas significativas e precisam de auxílio neste momento difícil. “Esperamos que haja políticas públicas municipais, estaduais ou federais para reabilitar essas pessoas. É um dos papéis da Emater garantir que essas políticas públicas cheguem aos agricultores. Quando há projetos do município, estado ou governo federal, seja de financiamento, eles passam pela Emater, onde elaboramos o projeto técnico e fornecemos as recomendações necessárias. Portanto, estamos aguardando essas políticas para poder repassá-las aos agricultores. Recebemos muitas ligações, mas pedimos paciência, pois ainda não temos nada definitivo,” constata.

Como estão os agricultores

A maior preocupação da Emater agora é com o bem-estar social dos agricultores que sofreram perdas. “Visitamos algumas localidades afetadas pelos deslizamentos. Conversei com os agricultores e percebi um sentimento de desânimo generalizado devido à situação, após anos de trabalho perdidos. Existe uma preocupação real com a motivação para recomeçar, pois a situação é bastante preocupante,” alerta.

Além de realizar o levantamento das perdas, a Emater tem se dedicado intensamente à área social. “Estamos concentrando nossos esforços no apoio às pessoas resgatadas, tanto na parte técnica quanto na emocional. Atualmente, o que mais tem demandado nossa atenção é justamente o diálogo com os agricultores, ouvindo suas preocupações e oferecendo orientações. Sabemos que muitos estão desanimados, mas é uma situação inicial. É importante destacar que não encorajamos ninguém a retornar a propriedades onde haja risco de desmoronamento. Estamos constantemente buscando alternativas para que as pessoas possam permanecer no campo da maneira mais segura, rentável e socialmente benéfica possível”, destaca.

A importância de Políticas Públicas

Para planejar o futuro, Didoné reitera a necessidade urgente de políticas públicas em todas as esferas para reconstruir o que foi perdido. “Atualmente, nosso foco principal é o trabalho social de escutar essas pessoas e oferecer apoio integral. É crucial implementar políticas públicas de acolhimento, iniciativas que já estão sendo coordenadas pela prefeitura, por organizações privadas como a FSG, e institutos envolvidos. Em segundo lugar, precisamos de políticas públicas de infraestrutura, como estradas, água e eletricidade. Nada é mais importante agora do que permitir que os agricultores voltem para casa, muitos dos quais também cuidam de animais,” afirma.

Inicialmente, Didoné entende que é necessário que os três poderes criem políticas para que os moradores possam voltar para suas casas, e após isso, haja toda a reconstrução do que foi atingido. “Acredito que, após termos as estradas, os laudos das terras e o abastecimento de água e luz, a necessidade é refazer a infraestrutura da propriedade. Refazer o vinhedo, o pomar, a estrutura da casa, do galpão. Então, na verdade, é um recurso subsidiário, é isso que precisamos hoje”, reitera.

E nos casos mais graves, onde houve a perda de toda a terra cultivável, também há a possibilidade de reaproveitar outras partes da terra, já que não houve nenhum caso de perda total. “Nos locais onde houve deslizamentos severos e não restou mais terra cultivável, geralmente sobrou alguma parte da propriedade. É viável explorar outras culturas nesses espaços. Estudar novos tipos de cultivo, porque não foi toda a propriedade que foi devastada, apenas uma parte dela. Não tivemos nenhum caso em que toda a propriedade foi completamente destruída,” conclui.

A EMATER divide-se em duas empresas, sendo a de assistência ao agricultor e a terra, e a de fiscalização de produtos rurais