Quando algo é muito grande, o medo se manifesta. Ouso dizer que, ao menos, inicialmente, não se apresenta amigavelmente para tomar uma xícara de chá conosco, mas aproxima-se para perturbar o sono daquilo que, até então, mantinha-se adormecido nas ilhas do esquecimento. Diante do que nos gera desconforto, paralisamos ou mesmo sentimos uma impetuosa ânsia de fugir. Fazemos de conta que não acontece; tentamos viver como se a realidade não tivesse que mudar; fingimos que estamos dando conta, porque não queremos nos pensar impotentes… sabe, aquela velha mania de quem não se deve deixar abalar. Até que essa “coisa” colossal que emerge e que não se sabe ao certo nomear – já que abrir a porta do medo, com todas as suas correntes e cadeados, requer um trabalho árduo e constante – mostra que é preciso modificar padrões, interromper ciclos que geram sofrimento, reorganizar estruturas, alterar a ordem das casualidades, encerrar longas temporadas que estancam a vitalidade; limpar os porões empoeirados do conformismo; tudo para abrir-se à possibilidade da inovação; para acolher a grandeza da transformação e conceder à originalidade das circunstâncias. É a chegada de um tempo em que se torna necessário desenvolver mesmo frente às inseguranças e incertezas da novidade.

É natural que o cansaço decorrente do tamanho esforço para fazer diferente também se aproxime das tentativas de caminhar. Frente às inúmeras vias que podemos escolher para seguir, chega a passar uma brisa leve de vontade… de perder-se por inteiro ou correr para bem longe. Há o risco de nos boicotarmos praticamente o tempo todo. Mesmo o sofrimento gera uma zona de estabilidade, pois tratamos daquilo que nos é conhecido e que, inevitavelmente, nos conforma. O maior desafio sempre está em abandonarmos aquilo que nos é trivial. Mas também é em razão destas mesmas dores que percorrem o corpo e a mente que, com bastante esforço, passamos a visualizar instrumentos que nos apontam para a importância de movimentarmo-nos com um passo de cada vez, na garantia de podermos seguir de acordo com o tempo que dispomos. É como uma autorização para realizarmos o melhor dentro das possibilidades que temos, sendo aquilo que podemos ser diante da novidade diária de sermos. Uma coisa é certa: quando reconhecemos a necessidade de mudar e, mais além, nos dispomos a custear com todos os contratempos, aquela “coisa” que era grande e, por esta mesma razão, assustadora, fica tão mais sublime que o medo de ser tragado pela profundeza daquilo que transforma se esvaece junto com o que, há tanto, nos aprisionava. É como uma gaiola que se abre para o pássaro num convite para visitar a imensidão do céu azul. É chegado o tempo de mudança para as boas-vindas ao recomeço. E tudo pode ser aprendido de forma deliciosa quando descobrimos qual o sabor que tem a vida, na sua interação complexa entre as sensações de gosto, aroma e química.

Fonte: Franciele Sassi