O Pe. Ernesto Manica, que já nos deixou, mas que será sempre inesquecível na história religiosa, política e social de Bento, foi meu professor de História. Era complicado quando ele ministrava aula sobre os reis Persas. Como é que vamos lembrar de tudo isso Padre? Era o questionamento geral. E ele, quase parado, quase dormindo, cabeça para o alto, ênfase na voz rouca, dizia: simples, muito simples e escreveu em letras garrafais bem grandes, no quadro negro: CICADAXEDA. Lembrem dessa palavra e tudo se tornara fácil. E ele explicava: os reis Persas foram, pela ordem: CIro, CAmbisses, XErxes, DArio Primeiro e Dario Segundo. Lembrem do CICADAXEDA, falem um pouco de cada rei e está resolvido. Na prova do ano ele perguntou: “quem foram os Persas pela ordem e fale alguma coisa sobre eles”. CICADAXEDA na cabeça, resposta na prova e, dez na nota final. Hoje eu pergunto para minhas netas: quem foram os reis Persas? Não fazem a mínima ideia e eu, CICADAXEDA nelas. Muitas vezes aqui na empresa eu aplico o CICADAXEDA para ensinar a memorizar. Me lembrei disso porque associei Tacchini e UPA e surgiu o TACCHIUPA, é o binômio sobre o qual repousa a sempre problemática questão de saúde em Bento.

O Tacchini segue acelerado, novos equipamentos, concreto subindo e a UPA inaugura hoje com novas perspectivas. Esta semana dei uma espiada por lá e vi a sala de espera de atendimento lotadíssima, as pessoas sentadas quietinhas. No Pronto Socorro do Tacchini, há questão de semana, familiar meu “hospedou-se” na sala de espera. Chegou às 21h e foi atendido meia noite e quinze, tempo entre a espera na recepção e a espera pelo médico lá dentro. Nesse tempo chegaram em torno de oito crianças (tem coisa mais triste do que ver uma criança doente?), umas gripadas outras com dores. Uma das crianças, uma menina hiperativa, chegou com uma bola de plástico. E começou a chutar a bola pra cá, pra lá, escalou, em determinado momento, o pai de goleiro, quando a bola entrava debaixo das cadeiras ela não dava a volta, pulava por cima, um terror. Logo pensei: essa criança a mãe trouxe para tomar uma injeção de tranquilizante, talvez fosse a mãe que estivesse doente. Mas o que eu queria dizer era que o Tacchini tem uma escala de prioridade no atendimento, “nada urgente”, “urgente”, “muito urgente”, coisa assim. Não tenho nada contra, acho até que tem que ser assim. Agora o que eu não concordo é que eu pague mil e trezentos reais por mês de Tacchimed e tenha que suportar três horas e quinze minutos por atendimento de familiar. Quem paga o Tacchimed não deveria ter nada a ver com urgência ou não urgência, o atendimento deveria ser imediato. Já tive, tempos atrás, que aguardar, por quatro horas, pelo atendimento no corredor, etapa seguinte a sala de espera. E aí eu vi inúmeras pessoas ligando para familiares no celular (deveria ser proibido) reclamando da demora, criticando o Tacchimed, como constatei também o atendimento de médico irradiando certa antipatia, outro mau humorado, outro demorado (estresse?), o que contrapõe aos princípios do exercício da medicina. Liguei para a Direção do Tacchini e sugeri que colocasse um ouvidor/ observador, para que, pelo menos a “logística”, fosse melhorada. Onde quero chegar? Na qualidade e na presteza do atendimento, circunstâncias que têm que caminhar paralelo à grandeza do Hospital.

Nas despedidas de Armando Piletti, em um belo pronunciamento, o Padre Chico disse que ” Armando cuidava com zelo, dedicação e cordialidade, com raro exemplo, o Santuário que é o Hospital Tacchini”. Também entendo que o Tacchini seja o nosso Santuário da Saúde, somos abençoados pela sua presença entre nós, no entanto, o Tacchini tem que entender que, diante da doença, a tolerância se reduz a zero, há nervosismo, apreensão, angustia, e que, quem paga o Tacchimed tem que ter atendimento diferenciado, caso contrário, “porque o Tacchimed se agora teremos o SUS”? Quantos horrores se falou sobre a qualidade de atendimento do então PA 24 horas (agora UPA)? Vivemos, a partir de hoje, uma nova dimensão da UPA, fruto do empenho de dois gestores municipais.

Vamos ficar na expectativa de que o atendimento seja rápido, de qualidade, de tal forma que não frustre a expectativa da população. Que gente não morra mais cedo por falta de dinheiro para fazer os exames complementares requisitados pelos médicos. Que não se marque exames para daqui a seis, oito meses, condicionando a terem o agravamento das doenças. Que todos sejam iguais perante a necessidade de atendimento médico e hospitalar. Que o binômio TACCHIUPA se fortaleça em seus conceitos de atendimento. Que tenhamos em Bento um avanço significativo na saúde, situação deprimente no país inteiro, que os gestores do interesse público tenham sempre em mente que o homem com saúde está apto a enfrentar um leão mas, uma pessoa fragilizada pela falta de saúde, precisa de amparo, carinho, compreensão, acesso aos avanços da medicina. Ninguém merece morrer mais cedo por falta de dinheiro para cuidar de sua saúde. Parabéns a todos os que propiciaram o surgimento de uma nova UPA.