Com sintomas como sangue na urina, doença pode ser evitada através de um estilo de vida saudável, evitando o hábito de fumar e a exposição a agentes químicos nocivos
O câncer de bexiga é o décimo tipo de câncer mais comum no mundo, afetando as células do órgão do sistema urinário. A maior ocorrência é o carcinoma urotelial, responsável por mais de 90% dos casos. Este tipo geralmente se apresenta como um tumor superficial, permanecendo na mucosa e submucosa da bexiga. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), foram registrados 11.370 novos casos de câncer de bexiga no Brasil em 2022.
Ele é mais comum em homens e se manifesta por meio de sinais como sangue na urina, dor e necessidade frequente de urinar , embora esses sintomas não sejam exclusivos do câncer. O diagnóstico é confirmado por exames de urina, imagem e, às vezes, biópsia.
Esse câncer é o quarto mais comum entre homens e o oitavo entre mulheres. Idade e etnia também são fatores de risco, com maior incidência em pessoas brancas e idosas. Outros fatores incluem tabagismo, responsável por mais de 50% dos casos, uso abusivo de analgésicos como fenacetina, medicamentos com ciclofosfamida e exposição a compostos químicos presentes em tintas, borrachas e equipamentos elétricos. Embora nem todas as causas do câncer de bexiga sejam conhecidas, evitar substâncias presentes em cigarros e tintas pode ajudar na prevenção.
O tratamento do câncer de bexiga pode incluir cirurgia, radioterapia, quimioterapia e imunoterapia. A escolha do método depende do estágio e da extensão do câncer, além das características individuais do paciente. Em alguns casos, é necessário remover parte ou toda a bexiga, utilizando técnicas avançadas como a cirurgia robótica, que oferece uma recuperação mais rápida e menor risco.
“Foi um tratamento dolorido, mas deu resultado”
Iriete Martins, aposentada de 62 anos, começou a perceber problemas urinários em meados de abril e logo procurou atendimento médico. “Fiz uma série de tratamentos, chegando até o cateterismo na bexiga (procedimento que retira a urina da bexiga por meio de uma sonda). Sentia muitas dores e desenvolvi quadros infecciosos por diversas vezes nesse período. Nesse circuito de tratamentos e investigações, um dos médicos solicitou uma ressonância pélvica e descobriu o tumor na bexiga”, conta.
Depois do diagnóstico, Iriete iniciou o tratamento quimioterápico, resultando na regressão do tumor. A aposentada está ansiosa para finalizar mais uma etapa do tratamento e voltar a trabalhar. “Quando recebemos o diagnóstico, ficamos preocupados, especialmente até entender qual era o estágio da doença, o tamanho do tumor e saber como ele responderia aos tratamentos. Na próxima semana, farei as avalições para seguir com a radioterapia, mas tudo está progredindo bem. Quando estiver mais forte, quero começar a voltar a trabalhar aos poucos, fazendo limpezas em casas de família”, expõe.
Foto: Bárbara Salvatti
Iriete mora apenas com o filho em Bento Gonçalves. Como seus familiares vivem em Nova Prata e seu diagnóstico ocorreu na mesma época das enchentes e deslizamentos que assolaram a região, ela não pôde encontrá-los pessoalmente desde então. “Nos falamos com muita frequência e todos me deram e dão muito apoio. Neste fim de semana será a primeira vez que nos reencontraremos depois do diagnóstico”, comemora.
A paciente buscou auxílio na Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves, onde recebeu o acolhimento que precisa. “Encontrei uma acolhida fantástica e recebi muito auxílio das voluntárias, inclusive com questões de acesso à medicação. Durante o processo, acho que fui muito forte, foi um tratamento dolorido mas deu resultado. Sempre fui muito atenta às questões de saúde, visitando os médicos e fazendo as consultas de rotina, e acredito que isso tenha colaborado. Acho que é fundamental que as pessoas mantenham em dia seus check-ups anuais”, conclui.
O motorista de caminhão Gilberto Colferai, 52 anos, passou por algo parecido. Em um exame de rotina, apareceram sinais de sangue em sua urina. Foi então que seu médico resolveu investigar melhor seu caso, detectanto um carcinoma de grau baixo em sua bexiga. “Foi um susto, porque tinha acabado de perder minha mãe, que teve um câncer de pâncreas. Mas minha família, esposa e filhos, deu bastante suporte. O tratamento é longo, mas está dando bons resultados. Minhas expectativas para o futuro são as melhores possíveis e espero que tudo termine logo”, comenta.
Colferai também traz um alerta para a população em geral. “Que as pessoas procurem fazer exames médicos para que se tiverem algum problema, poderem inicar o tratamento correto o quanto antes. No meu caso, descobri cedo, ainda com o grau de gravidade baixo, então o prognóstico é positivo”, finaliza.
A relação com o tabagismo
O tabagismo afeta a saúde da bexiga de várias maneiras. Primeiramente, os produtos químicos presentes no tabaco são filtrados pelos rins e excretados na urina, o que irrita a mucosa da bexiga. Isso pode causar inflamação crônica e danos aos tecidos da bexiga. Além disso, esses elementos carcinogênicos aumentam o risco de mutações genéticas que podem levar ao câncer de bexiga.
Tanto os fumantes ativos quanto os ex-fumantes apresentam um risco de câncer de bexiga, até quatro vezes maior em comparação aos não fumantes. No entanto, pesquisas demonstraram que o risco diminui gradualmente após a cessação do tabagismo.
O urologista André Mancini comenta sobre a relação entre o tabagismo e a doença. “Estudos demonstraram que o risco de câncer de bexiga diminui gradualmente após a interrupção do tabagismo. No entanto, leva até 20 anos para que a redução do risco retorne aos níveis de uma pessoa que nunca fumou. Portanto, parar de fumar é uma medida crucial para diminuir o risco de desenvolver câncer de bexiga, independentemente do status atual como fumante ou ex-fumante”, destaca.
Além do tabagismo, outros fatores de risco para o câncer de bexiga incluem irritação crônica por cálculos, cateter vesical permanente, infecção urinária ou crônica, exposição a produtos químicos industriais como arsênico e substâncias presentes em tintas, corantes e plásticos.
Segundo Mancini, para reduzir o risco de câncer de bexiga, é importante evitar a exposição a produtos químicos nocivos no ambiente de trabalho, beber bastante água para diluir a urina e reduzir a concentração de substâncias irritantes, manter uma dieta saudável e equilibrada, praticar atividade física regularmente e realizar exames médicos de rotina para detecção precoce e tratamento, quando necessário.
Independentemente dos sintomas, sempre é indicada a visita periódica ao médico para fazer um check-up, a fim de evitar possíveis complicações e doenças.