Falar em leitura, em tempos de Feira, é mais que obrigação: é prazer.
Especialmente se o livro nos remete a lembranças antigas de um tempo cuja leitura era tudo. Não se tinha iPhone, iPod, iPad… só “ai, ai, que solidão!”. E é aí que entravam os livros, as revistas, as fotonovelas… Histórias que preenchiam o tempo, que era imenso…

Pois hoje vou contar algumas daquelas historinhas que tanto fascinaram minha infância. Uma das primeiras que li, falava de um rei muito mau que explorava o povo de todas as maneiras. Até que um sujeito muito bom (que depois se tornaria ele próprio o rei) descobriu o manto da invisibilidade. E, assim protegido, passou a espetar o ditador com um alfinete. Louco com as contínuas alfinetadas no bumbum, o monarca fugiu, e aquele reino passou a ser governado então pelo “alfinetador”, um cara justo e sábio.

Outra que continua viva na minha memória RAN tinha a ver com a ingenuidade de um índio que fora incumbido de levar uma dúzia de maçãs para um amigo de certo fazendeiro. E junto ia uma carta. Pelo caminho, o índio comeu uma das frutas. Ao entregar a cesta, o presenteado reclamou com o transportador pelo fato de faltar uma maçã. Diante da perplexidade do índio, o outro lhe explicou que a carta lhe contara. Uma semana depois, a tarefa foi novamente passada ao índio que, durante a viagem, sentiu fome e resolveu novamente comer algumas frutas. Mas, prevenido, ele antes sentou sobre a carta, para que ela não visse e assim não o dedurasse. Embora o final da história fosse óbvio, uma ideia foi plantada na cabeça do índio… e do leitor: o analfabeto está sempre ferrado.

O tempo foi passando lentamente… Certo dia caiu em minhas mãos, o romance “Iracema”, de José de Alencar. Sem conhecer o contexto em que foi escrito e sem entender o subtexto, vi na “virgem dos lábios de mel” meu sonho de consumo. Ela, com “os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira”, com “o sorriso mais doce que o favo da jati”, era tudo de bom. Quem não gostaria de ser a bela Iracema que acordava com “o hálito recendendo a baunilha”?
Depois de tanto romantismo, o realismo machadiano veio a calhar. A ambiguidade de Capitu, com seus “olhos de ressaca”, me atiçou a curiosidade. A mim e a meio mundo, provocando discussões e fofocas literárias ainda hoje. Afinal, a dissimulada traiu ou não traiu o marido casmurro? Diante de tanta polêmica, Machado de Assis deve estar rindo até hoje, feliz por não ter revelado a verdade.

Mas o que é a verdade? A minha verdade é igual a sua verdade? Bom, só lendo “A verdade de cada um”, de Zíbia Gasparetto, para saber. Mas se você não gosta do gênero, há outras verdades, como “A verdade que ela não diz”, ou “Fala a Verdade”, “Quase de Verdade”, “Verdades que falam ao coração”, “A Verdade Verdadeira”, “A Verdade sobre a Traição Masculina”, “Semente da Verdade”, “Silvino, o Sapo, Aprende a Falar a Verdade…”
Tanta verdade embaralhou minha cabeça. Acho que vou optar pela fantasia, que, na verdade, é uma verdade inventada… Socorrrrrrrrrro, Feira do Livro!