Segundo relato de pais e especialistas, as famílias e portadores da alteração genética ainda sofrem “olhares tortos”

O dia 21 de março, alusivo a trissomia do 21, é conhecido mundialmente como data de debate sobre Síndrome de Down, quanto aos cuidados dos portadores e combate ao preconceito. De acordo com pais e especialistas que atendem a este público em Bento Gonçalves ainda há discriminação por parte da sociedade.

Para a fonoaudióloga que atua na Associação Integrada ao Desenvolvimento do Down (AIDD), Andreize Mortari, “ainda existe preconceito. Já foi pior, embora hoje tem muito”. A profissional revela que “as mães de fora olham, tem medo de pegar, de chegar. Elas encaram a situação como um tabu. Algumas ainda dizem“coitada, tem um bebê down”.

Com o intuito de dar suporte as 23 famílias atendidas pela AIDD, Andreize conta que são realizadas rodas de conversas com familiares. “Não é fácil para ninguém quando recebe esse diagnóstico porque a gente sempre idealiza um filho, dito como perfeito. As famílias devem buscar apoio com as outras. Tem que investir, estimular porque é gratificante. Cada pequena conquista dos pequenos, é uma grande vitória para os pais”, ressalta.

A fonoaudióloga relata que a unidade trabalha com crianças, adolescentes e adultos com síndrome de down, no período de contra-turno escolar com atendimentos especializados, com pedagoga, psicopedagoga, psicomotricista e assistente social. “Nosso objetivo é a inserção da criança, do jovem na sociedade. Todas as nossas crianças estão inclusas em escolas regulares, para que desde o início haja esta adaptação”, pontua Andreize.

Sobre o desenvolvimento das crianças, ela observa um atraso cognitivo. “Alguns processos são mais demorados, como no falar, no caminhar, na retirada da fralda. É necessário se trabalhar com mais estímulos nessas áreas. A criança down bem trabalhada pode desenvolver muito bem”, ressalta.

Socialização

Caroline tem muitos sonhos, o maior deles é ser modelo. Foto: Lorenzo Franchi

Com o intuito de inserir os portadores da síndrome na sociedade, a Associação realiza atividades de passeios, piqueniques, noites do pijama e idas ao cinema. Uma das beneficiadas com as iniciativas é Caroline Soranzo, 14 anos. A adolescente revela que “adora sair para passear porque assim posso fazer muitas fotos”, brincou ela.

Questionada sobre o seu circulo de amizades e idas à escola, Caroline não esconde, “prefiro ter poucos amigos”. Conforme relatos dela, quando mais nova “recebia muitos olhares (tortos) das pessoas”, emendando com “deve ser porque eu sou bonita”, disse ela.

Bem espontânea, a jovem ainda revelou seus sonhos. Quer seguir os passos da irmã Cinara, técnica de enfermagem. “Gosto de ajudar elas (na AIDD). Tenho muitos sonhos, quero ser professora, técnica de enfermagem, fonoaudióloga, cantora e modelo capa de revista, é claro”, afirmou Caroline.
Sobre preconceito, a menina que demonstra aptidões para cantar, brincar, desfilar e posar para fotos, diz “não dou bola. Eu só dou risada”, disse.

A mãe que também é vice -presidente da Associação Integrada ao Desenvolvimento do Down, Onivia Soranzo, que também tem outros dois filhos (apenas a menina como portadora) afirma: “cuidar da Caroline é como tratar de qualquer outra adolescente. Eu até esqueço que ela tem Síndrome de Down. Ela vai para a escola de manhã, tem a rotina dela, os cuidados, as brincadeiras dela”, pontua Onivia.

Ela ainda reforça, “não tenho problema nenhum, ela não tem nenhum problema. Ela é normal”, enfatiza.

AIDD, como ajudar:

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Agência: 0130
Conta: 061762090-5
Endereço: rua Avaí, 276, Bairro: Humaitá.
Contatos: (54) 3125.0891/  99630.0280