Teve uma época em que eu guardava num bolsinho secreto uma onça pintada, que só usaria no caso de algum marginal me assaltar e ficar doidão por não encontrar nada de valor.

Nos dias de hoje, nem o lobo guará é capaz de livrar a vítima de um tiro, até porque são os celulares que estão na mira. Além de renderem um bom dinheiro, dão acesso a outros golpes.

Menos o meu, que nem Pix tem. Só não estou completamente vulnerável aos humores dos bandidos porque eles focam a atenção nos jovens, que normalmente carregam iPhones mais modernos.

         Mas há um tipo de roubo homeopático que acontece à luz do dia, onde a amabilidade pode ser a arma. Ou um par de olhos suplicantes, um ar cansado, uma história comovente, tudo real, diga-se de passagem. Trata-se de gente cooptada para vender de um jeito malicioso, geralmente sem nenhuma responsabilidade no ato desonesto.

Num sábado, fui vítima três vezes. Primeiro, comprei rosas de um cara que me garantiu que elas durariam uma semana, se colocadas na água. Obviamente coloquei. À noite, o ramalhete se curvou perdendo folhas e pétalas.

Depois, me deparei com outro ambulante cheio de entusiasmo e rodeado de badulaques, nada que prestasse, a não ser os panos de prato devidamente agrupados em kits, que exibiam uma largura interessante. Resolvi unir a boa ação ao benefício próprio. Em casa, constatei a malandragem. Só o de cima era grande. Os outros, paninhos miseráveis, quase transparentes, que viraram umas tripinhas depois de molhados.  

Naquele mesmo dia, comprei, em estabelecimento local, com cupom fiscal e tudo, uma embalagem com três espigas de milho, ficando à mostra as duas das pontas. A do meio, estrategicamente oculta pelos dizeres do invólucro, revelou-se em casa. Era uma espiga que não vingara, inconsistente, um sabugo com meia dúzia de grãozinhos tísicos.

Na verdade, somos engambelados a toda hora, ou pela safadeza ou pela ganância, ou por ambas. Às vezes a mesquinhez está presente no quilo do peixe com trezentos gramas de gelo, outras vezes, na segunda camada dos moranguinhos, ou na base do pote dos tomatinhos cereja, no pastel de vento, no balde de mel com açúcar embaixo e lá vai… até na estratégia de marketing. Em lanche famoso da hora, o hambúrguer de picanha é feito sem picanha e o de costela, sem costela. Mas está tudo bem “claro” nas letrinhas miúdas.