O título podia ser outro. Podia ser “a maior tragédia ambiental do Brasil”, mas essa crônica não tem a intenção de falar sobre o desastre. Isso, eu pretendo que seja esquecido. O título desse texto não podia ser outro. O nosso hino. Que remete às qualidades de um povo ainda que diante dessa guerra cruel e desumana. Mesmo quando somos fracos, somos fortes, mostrando a nossa coragem, brio e disposição para superar nossos obstáculos e alcançar ideais. Por isso, queremos que fique nosso exemplo aos demais.

Ainda, épocas atrás, desejávamos um estado separatista, não por egoísmo, mas, ao invés disso, por altruísmo. Não pela desvalorização do outro, mas pela união do nosso povo ao enfrentar adversidades. Na prática, por situações econômicas e políticas. Por pensarmos diferente de acordo com nossas necessidades, por doarmos nossas tributações à nação e não termos de volta o amparo necessário como nesse cenário atual.

Aos cristãos, na Bíblia, já estava escrito que “Deus ensina pelo sofrimento” e, assim, crescemos na fé. Na infeliz tragédia desoladora, vemos o poder, a união e solidariedade do povo gaúcho. Foram dias de trabalho e cansaço extremo, embora a dor não tivesse sido diretamente a nossa. Foi do nosso povo. Um dos nossos está sofrendo. Em seus quadriciclos, jipes, 4×4, a pé, pelas mãos que montam um sanduíche ou pelas que separam roupas, pelos lábios dos que oram, pelos voluntários que resgataram a colo, o povo mostra-se benevolente. Ninguém larga a mão de ninguém.

Enquanto no Brasil o “pão e circo” correm soltos, nós elegemos nossas prioridades. A vida humana. Independente de haver ou não helicópteros, com poucos mantimentos, sem auxílio de governo federal. Pão e circo, que foi uma forma de política no Império Romano, hoje é uma metáfora para se referir a medidas governamentais cujo objetivo é distrair a população dos reais problemas sociais. Claro que esse movimento ocorreu em Roma antes de Cristo e pouco tem relação com causas atuais, não é?

Também, nada coincidente a tragédia ocorrer em 01° de maio, justo no dia do povo que já é trabalhador por natureza. Coincidência pouca se pensarmos que em 1941, nessa mesma data, ocorreu o que era, até então, a maior enchente do estado. São as águas (infinitas) de maio. Infinitas porque o que choveu em 4 dias equivale ao que poderia chover em meio ano, 800 milímetros, aproximadamente.

Que as chuvas cessem. Que as pessoas que sobreviveram possam reerguer, aos poucos, o lar, principalmente dentro delas. Que bastemos de bater recordes. Que nossas façanhas sirvam de modelo a todos. Que mais do que baixar as águas, as pessoas possam secar as lágrimas por dentro e começar tudo de novo. Renascer. Porque enquanto a palavra “luto” designa estado de perda significativa, para nós, aqui do Sul, luto é verbo e não deixaremos ninguém pra trás.