“Por volta dos meus 50 anos, no início da menopausa, comecei a sentir muitas dores simultâneas em vários pontos quando fazia pressão com os dedos. Mesmo sem saber o que era, não comentava com os médicos, pois não sou de reclamar. Até que, um dia, li sobre a síndrome da fibromialgia e percebi que tinha os sintomas. Somente a partir daí procurei tratamento.”
Esse depoimento da Lucia Maria Enout Mendonça, de 66 anos, é semelhante ao de várias brasileiras. Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), entre as pessoas que apresentam esse quadro de saúde, de cada dez pacientes sete a nove são mulheres, em geral na faixa de 30 a 50 anos. Homens e crianças também visitam o consultório por esse motivo, mas em minoria.
Não por acaso, este tema foi sugerido ao Portal Vital pela leitora Catarina Maria de Vasconcelos Purgly, de 56 anos, que gostaria de saber mais sobre a doença. “A fibromialgia apareceu na minha vida há sete anos. Destes, quatro foram de absoluta falta de informação. São dores horríveis que limitam os meus movimentos e me impedem de exercer tarefas simples, como varrer a casa. Dói até quando seguro um copo de água. Além disso, a síndrome afeta meu sono e só durmo com a ajuda de medicamentos”, conta.
Por isso, fique atenta ao que diz nosso especialista:
O que é?
A causa da fibromialgia ainda é desconhecida, mas a principal teoria está ligada a um distúrbio neuroquímico cerebral que provoca desconforto em diferentes locais do corpo, principalmente na musculatura. Na prática, quem sofre dessa síndrome é mais suscetível à dor e, em contrapartida, o seu organismo não tem a capacidade de controlá-la como uma pessoa sem esse diagnóstico.
“Por isso, sentir o incômodo somente ao pressionar as regiões é uma particularidade da Lucia Maria. Muitos pacientes têm crises em locais difusos – com dores migratórias – e de diferentes intensidades entre os pontos. Elas são associadas à fadiga, à sonolência durante o dia e à insônia, a alterações do hábito intestinal, a incômodos para urinar e a outros males, como desconfortos na região da cabeça, a sensação de edema nas mãos, além do ato de ranger os dentes”, explica o médico Daniel Brito de Araújo, reumatologista do Complexo Hospitalar Professor Edmundo Vasconcelos.
Como identificar?
Apesar de todos esses e outros sinais do organismo, a avaliação precisa só é feita por um reumatologista. Para isso, ele realiza um exame clínico que tem o objetivo de excluir enfermidades de sintomas similares, como o hipotireoidismo, a artrite, o diabetes, quadros de ansiedade e depressão. No caso dos idosos, também é necessário descartar as suspeitas de polimialgia reumática, que provoca incômodo nos ombros e quadris.
Em complemento, uma análise do histórico clínico indica a relação com outras patologias e fatores que influenciam no aparecimento da fibromialgia, como doenças reumáticas, a falta de práticas esportivas, eventuais predisposições genéticas e, novamente, a ansiedade.
Por tamanha complexidade de fatores e combinações, não há um exame que identifique precisamente a patologia. Atualmente, um método chamado termografia é apontado por alguns profissionais como uma alternativa para o diagnóstico. “Porém, não existem comprovações científicas de sua eficácia, além de a SBR não indicar o procedimento”, afirma Daniel.
Tratamento multimodal
Esse é o nome dado pelos médicos ao conjunto de cuidados indicado, que combina três principais frentes. A primeira delas é o uso de medicamentos específicos. “Como a doença configura um distúrbio neuroquímico cerebral, podem ser receitados antidepressivos, anticonvulsivantes e ansiolíticos (diminuidores de ansiedade). A prescrição é dada a alguns pacientes juntamente com relaxantes musculares e, no caso dos que têm problemas para dormir, com indutores de sono”, diz o reumatologista.
Além dos remédios, o médico explica que técnicas homeopáticas podem fazer com que o paciente sinta-se melhor – ainda que não existam estudos que comprovem a sua eficácia em casos dessa natureza. No caso de Lucia Maria, o alívio foi evidente e fundamental no seu tratamento. “Durante algum tempo, fiz hidromassagem e acupuntura, que me ajudaram bastante. Em contrapartida, o pilates e o shiatsu acentuaram as dores e acabei parando”, conclui.
A terceira frente é a prática de exercícios físicos leves e regulares, como caminhadas e alongamentos, além de psicoterapia nos casos de alteração emocional ou de quadros depressivos. Uma rotina mais regrada também ajuda: estabeleça, por exemplo, horários fixos para acordar e dormir.
Isso é importante para diminuir a sensação de fadiga, um dos sintomas citados pelo reumatologista Daniel, e, consequentemente, reduzir os incômodos provocados pela fibromialgia – o que, na prática, significa recuperar a qualidade de vida no dia a dia.
Fonte: portalvital.com