No comando da pasta que coordena programas e projetos para modernizar a cidade nos âmbitos industrial, comercial e de serviços, gestor aponta investimentos e políticas públicas a médio e longo prazo que estão sendo realizadas em Bento Gonçalves

Pouco mais de duas décadas foram suficientes para que a população bento-gonçalvense saísse dos seus 80 para 120 mil habitantes. Resultado de investimentos nos setores do turismo, agricultura e na indústria que ampliaram horizontes e que motivaram pessoas a virem para cá em busca de melhor qualidade de vida. Mesmo com essa força, a crise econômica que afetou o país não deixou Bento de fora. Nos últimos anos, o número de desempregados aumentou e empresas fecharam as suas portas. Apenas no segundo semestre de 2017 a economia deu sinais tímidos de recuperação. Durante entrevista exclusiva ao Semanário, o responsável pela pasta, Silvio Bertolini Pasin, falou sobre os problemas estruturais e econômicos que o município enfrenta e defende maior integração entre os setores público e privado para o desenvolvimento do município.

Por ser uma cidade com espírito empreendedor, Pasin acredita que Bento deve se adaptar às novas tendências para atrair novos investimentos voltados à coletividade. Ele afirma que a abertura de novos empreendimentos sem agregar valor e apresentar novas ideias não gera resultados. “O que se procura quando vamos buscar alguma empresa para instalar-se aqui em Bento é que ela não seja apenas mais uma a vir para cá, mas que ela venha agregar para que esse mercado melhore, pela qualidade ou por uma atividade totalmente diferente”, ressalta.

Demissões e novas empresas

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Se por um lado, a crise econômica afetou a cidade que aos poucos se recupera, por outro, a criação de novas empresas no primeiro semestre é destacada pelo secretário: 800 novos estabelecimentos comerciais. No entanto, mesmo com expressivo número, o Cadastro Nacional de Empregados e Desempregados (Caged) apontou que nos últimos dois meses as demissões ficaram acima das novas contratações. Pasin diz que os números do Caged devem ser analisados separadamente, pois, segundo ele, o surgimento de novas empresas são migrações desses desligamentos. “Toda vez que olharmos os números e vermos esse aumento de demissões é porque micro e pequenas empresas foram criadas, em virtude da capacidade de empreendimento diferenciado. Quem é demitido vai buscar alternativas”, garante.

Segundo ele, parte dos dados faz referência às contratações para a safra de uva, datas comemorativas do comércio, como o dia das mães e dos namorados. “Sempre há uma contratação maior nesse período. Se formos olhar, sempre nessa época teremos uma constatação de baixas. É cíclico”, pondera.

Mesmo com o surgimento de novas empresas, o quadro demissionário deixa uma fatia da sociedade desamparada, principalmente quando se fala em mão de obra jovem, sem perspectivas futuras, ocasionando um sério problema para quem administra a cidade. Questionado sobre a absorção deste trabalho, Pasin diz que a área da tecnologia de informação (T.I.) é um dos campos que mais absorve o trabalho. Ele destaca os projetos que estão sendo desenvolvidos para estimular a permanência do jovem na cidade. Entre eles, uma parceria com o Centro da Indústria e Comércio (CIC) e Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), que auxiliam na formatação de uma startup que deve sair do papel até o final do ano. “Temos que cuidar isso: o que a nossa academia está formando hoje e criar espaços para que esses jovens possam se colocar no mercado. Um lugar público, de fácil acesso e que ele (o empreendedor), não precise gastar para chegar nesse local”, garante.

Outro ponto que Pasin destaca, quanto à capacidade de absorção da mão de obra é na possível instalação de uma escola de gastronomia da Universidade de Caxias do Sul (UCS) na cidade. Segundo ele, a atividade estimularia a permanência do jovem também no interior e fomentaria o turismo, criando novos empreendimentos familiares e, consequentemente, novas vagas de emprego. “Se o jovem cursar Gastronomia, abrir sua casa no interior para oferecer esse serviço ao turista, nós podemos aproveitar bem esse empreendedor”, afirma.

Geração de emprego no Turismo

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Considerado um dos setores que mais cresce no Brasil, além de estar entre os principais geradores de empregos e representar cerca de 10% do Produto Interno Bruto Nacional (PIB), o turismo custa a oferecer novas oportunidades na Capital do Vinho. Mas isso não pode ser apenas um efeito da crise, afinal, muitos dos espaços são conduzidos pela própria família, sendo um limitador para novas contratações. Exemplo disso, segundo o secretário do Desenvolvimento Econômico é o Vale dos Vinhedos. Embora haja empreendimentos pelo local, o seio familiar ainda é muito forte. Ele salienta que novos empregos poderão ser gerados quando houver mais competitividade em hotéis e outras possibilidades que, segundo ele, já estão sendo analisadas, porém, sem data para execução. “É difícil você prever um prazo para que o plano estratégico seja colocado em prática. Ele está sendo estudado”, afirma.

Conforme Pasin, é necessário analisar o que o turista vem buscar em Bento Gonçalves. Ele aponta a peculiaridade rural como um dos motivos pela vinda à Bento Gonçalves. Para o secretário, é necessário um estudo detalhado para que a zona rural não seja transformada com empreendimentos imobiliários, chácaras, modificando a identidade do local e fazendo com que os turistas não busquem mais os atrativos. “Precisamos ter cuidado com as políticas para essa preservação e criar condições no entorno para atrair mais pessoas. O nosso interior é para moradia ou para desenvolvimento do turismo autossustentável?”, questiona.

Sobre a necessidade de criar um fluxo turístico na área urbana de Bento, Silvio Pasin é enfático ao dizer que hoje não há um atrativo forte que faça com que as pessoas se dirijam ao Centro da cidade. Ele destaca a Via Del Vino, mas acredita que sejam estudadas alternativas para fomentar essa região. Segundo Pasin, o foco na área central é voltado ao comércio e, por isso, é necessário um trabalho complexo para encontrar pontos que estimulem a vinda deste público para cá, desde o que pode ser oferecido, bem como, onde as pessoas poderão ir. “Por exemplo, no final de semana, domingo, e os turistas não vão encontrar nenhum restaurante aberto pela área. Como solucionar isso? São mudanças que precisam ser analisadas pelo comércio”, justifica. Ele fala ainda sobre a dificuldade do estacionamento de ônibus que transportam essas pessoas e critica a imprudência de motoristas que não respeitam os locais pré-estabelecidos para tal finalidade. “Como eu vou levar um ônibus de turistas ao Centro? Constantemente, o Departamento Municipal de Trânsito (DMT) precisa estar autuando motoristas que estacionam seus carros em locais que são destinados ao desembarque de ônibus turísticos. Nós temos que entender que além de uma cidade industrial, nós somos um local turístico e isso precisa de regramentos”, ressalta.

De acordo com Pasin, há um projeto de Parceria Pública-Privada (PPP), que prevê a revitalização da Praça Centenário, com a ideia de criar um espaço público, interligando o bairro Cidade Alta ao Centro, como forma de estímulo do turismo na área urbana da cidade. “Hoje, o comércio é o forte do Centro de Bento. Então, precisamos trabalhar em cima desse aspecto para criar atrativos que fomentem a visitação do turista para essa região da cidade”, diz.

Incremento no Comércio

Se o forte na área central de Bento Gonçalves é o comércio, Pasin acredita empreendedores precisam estar atentos às novas tecnologias, principalmente à área eletrônica, forte campo de vendas que começa a ganhar força na Capital do Vinho. Ele afirma que as pessoas, em especial os jovens, buscam agilidade e, ao mesmo tempo, participar das escolhas. “O público quer vivenciar, mesmo que seja rápido. Ele precisa integrar o processo. Se ele não fizer parte, ele não gosta”, afirma.

Shoppings em Bento

Indagado sobre o conceito de shopping implantado em Bento Gonçalves, Pasin acredita que o formato existente na cidade se deu em virtude da dificuldade de encontrar espaços maiores para a construção de estruturas que abriguem um prédio em posição horizontal, como é a maioria desses centros. Ele exemplifica que em grandes cidades, os shoppings foram implantados longe das áreas centrais, por causa da mobilidade urbana. Perguntado se haveria um local ideal para a construção de um empreendimento maior, com características dos grandes centros, Pasin diz que Bento teria essa condição, porém, acredita que essa talvez não seja a vocação da cidade. “Precisaríamos pensar mais para o outro lado, no sentido de Faria Lemos, São Valentim, essa região. Mas aí esbarramos na questão da área rural, que é o grande atrativo turístico nosso. Talvez Bento não comporte um grande shopping e sim, esse formato que temos hoje”, pondera.

Para Pasin, lojas diferenciadas das existentes no comércio de rua poderiam ser atrativos para impulsionar a movimentação dos shoppings. “Talvez seja uma questão de concepção, mas pelo que vejo, os existentes daqui estão começando a se preocupar com essas tendências e com o mix de lojas”, afirma.

Vinda de novos empreendimentos

A vocação empreendedora é uma das fortes características de Bento Gonçalves. No entanto, a ausência de grandes espaços é um dos obstáculos que muitas vezes prejudica a vinda de novas empresas para a cidade. Segundo Pasin, há um grande número de áreas, porém, são consideradas pequenas, o que impossibilita a instalação de novos empreendimentos. Por ser uma cidade turística, a venda de produtos coloniais nas rodovias poderia ser uma forma de aumentar a movimentação e, consequentemente, fomentar o turismo. Questionado sobre a realização de um estudo para tal finalidade, ele diz que a ideia poderia ser colocada em prática apenas em alguns pontos, devido a falta de espaço físico e estradas estreitas, o que impediria a execução desses projetos. “A nossa topografia não ajuda muito. Se formos analisar, poderíamos fazer essas vendas na entrada de Bento, ao lado da Pipa, na outra saída, em direção à Veranópolis. Os outros locais, nós ficaríamos restritos no espaço”, afirma.

Avaliação do trabalho na Secretaria

A frente da pasta desde 2015, Pasin ressalta os avanços e conquistas que, segundo ele, ajudaram a facilitar a vida do empresário bento-gonçalvense e influenciaram a vida da comunidade e de quem procura por bens e serviços. Ele cita exemplos como a desburocratização para a criação de empresas que eliminou mais de 60 processos, reduzindo o número de documentos exigidos para a formalização dos empreendimentos. “Saímos de uma média de 68 dias para abrir uma empresa de baixo risco e conseguimos cria-la em 24 horas”, destaca. Outro ponto que Pasin fala é a questão das PPPs, onde a cidade foi a pioneira em todo o Rio Grande do Sul, a adotar esse tipo de processo. “Conseguimos ter uma aproximação com o meio econômico e deixamos e ser apenas uma secretaria que distribuía brita ou fazia favores. Hoje, nós participamos de todos os projetos da área”, garante. “Não estamos pensando em planos só desse governo, senão não estaríamos realizando as PPPs. A comunidade merece alguma coisa melhor e se isso acontecer mais a frente é a cidade que vai estar bem”, acredita.

Pasin afirma ainda que a grande maioria dos trabalhos planejados visam criar ambientes que propiciem um crescimento a médio e longo prazo e ressalta que a comunidade precisa estar preparada para a modernidade. “Nós temos que entender que estamos em uma cidade que está entre as épocas da caverna e a contemporânea. Para sermos uma cidade cosmopolita, não é só tamanho, mas como você enxerga as coisas”, explica. “A política futura só vai progredir se ela pensar no coletivo. O pensar para o meu partido, o meu grupo, não vinga mais, tem prazo de validade”, pondera.

O secretário acredita ainda que a modernidade precisa vir para a área pública. Mesmo com um excesso de zelo nas leis criadas e que possam prejudicar o andamento das coisas, Pasin defende o rigor imposto pelas legislações, e explica que muitos deles foram criados em virtude de maus comportamentos das pessoas. “Estamos em uma cultura onde praticamos pequenos delitos todos os dias, como, por exemplo, atravessar uma sinaleira com o sinal fechado para o pedestre. Talvez, esses pequenos erros nos levem a interpretar que podemos fazer as coisas de qualquer jeito. Por essa característica, você é obrigado a fazer leis que tranquem e que acabam burocratizando os processos. A lei deveria ser prática”, explica.

Eventos em Bento

Ao longo do tempo, Bento Gonçalves firmou a sua marca em receber grandes eventos. Destaque para a Fenavinho, ExpoBento, Fimma, Movelsul, entre outros. Pasin acredita que hoje, a principal feira multissetorial do Brasil realiza um trabalho excepcional para a cidade, pois, estimula a vinda do público de fora, e aumenta o retorno financeiro para quem expõe seus produtos. Indagado sobre o que poderia ser melhorado, ele acredita que questões mais modernas, como atividades profissionais e expositores voltados ao público jovem sejam uma alternativa. “A feira pode ter um viés educativo também. Mas ela é muito bem formatada, por isso é um sucesso”, garante.

Quando o assunto é Fenavinho, Pasin não esconde e ressalta o seu saudosismo pela festa que teve a sua última edição em 2011. Conforme o secretário, o evento projetou Bento Gonçalves para o mundo. “Ficamos conhecidos como a cidade do vinho”, lembra. Ele diz ainda que se outros eventos de grande porta existem, a Fenavinho tem grande participação. “Ela é a mãe de todas as feiras de Bento. Ela ainda é muito viva no coração da comunidade”, acredita.

Sobre as mudanças que devem ser realizadas para que uma nova edição seja programada, Silvio Pasin garante que é preciso olhar para a questão financeira, afinal, dívidas foram adquiridas na última edição e deve-se buscar a melhor maneira para operacionalizá-la novamente. “Esse é o caminho que precisamos alcançar. Acredito que a Fenavinho apenas adormeceu. Talvez, num primeiro momento não pensemos num evento gigante como ela era. É preciso realizar um trabalho de base”, finaliza.