O suicídio é um fenômeno que acompanha a humanidade desde os tempos mais remotos. É um tema complexo e, por esta mesma razão, de difícil manejo. As ciências têm se debruçado de forma transdisciplinar na tentativa de compreender as razões intrínsecas à autodestrutividade humana. Observa-se que a tendência suicida tem aumentado nos últimos cinquenta anos, no mundo inteiro. Atinge a sociedade como um todo, sendo considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um problema de saúde pública, sem distinção de raça, cor, crença, classe social. Além disso, traz um paradoxo que envolve a escolha de morrer versus o medo social da finitude.

O suicídio afeta profundamente os familiares, amigos, conhecidos e demais pessoas que apresentavam algum tipo de vínculo com a pessoa que morreu. Trata-se de um caso especial de perda, um tipo de luto não-reconhecido, dentre outras razões, por ser mal compreendido pelo senso comum e superficialmente discutido pela sociedade, podendo acarretar em fator de risco para os sobreviventes, uma vez que o suicídio acaba sendo resguardado a um fato isolado, muitas vezes mantido em segredo pelos familiares, o que acaba reforçando o estigma social já instaurado.

Os sobreviventes de um suicídio estão envolvidos em um processo de luto peculiar e, por esta mesma razão, é importante que sejam amparados de forma sistêmica, abrangendo todos os membros familiares que se mostrarem disponíveis para a busca de uma produção de sentido para a perda. Afinal, o luto pelo suicídio trata de sentimentos como saudade, raiva, angústia, culpa, medo, vergonha, e está submerso em questionamentos sobre o que poderia ter sido feito: “e se…” e na busca por respostas: “por que”. A terapia do luto, por sua vez, é um recurso eficaz para os enlutados, de modo a construir novos significados para o suicídio do ente querido e para a própria vida dos sobreviventes. Até porque querer matar-se não significa necessariamente querer morrer, mas muitas vezes este ato acaba sendo visto pela pessoa que está desesperada como a única alternativa para amenizar ou fugir do sofrimento insuportável.

É possível encontrar caminhos outros para a resolução de conflitos que não o suicídio. Buscar ajuda com familiares, amigos ou pessoas de confiança, entre eles profissionais especializados nesta abordagem e preparados para falarem sobre o assunto é uma possibilidade que oportuniza a continuidade da vida. A importância de falar sobre suicídio e buscar formas de preveni-lo está em também promover qualidade de vida e bem-estar a todos. Falar sobre o assunto, portanto, constitui uma forma de compreendê-lo e combatê-lo, e deve ser feito de forma intensa e constante, pois ainda existem muitos mitos e inverdades acerca das tentativas e efetivações de morte. Do mesmo modo, o luto pelo suicídio deve ser um objeto de preocupação e cuidado para os sobreviventes, familiares, amigos, enfim, toda a sociedade que, consequentemente sofre influências importantes a partir do fenômeno e de sua repercussão.

Franciele Sassi – Psicóloga Especialista em Teoria, Pesquisa e Intervenção em Luto e Perdas